terça-feira, 26 de abril de 2011

BREVE APRECIAÇÃO DA VIDA E PENSAMENTO DE MARTIN HEIDEGGER
Martin Heidegger é um dos pensadores cujo pensamento e seu enquadramento nas diversas correntes da filosofia continua ainda hoje bastante controverso. É notável a grande densidade e dificuldade para interpretação do seu pensar e quiçás por isso não são menos os pensadores que concluem que o seu pensamento é tão inútil considerando-o, inclusive, como “puro palavreado vão e sem sentido” (CORDON, J.; MARTINEZ, T. 1994: 133) desconsiderando deste modo qualquer tentativa de engrandecer o filósofo germânico; também existem os que, embora reconhecendo dificuldades imensas para uma correcta interpretação da sua filosofia, acham-no um grande filósofo cuja obra magistral “Ser e Tempo”  é comparável a “Fenomenologia do Espírito” de Hegel e “Assim Falava Zaratustra” de Nietzsche, fazendo parte das grandes obras da Filosofia Contemporânea. Todavia, apesar dessas opiniões inconciliáveis entre os pensadores, é inegável para qualquer pensador sério que o pensamento de Heidegger coloca em profunda reflexão a metafísica como esquecimento de ser e faz uma análise filosófica profunda do homem, o único existente por excelência para Heidegger.
Aliás, falando da existência este conceito é muito usado pelo próprio Heidegger. Em obras do «último Heidegger» e especialmente na “Carta sobre o Humanismo” o nosso filófoso nega que seja qualificado como “existencialista”. De facto, guiando-se pelas suas palavras pode-se concordar com ele como se dissipasse mal-entendidos que as obras anteriores causam pela obscuridade da linguagem. Nisso pode até ganhar alguma razão!  Porém, considerando isoladamente, por exemplo, a sua obra “Ser e Tempo”, revela o “existencialismo” do seu escritor que entende a existência como “um viver para a morte” e a morte, por sua vez, como “o esgotar de todas as possibilidades do homem” entre outros exemplos que podemos citar.
Sem querer menosprezar as razões dos que defendem Heidegger como não-existencialista, parecem-nos contudo mais sensatas as razões dos que defendem o contrário. Heidegger é existencialista! Assim como outros grandes movimentos da Filosofia têm defeitos, o existencialismo também os tem. O de Heidegger em particular não obstante privilegiar o homem dentre todos os seres desconsidera a religiosidade do homem enquanto Ser que se sente criado como afirmam os teístas. Ignora o criacionaismo. O nosso filósofo embora não se afirme religioso (nem ateu) em momento algum defende o in-humano, a barbárie, mas sim é um humanista ainda que se contrarie deliberadamente aos humanismos precedentes desde a Antiga Roma (in Carta sobre o Humanismo)...
Critique-se em Heidegger o seu tácito apoio a Hitler o responsável pela segunda Guerra Mundial e mais barbaridades; critique-se em Heidegger o seu grande silêncio quanto ao extermínio de Judeus e que não se aproveitou das várias oportunidades que teve para quebrar de uma vez os ataques feitos contra a sua pessoa; critique-se em Heidegger o seu discurso da tomada de posse do Reitorado, a sua adesão ao nazismo e a defesa do nacional-socialismo com erros característicos aos partidos totalitários.
Discuta-se o que for discutível e negue-se o que é digno se severa crítica tanto em suas atitudes tomadas quanto ao que oferece o seu pensamento filosófico. A verdade manda dizer que as várias críticas, ataques ou desacordos feitos contra a pessoa de Heidegger são demasiado agressivos dependendo da fúria, da vontade ou com a mais sincera objectividade!!
É imperdoável o erro de identificar o pensamento de Heidegger com o nazismo, assemelhar as ideias de “Mein Kampf” de Adolf  Hitler com as de “Sein und Zeit” de Heidegger, ou pior ainda, concluir que a adesão inicial de Heidegger ao nazismo (1933) seja um acto filosófico. Nenhuma das obras posteriores a essa adesão, inclusive “Ser e Tempo”, defendem essa política nem qualquer outra pois são meramente apolíticas, razão pela qual a empresa heideggeriana é deveras independente da sua opção política que qualquer ser humano é livre de o fazer.  Aliás nem os “filonazistas” – do que temos conhecimento até então – foram capazes de identificar uma só marca nas obras heideggerianas que defenda a política nazi. Portanto, descartamos qualquer opinião que insita em identificar a opção política de Heidegger e o seu pensamento como filósofo.
E para concluirmos, apesar de muita coisa ainda se poder dizer da filosofia de Heidegger e do drama da existência mais especificante, nada melhor que concordar com o introdutor da Carta sobre o Humanismo ao referir que o pensamento de Heidegger é “ainda por pensar”.  Para mais, o próprio Heidegger escreve uma das suas famosas obras:
«Todo pensador está sempre conversando com seus predecessores e talvez mais ainda e de modo velado com seus sucessores » (HEIDEGGER, M. 1959: 98).
E porque não se esgota o denso e profundo penar de Heidegger em tão poucas páginas que elaboramos e concordamos que o seu pensamento é esse ainda por pensar há ainda muita coisa por dizer e que se dirá com investigações ulteriores.

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