sábado, 16 de abril de 2011

APRECIAÇÃO CRÍTICA SOBRE AS VIRTUDES SEXUAIS


Temos vindo a falar das virtudes morais no campo sexual (modéstia, castidade, virgindade e celibato). Por isso, é importante percebermos que a verdadeira integração afectiva cristã da personalidade só poderá realizar-se, de facto, por meio do amor e no amor de Deus. Nesse processo, o ágape é o motor mais profundo e essencial da vida afectiva; é o complemento necessário para uma visão integral do homem, do ágape e só dele recebem valor salvífico a afectividade, a virtude, todo o amor natural e legítimo.

Os valores morais são importantes na vida de cada um pois nos ajudam a formar a nossa vida. Através destes valores desvelamos a necessidade de mantermos um equilíbrio sexual na relação com os outros.

Quem escolhe a doação total e livre de si mesmo através do celibato ou da castidade e ainda por meio da virgindade, confessa publicamente a confiança que tem em encontrar em Deus a plena satisfação do seu desejo de amor; afirma com a vida que considera mais preciosas as promessas evangélicas e que acredita nelas; demonstra, por si mesmo, que a vida eterna é uma realidade já iniciada na nossa vida terrena. Assim, estas virtudes deveriam escolher-se voluntariamente e viver-se com gosto, como um contínuo desfazer do próprio corpo no amor por Deus . Devem ser expressão ou manifestação orgânica do amor, do laço íntimo, da intimidade específica entre o virgem e Deus.

Cristo ensina-nos através da sua vida célibe o sentido da fé: esta deve exprimir-se através de uma livre atitude de escolha da castidade, na vida obscura e dolorosa, no vazio mesmo; através de uma escolha que se concretize e que é testemunho da fé na realização da própria vida através dessa vida que é Deus mesmo, vida que nos vem da morte, da transcendência de Cristo e daqueles que Ele ama neste mundo.

No domínio do campo sexual é-nos exigido fazer escolhas e renúncias. Todavia, recordemos que não renunciamos o nosso ser físico, a não ser àqueles meios pelos quais este se exprime ou se realiza e que estão em desacordo com o sentido escolhido; renunciamos ao gozo estático da intimidade física, ao prazer sexual, a todos os gestos simbólicos da união sexual, quer seja na sua relação completa, quer seja ao prazer sexual.

Recordemos, além disso, que se renunciamos à expressão sexual, não renunciamos à sexualidade, à manifestação do belíssimo dom da masculinidade e feminilidade, na sua total complexidade. Portanto, não renunciamos à delicadeza, à gentileza, à sensibilidade, ao calor humano, à ternura (...) no seu contexto próprio e sentido adequado; são estes meios particulares que devem ser usados para incarnar o coração delicado de Cristo; precisam, porém, de não ser ambíguos, mas claros e apropriados.

Por meio destas virtudes pomos os nossos desejos de atenção e interesse, por parte de outro sexo, a satisfação de algumas necessidades como a segurança, a dependência, o exibicionismo, o jogo e a afirmação pessoal, pomos tudo isso no coração de Cristo. Por isso mesmo entregamos-lhe o desejo que temos de pertencer àquela íntima comunidade em que todos se amam uns aos outros, a família. Naturalmente isto implica também o propósito e vontade de renunciar ao gosto de ver o amor pessoal concretizado nos filhos “carne da minha carne e alma da minha alma”. Os consagrados não renunciam totalmente à amizade mas dever sujeitá-la a uma severa vigilância interior, ao seu amor indiviso.

Renunciando o casamento e a um companheiro ou companheira, bem como aos filhos, oferecemos a Cristo o desejo de continuarmos a existir através da nossa descendência. O que também tem que ver com o desejo de vermos os nossos planos pessoais de vida continuar e desenvolver-se nele. Sem renunciarmos à imaginação e à criatividade, abandonamos todos estes meios particulares e preciosos, que a exprimem. Renunciamos também ao companheiro ou companheira fiel, único, todo para nós, a uma esposa ou esposo com quem poderíamos dialogar sempre intimamente acerca dos planos de vida, que se preocupa connosco numa relação de amor único, que nos ajuda a purificar os nossos valores e os nossos planos, mesmo no campo sexual, que tem connosco atenções e pensamentos, que não tem com mais ninguém. Assim, a decisão de viver por amor de Cristo dá à nossa vida um sentido especial. Por isso mesmo, a todos os níveis, não apenas à carne como também a um sem-fim de aspirações naturais depositadas na nossa alma e no nosso espírito; ou seja, renunciamos à possibilidade de obter e querer aquele paraíso terrestre da natureza, que é o “amor louco” entre homem e mulher.

