terça-feira, 26 de abril de 2011

DRAMA GERAL
O homem vive no mundo e pergunta pelo sentido da existência. Vivemos e trabalhamos, suportamos encargos e cuidados, sofremos alegrarmo-nos, suportamos êxitos e fracassos, fazemos esforços e renuncias, vamos envelhecendo e sabemos que no termo esta a morte.
Não sabemos nem como, nem quando, mas estamos persuadidos de que caminhamos para o fim da vida, de que a nossa existência no mundo se encontra sob o signo da morte. Para quê tudo isto? Vale a pena viver? Qual é o sentido do nosso existir?

Esta pergunta surge no nosso tempo com violência renovada. O homem de hoje já
não vive mais aconchegado no seio natural de uma fé religiosa comum, com a sua ordem de valores e a sua doação de sentido a vida humana. O homem dá-se conta de que o mundo moderno da técnica, com todo o seu progresso e bem-estar, não é capaz de emprestar um sentido conveniente.

Sente que este mundo, com todas as suas realizações práticas-técnicas no fundo, não está dominado pelo homem nem resolve os problemas fundamentais humanos, antes ameaça e não consegue responder a questão do homem sobre o sentido.

A vida é uma mira de possibilidades e de circunstâncias, na qual o homem não esta ausente de as sentir. Para tal, o drama acontece na medida em que o homem não consegue realizar os seus desejos ou as suas aspirações. Contudo, o homem deparado com o sofrimento, a miséria e outros danos que lhe apoquentam, este vive o seu drama.

O drama também pode ser entendido como sendo uma degradação ou crise dos valores, que projectados não são realizados, ou que não há espaço para as realizá-las. Nisto, atesta o pensamento de Arsac quando diz que “estamos num mundo em devir, a problemática do sentido da vida é uma matéria crucial”.

Perante situações dramáticas, incompreensíveis e inexplicáveis, o homem mergulhado em desespero existencial procura uma esperança no futuro (segundo S. Agostinho).

Nós achamos que o drama da existência humana no mundo parte da insegurança, como sendo o primeiro problema humano a encarar. O mundo séria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais da melhor forma. Mas como reduzir essa insegurança?

Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Seria um engano, por uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Segurança depende de um processo que chamamos de “validação ou consideração”. Validação significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas nós usamos esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor.
Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O auto-conhecimento, tão decantado por filósofos, não resolve o problema. Ninguém pode auto-validar-se, por definição. Você sempre será um “ninguém”, a não ser que outros o validem como alguém. Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: “Você tem significado para mim”. Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: “Gosto de você pelo que você é”. Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o “ter” e não o “ser”. Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se ou dominar os outros em busca de poder. Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que querem.

O segundo ponto célebre que constatamos do drama da existência humana é o afastamento de Deus, ou o seu esquecimento e negação, constituem “o maior drama da humanidade”. Todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus, continuam a ser o maior drama da humanidade. Perguntamos se será possível vivermos sem bússola, ou seja, sem que ninguém nos direccione? Em Deus é possível viver da esperança (segundo S. Agostinho), mesmo quando todas as esperanças humanas se apagarem, pois Ele é que nos trouxe ao mundo e nos orienta aos nossos afazeres quotidianos. Nisto, atesta também a ideia do Cardeal-Patriarca de Lisboa, que disse: “Qual é o maior drama da humanidade? A guerra, a fome, as doenças, a miséria, a ignorância, o fanatismo, a violência, as catástrofes ambientais, a indiferença pelo sofrimento dos outros? Não. O maior drama da humanidade, segundo o Cardeal é o ateísmo.

Constatamos que o drama da existência humana cá em Moçambique e no mundo em
geral, tem haver com o grau de escolha, onde ninguém não foge a regra das circunstâncias que a vida lhe apresenta. Verifica-se que nós não escolhemos a família que queríamos nascer, o estado de vida que gostaríamos ter, mas as circunstâncias nos obrigam a aceitar o que recebemos.

