sábado, 30 de abril de 2011

I. VIDA E OBRA DE LORENZO GHIBERTI

Lorenzo di Cione Ghiberti é um Pintor italiano renascentista que nasceu em Florença em1378 e morreu na mesma cidade a 1º de Dezembro de 1455. Era filho de Ser Bonaccorto Ghiberti um artista treinado e o goldsmith, que treinaram seu filho no comércio do ouro. Estudou na oficina florentina do ourives Bartoluccio, nome pelo qual era conhecido Bartoli di Michele e deixou temporariamente Florença para trabalhar em Pesaro, como pintor de Sigismondo Malatesta. Portanto, ele começou sua carreira como pintor, origem que mais tarde evidencia em seus baixos-relevos com planos traçados picturalmente.
Em 1400 foi-lhe encomendada a pintura de murais numa sala do palácio de Pandolfo Malatesta, deslocando-se assim o artista para Pesaro. No ano seguinte (1401), «achava-se em Rimini, decorando afrescos para o palácio dos Malatesta, quando foi animado a entrar no concurso para a segunda porta do baptistério de San Giovanni pertencente ao conjunto da Catedral de Florença, Santa Maria del Fiore»[1].
De facto, foi neste ano que se deu o célebre concurso para as portas da face Norte do Batistério de Florença, e ele regressou a Florença para se candidatar à execução da segunda porta do batistério daquela cidade que completaria a executada em 1338 por Andrea Pisano.   Participaram neste concurso algumas das figuras mais relevantes deste tempo, como Filippo Brunelleschi e Jacopo della Quercia, mas foi Ghiberti que ganhou . O tema em relevo que apurou o finalista foi o Sacrifício de Isaac, conservando-se no Museo del Bargello de Florença os exemplares de Ghiberti e de Brunelleschi. Ghiberti, apesar de ser o mais novo dos concorrentes e de ainda patentear alguma influência gótica, demonstrou já possuir a inspiração clássica (apesar de só visitar a cidade de Roma por volta dos anos 1425/1430) que serviria de rumo ao Renascimento[2] e as qualidades técnicas que lhe granjeariam fama.
Para a sua devida conclusão estas portas em bronze demoraram vinte e um anos (entre 1403 e 1424) e contêm uma iconografia alusiva ao Novo Testamento, inserida em vinte e oito painéis quadrilobados e com as cabeças de quarenta e oito profetas nas molduras. Depois de finalizar estas, encomendaram-lhe outras portas para o mesmo Baptistério pela guilda Arte di Calimala. Por outro lado, foi aceitando outras encomendas, como desenhos para peças de ourivesaria e joalharia, vitrais para a catedral de Florença e mitras de papas, assim como as estátuas monumentais em bronze de S. João Batista (executada entre 1412 e 1415), S. Mateus (de 1419 a 1422) e S. Estêvão (de 1425 a 1429) para igreja das guildas em Orsanmichele.
Entre 1420 e 1427 fez os relevos do Baptismo de Jesus e S. João Batista perante Herodes em bronze da Fonte Baptismal de Siena, entre 1425 e 1427 a placa do túmulo de Leonardo Dati e entre 1432 e 1442 os quatro relevos do relicário de S. Zenóbio, que se encontram ambos na catedral florentina, e o Museo Nazionale alberga outro escrínio com decoração da sua autoria, o dos santos Protus, Jacinto e Nemésio também chamado Urna dei Tre Martiri (encomendado em 1427 por Cosimo di Medici).
As segundas portas do Baptistério efectuadas por Ghiberti entre 1428 e 1452 (e que, pela excelência de execução foram apelidadas de "Portas do Paraíso" por Miguel Ângelo, segundo a tradição) foram esculpidas em dez painéis que, por sua vez, apresentaram temáticas do Antigo Testamento de iconografia talvez inspirada pelo humanista Leonardo Bruni. Mais uma vez se fizeram presentes as cabeças de vinte e quatro profetas, assim como o mesmo número de estatuetas em nichos, numa composição que prima por uma técnica mais evoluída, pelo emprego da perspectiva, por um marcado classicismo e pela complexa narrativa que apresentam.
A importância de Ghiberti cresceu de tal modo que se tornou o maior artista do seu tempo em Florença, possuindo uma oficina que empregou muitos artistas, entre os quais Benozzo Gozzoli, Masolino da Panicale e Donatello, e que foi continuada pelo seu filho Vittorio depois da sua morte a 1º de Dezembro de 1455.
Este artista deixou escrita uma autobiografia, a primeira conhecida de um artista ocidental, inserida num tratado técnico-artístico incompleto em três tomos, denominado Commentarii. Ele acompanhou o princípio do Renascimento na sua cidade nativa como um escultor em bronze, da mesma maneira que Masaccio na arte de pintar e Brunelleschi em arquitectura.