Para terminar esta breve apreciação não deixaríamos de denotar que o sexo, como abertura para o outro, permite-nos, sobretudo, compensar em parte, a nossa imperfeição existencial, a nossa solidão física e falta de plenitude psíquica de que a sexualidade nos torna conscientes. Ora, nós renunciamos a este tipo de satisfação. Muita gente pensa que a virtude da castidade tem um certo carácter puramente negativo, que resulta de um não. Pelo contrário, fique bem claro que a castidade, o celibato e a virgindade são, no fundo, um sim do qual resultam bastantes nãos. Além disso, conforme já foi referido acima, um tipo de comportamento sexual consiste na abstenção de um contacto genital e único é psicologicamente normal e livremente escolhido, sempre que proceda da consistência ou unidade da pessoa, se é escolhido por razões válidas e se respeita o maior bem da pessoa.

Lembremos ainda que estas virtudes, de um ponto de vista positivo, constituem uma escolha, uma selecção de valores entre muitos; selecção de valores que achamos superiores ou primários entre vários, incluindo o exercício da sexualidade ou as relações sociais íntimas; selecção do amor indiviso por Cristo e de entrega a Ele, à sua pessoa «embora seja fora do comum» . E, este amor à abertura é assaz para todos os homens.



CONCLUSÃO

A virtude exige a «personalização do potencial de inclinações e tendências de que são dotados os seres humanos, e não o destrói; protege-os dos processos de massificação e de indeterminação, e não anula seus dinamismos» ; a virtude se nutre de fidelidade, gratuidade, solidariedade e participação; ela supõe relação com todo o bem e compreende a convergência para ele de toda a pessoa.

Como temos vindo a analisar, a pessoa pura vive uma atitude de reverente respeito ao Criador, a si mesmo e às outras criaturas. O que significa que respeita o sexo, a sua profundidade, o sentido sublime que ele tem, na ordem divina, como expressão do dom de si mesmo ao outro ser, como dom do amor unificante de Deus.

A pessoa consagrada, sempre sem sede do sexo e satisfeita, antes de mais pela Palavra de Deus, converte-se, com Cristo, em sinal vivo da eficácia desta Palavra, do carácter redentor da morte e do sacrifício, da oração constante e louvores a Deus, que faz por nós grandes coisas. E, deste modo, estas virtudes vistas sob olhar da fé abrem-nos ao serviço de Cristo, da Palavra e do Evangelho (cf. Mt 10,29). Este amor indiviso manifestado concretamente na missão apostólica, não é meramente utilitarista: não é para trabalhar mais que fazemos o voto da castidade; fazemo-lo para vivermos, antes de mais, uma vida de total dependência da fé, em amor, para podermos ser sinal visível da fé, da adesão ao Senhor, que se manifesta num eterno projecto, numa forma interior de vida e numa missão apostólica.

O celibato comporta renúncias: ao amor humano, à paternidade ou maternidade, a um certo tipo de relação humana, a uma certa ternura, a certas alegrias.

As implicações profundas: solidão mesmo que esta pessoa ser, em parte, compensada pela fraternidade e pela vida comunitária.

Comporta dificuldades, crises, tentações de todos os tipos, especialmente em nosso mundo exibicionista e super-erotizado.

A castidade entre várias virtudes põe diante de nós e diante do mundo um sinal vivo e constante da dimensão da consagração. Por seu turno, a virgindade afirma que a consagração a Deus deve resultar de uma escolha divina. Viver casto é saber dominar os valores humanos e vivê-los, dominar a nossa condição sexual, o sentimentalismo ou o seu atractivo, e dominá-lo por um bem mais excelente.

Estas virtudes activam a energia espiritual e natural do homem na busca da única coisa necessária, isto é, a união com Deus no amor por Ele e pelas criaturas. De uma integração hierarquicamente ordenada dos níveis psicológicos da pessoa num “amor louco”, radical, a outro ser humano pode nascer também a mais alta perfeição.



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