Ora, podemos abordar o problema da liberdade como válvula de escasses para as crises políticas, económicas e sociais em Moçambique, em perspectiva dos existencialistas (em particular Sartre), é preciso partir do pressuposto de que o “Estado és tu, serás tão bom ou tão mau como tu fores. O bom governo começa em ti”. Cada homem é chamado a ser uma pessoa, isto é, um sujeito livre empenhado a desenvolver as suas capacidades humanas e a melhorar a sua própria nação. Porém, esta liberdade não é um presente consumado, é um projecto cuja acção é determinada, condicionada por estruturas sociais, políticas e económicas. É nesta estrutura que Moçambique é chamado a ser livre e dono de si, assumir sem reservas o seu futuro e a traçá-lo sem deixar que os outros ocupem o seu lugar de direito, decidam por ele no plano social, político e económico. Se, segundo Sartre “a existência precede a essência” e se quisermos existir temos que construirmos a nossa imagem, essa imagem é valida para todas as épocas, então, o futuro de Moçambique depende precisamente do presente e do passado.

Mas será que a liberdade em Moçambique é mesmo total e completa? De que liberdade podemos falar? Somos livres de afirmar que os moçambicanos alcançaram a liberdade. Se considerarmos como Sartre, que liberdade é liberdade de escolha, de realização de um projecto, o que se observou depois da independência é que os moçambicanos realizavam o projecto de plano ideológico traçado pelo partido no poder. A escolha do futuro de Moçambique era feita pelo partido e não pelo povo moçambicano. Por um lado, Moçambique não era livre de traçar o seu futuro e pelo outro, Moçambique, no silêncio celebrava a sua liberdade, porque segundo Sartre, “a liberdade conscide no seu fundo com o nada que esta no âmago do homem.

Agora, poderíamos perguntar se a democracia em Moçambique confere liberdade e autonomia aos moçambicanos? Somos livre de decidir o nosso plano político, económico e social, sem coação interna e externa? Somos livres de escolher o nosso presidente, ou é por coação que o fizemos? Somos nós que legitimamos o nosso presidente ou as potências externas?

Porém, uma coisa é certa: nenhum milagre, nenhuma graça nós virá do alto, como nunca veio na história do nosso país. Somos nós responsáveis pelo nosso futuro. Devemos lutar com a firmeza e determinação. Abaixa a indiferença e a passividade; viva a luta e os mártires.

Dum modo geral, a liberdade é um direito e um dever de todos. Todos somos livres apesar das dificuldades na demarcação dos contornos e limites que a liberdade moderna nos apresenta. A nossa liberdade é limitada pelo facto de não se poder falar nem agir em certos ambientes da sociedade. Muitos compatriotas, ao manifestar a sua liberdade dizendo a verdade, padeceram sob o jugo de torturas severas e acções barbaras e mereceram a morte. As vezes, que queremos agir mas não podemos porque tememos o elogio e o prémio da morte; porque os malfeitores que, para adormecer a sociedade, se fingem inocentem.

Como se pode ver, para o ensino comum, a liberdade leva sempre a “felicidade”. Todo aquele que está livre está feliz. Mas “é necessário segundo, Sartre e S. Agostinho sublinhar a fórmula “ser livre” não significa obter o que se quer mas sim determinar-se por se mesmo a querer, no sentido lato de escolher em outros termos, o êxito não importa em absoluto a liberdade”.

Mas em gesto final, sob referência ao pensamento de Tomás Merton, num dos seus livros ilustrava este assunto. O maior drama da sociedade moderna é a crise de identidade. As pessoas não sabem quem são. Se perguntarmos aqui cada um “quem você é”? Seguirá uma série de resposta do tipo: “eu sou advogado, médico, professor, mecânico, jardineiro, reitor, formador, seminarista”, etc. As pessoas colocaram o acento no que fazem e não no que são; apontaram a sua posição social, os papeis que executam na família, as suas vocações pela profissão, as suas práticas religiosas, etc. Isto, mostra que se valoriza a produtividade, pauta-se a vida no consumismo. A modernidade está marcada pela cultura do ter mais (dinheiro, casa maior e melhor, carro do ano, etc.) Analisando os factos estamos numa cultura hiper produtiva e hiperactiva. E como resultado desta hiperactividade e hiper produtividade, descobrimo-nos a nós mesmos. Perdemos a capacidade de estar a sós connosco mesmos.

Na medida em que entramos em nós mesmos, descobrimos que afinal somos filhos de Deus “amados”. Esta é a nossa identidade radical. Viemos de Deus e estamos voltados para Deus. Assim, estamos na porta das resoluções de todos os dramas que nos apoquentam

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