terça-feira, 26 de abril de 2011

A BUSCA DA FELICIDADE E DO SENTIDO DA EXISTÊNCIA HUMANA EM S. AGOSTINHO

De facto, porque fomos lançados para este mundo, como que ao acaso e sem orientação, ou por Deus, ou pela natureza, ou pela necessidade ou a nossa vontade, e ou pela confluência de algumas ou de todas estas causas (…), quantos saberiam para que local se dirigir ou por onde regressar, a não se que, um dia, alguma tempestade considerada pelos ignorantes como algo de adverso, contra a nossa vontade e resistência, nos impelisse violentamente, viajantes, ignorantes e errantes, para a mais desejada terra”, (AGOSTINHO, S., Op. Cit. p. 21). Estas palavras evidenciam claramente o drama do sentido da existência humana, assim como despertam no homem as questões existenciais tais como: quem sou, onde vou, de onde venho e qual é a razão da vida humana? Se nenhum homem pediu a sua existência neste mundo, porque o mundo se torna um local de conflitos, de insegurança total, de lutas constantes, de uma verdadeira batalha que nos repele? Em geral, não nos dá a verdadeira felicidade livre de toda e qualquer preocupação. Será que cometemos alguma dívida que temos que pagar com as nossas vidas, ou será que conduzimos a nossa existência para um sentido não favorável à vida e a felicidade e nos enganamos com a aparente felicidade no caminho dos vícios e dos prazeres, das concupiscências onde o fim é a perdição, desilusão, tristeza e angústia.

O homem está lançado num mundo o qual desconhece completamente. Por isso, torna-se indispensável a verdadeira orientação para o homem conduzir a própria Vida. Ou seja, é necessário conhecer o verdadeiro destino onde se encontra a sua razão de vida e a sua felicidade. A vida humana mal conduzida depara-se facilmente com angústias, tristezas e desilusões e, portanto, há uma razão para que o homem tenha uma instrução capaz de compreender e orientar a própria vida. Pois, “os homens, que por várias maneiras são conduzidos para a região da felicidade devem afastar-se energicamente e evitar com cautela um enorme rochedo que ergue na própria embocadura do porto e causa grandes embaraços ao que nela entram. É que ele brilha de tal forma que está revestido de uma luz tão enganadora que se apresenta como se fosse a própria terra da felicidade, prometendo a satisfação dos desejos», (Idem, p.25). Dai que a sabedoria é uma necessidade para que os homens se previnam a fim de não se enganarem por escalar esta rocha e serem atraídos por falsas luzes que desviam o homem do seu rumo. Ser sábio é saber distinguir as verdadeiras necessidades do corpo e as necessidades da alma, ou, por outra conhecer os alimentos adequados para o corpo e os alimentos adequados para a alma. “Ninguém duvida que os corpos de todos os seres vivos definham sem alimento e a alma não se alimenta de nada a não ser da inteligência das coisas e da ciência” (Idem, p. 35).
S. Agostinho insiste na sabedoria como uma necessidade da alma pois “a nequícia é a mãe de todos os vícios (…) as almas não versadas em nenhuma ciência, nem aprenderam as artes liberais, estão como que em jejum e, por assim dizer, esfomeadas». Sendo assim, «se as almas dos ignorantes estão cheias, temos de distinguir dois géneros de alimentos para elas, como acontece para os corpos, uns saudáveis e úteis, outro doentio e pernicioso” (Idem, pp. 37-39). O desvio do sentido da vida começa quando pela ignorância, o homem se alimenta de vícios e de prazeres desenfreados para a sua alma que são alimentos fúteis e perniciosos.

Olhando para a realidade da nossa sociedade moçambicana, ao nível de analfabetismo, podemos nos questionar quais são os géneros de alimentos que saciam a alma da maioria dos moçambicanos. Quantos moçambicanos têm uma instrução capaz de saber desenvolver a sua vida e gerir os seus poucos bens que tem. Muitos pais não têm o suficiente para por os seus filhos a estudar ou para alimentar as suas famílias, mas são os mesmos pais que conseguem sustentar quatro «catorzinhas», conseguem passar todos fins fim-de-semana embriagados e sempre a mudar de telemóvel. Quantas jovens são enganadas e levadas para o prostíbulo em troca de boas condições de vida. Estas, por mais que acumulem quantidades de bens, não são felizes. Todos estes acontecimentos e outros revelam uma grande ignorância que habita junto da sociedade.

 Muitos homens por falta de instrução não têm onde e como se apoiar nas suas vidas de modo a encontrar caminhos que os leve a felicidade. Mesmo os colonos portugueses tiveram que privar a continuação dos estudos de muitos cidadãos moçambicanos para que estes não pudessem «abrir os olhos». E ainda hoje a falta de instrução destróí a nossa sociedade de varias maneiras. Para S. Agostinho a sabedoria é indispensável para alcançar a felicidade e essa sabedoria só vem de Deus.

Vários filósofos procuraram o sentido da razão humana, mas não ficaram satisfeitos porque um sistema filosófico, por mais concreto que seja, pode resolver algumas situações económicas, políticas e sociais. Porém criam e abrem condições para outros e novos problemas. A busca da felicidade passa inevitavelmente pelo sentido da existência humana. E, hoje, o homem colocou a sua confiança nos bens materiais como solução definitiva dos seus problemas existenciais. Assim, a felicidade ficou associada ao dinheiro, ao poder, as riquezas e ao consumo. E o homem ao procurar o sentido da sua existência nos bens matérias parece alcançar a felicidade. Porém, dá-se conta que perde a sua identidade e torna-se escravo dos seus bens materiais.

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