terça-feira, 26 de abril de 2011

EXISTENCIALISMO
“Para o estudo da filosofia da existência é imprescindível conhecer a linguagem especial que adoptam os escritores e também o facto de as obras serem de um estilo não tanto comum, pois estão escritas, a quase totalidade, sob a forma de diário, narrativa e teatro” (LUMIA, G., 1964: 9). O problema da linguagem adoptada – afora outras novidades com que se depara no mundo da “filosofia da existência” – que é característica para cada escritor, pode trazer não só dificuldades de interpretação, mas pior ainda, pode fazer com que o leitor caia em más interpretações do que na verdade se queria dizer.

Também o estilo usado pelos existencialistas é muitas vezes obscuro e que não se deixa entender com facilidade, o que até é feito propositadamente pelos próprios escritores que não poucas vezes usam palavras correntes mas trocando-lhes de sentido passando a significar o que os escritores fazem significar. Mesmo a grafia usada para certas palavras, conforme a intenção de como se quer que passem a significar, ela é alterada para corresponder à linguagem pretendida pelo existencialista.

Tanto da filosofia tradicional quanto da filosofia alemã, a filosofia da existência  tende ser considerada separadamente e “não se deve incorrer em risco de aproximar esta daquela filosofia, dado que, em vez de aproximá-la tão somente decapitá-la-ia” ( LUMIA, G., Op. Cit. 10).

Embora na generalidade o existencialismo não trate do homem como Espécie humana, ou seja, do Homem no geral,  trata do homem singular, “este”,  com as suas singularidades: angústias, preocupações, seu destino. Se pode até dizer que o existencialismo trata do concreto, do visível,  das situações que “este” homem passa, “este” sujeito, que não pode fugir de “este” sujeito que ele é.

“Definir o que é o existencialismo não é facílimo porque, em primeiro lugar, tal filosofia nada mais é senão o repúdio das essências” (Ibidem: 10), se reparte em diversas correntes e reveste diferentes formas.  Como escreve Giuseppe Lumia:

“Misticismo religioso e ateísmo declarado, irracionalismo e apelo à razão, nihilismo desesperado e confiança serena nas possibilidades do homem, tudo isto se encontra, e não por mero acaso, na filosofia da existência” (Ibidem: 10).   
Não pode negar que, apesar das diferenças entre as várias correntes do existencialismo, existam semelhanças, “a inspiração comum de que todas partem”: o clima histórico (LUMIA, G., Op. Cit.:11). Esta filosofia é situável entre as duas grandes guerras mundiais e que a inspiram por muito.

“Longe de voltar-se para as essências como era costume com a filosofia tradicional, a filosofia da existência se volta acentuadamente para a própria existência,  aliás o que era ignorado ou esquecido pelos filósofos anteriores cuja atenção era para as essências universais amavelmente tratadas com esmerro pelos metafísicos como pelos positivistas” (LUMIA, G., Op. Cit.:11).

A reviravolta do existencialismo consiste mesmo em dar importância devida à “existência” como nunca tinha sido feito na história do pensamento moderno que se interessava do homem como espécie entre as várais concepções; todavia, o existencialismo  se interessa “daquele existente que é o homem”, “ deste homem que existe de verdade”, “este aqui”, “ este ente que poderia não existir, mas existe” (Ibidem). Esta filosofia jamais menospreza o ser no homem muito bem entendido por estes filósofos.

O homem ocupa o centro das atenções filosóficas do existencialismo, “este homem determinado, que vive “hic et nunc”, com o seu singular destino, com a sua irrepetível  e irreverível mutação finita” (Ibidem: 12). Ainda que grandemente se ocupe deste homem, a “filosofia da existência” não o isola da sociedade, pois o homem é um “ser-no-mundo”, é  um “ser-com-os-outros”, por isso, há necessidade de se dedicar com detalhes esta perspectiva que não escapa aos existencialistas.

“Este termo, ´existencialismo´, é formado a partir da palavra existência. Em filosofia, esta palavra significa , pois, toda a filosofia que coloca no centro da sua reflexão a existência humana na sua dimensão concreta e individual” (Cfr. CLÉMENT, E., 1999: 140).
O existencialismo tem menos a ver com uma doutrina do que com certos temas comuns aos filósofos que é costume agrupar sob esta designação (Nicolas Berdiaeff, Martin Heidegger, Karl Jaspers, Soren Kierkegaard, Gabriel Marcel, Jean Paul Sartre...). Todos estes concedem uma importância privilegiada à subjectividade, à análise concreta do que foi vivido, em oposição aos sistemas filosóficos, que disso se abstraem.
“Atentos à questão do sentido da existência, fazem da angústia um sentimemnto que revela a condição fundamental do Homem. Cada um de nós encontra-se, com efeito, sozinho perante si próprio, ao decidir qual o sentido que vai dar à sua vida; dizem eles. No entanto, é conveniente fazer, a este respeito, uma distinção entre o existencialismo cristão, do qual Kierkegaard é considerado fundador, e o existencialismo de Heidegger ou o existencialismo ateu de Sartre” (Cfr.CLÉMENT,E., Op. Cit.:141).

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