II. A PORTA DO PARAISO
A “Porta do Paraíso” é feita de bronze, com patina dourada como a segunda porta, é composta por cinco baixos-relevos rectangulares em cada um dos dois batentes da porta. Localizada no baptistério de Florença, a “Porta do Paraíso” (1425-1452) é dividida em 10 painéis que representam histórias do Antigo Testamento, com esculturas de personagens bíblicos e retratos de artistas contemporâneos adornando a moldura dos painéis. Nela há uma busca de realidade, de pitoresco, uma técnica de representar o espaço tridimensional e uma execução requintada que superam a da segunda porta e a tornam a obra-prima da arte de Lorenzo Ghiberti. O primeiro baixo-relevo apresenta a criação de Adão e Eva, a desobediência do casal ao Criador e a expulsão do Paraíso. Na “Porta do Paraíso”, os melhores baixos-relevos são os do “Sacrifício de Isac” e do “encontro da rainha de Sabá com o rei Salomão, sobretudo esse último graças a sóbria elegância com que Lorenzo Ghiberti cria uma unidade de visão através da perspectiva linear de ponto de fuga central que enquadra os personagens, arrumados em grupos simétricos, mas sem monotonia, no espaço arquitectural.
O projecto foi entregue a Lorenzo Ghiberti em 1425, pela Corporação dos Mercantes. A perfeição da sua execução, seja pelo admirável uso do buril ou pela finura do desenho arquitectónico, recebeu de Michelangelo o apelido de “Porta do Paraíso”.

III. CONTEXTO ECONÓMICO E POLÍTICO DE FLORENÇA
O século XV, que em italiano se designa quattrocento, foi o século do renascimento florentino. Neste período, Florença «era uma das mais prósperas cidades italianas. Os negociantes e financeiros, apreciadores das belas-artes, criaram à sua volta um ambiente favorável aos artistas»[3].
Entre as famílias que eram mais ricas destacam-se os Médicis, os novos controladores do governo da cidade tornando-se mecenas generosos. Desde modo, sob o seu governo, Florença transformou-se na capital das artes, trabalhando nela inúmeros arquitectos, escultores e pintores famosos.
Portanto, a cidade de Florença reunia, no século XV, condições que favoreceram o desenvolvimento da cultura, uma vez que se tinha tornado um dos activos e prósperos centros comerciais da Itália.
Por outro lado, entre os Estados autónomos italianos estabeleceu-se uma verdadeira rivalidade uma vez que todos pretendiam possuir os bonitos palácios e igrejas, assim como os artistas e os pensadores mais célebres.
Por fim, na Itália abundavam os vestígios da arte grego-romana, que mais tarde viria inspirar muitos artistas. Outrossim, as bibliotecas dos mosteiros conservavam as cópias de muitas obras da antiguidade, estudadas pelos intelectuais com mais aproximação.

IV. FACTORES INFLUENTES DE LORENZO GHIBERTI
Os artistas renascentistas, tal como humanistas, tinham uma profunda paixão pela Antiguidade grego-romana. Desde modo, os arquitectos renascentistas puseram de parte a arquitectura gótica, isto é, bárbara da época medieval e inspiraram-se nas formas da arquitectura clássica, grego-romana, caracterizada pelo equilíbrio e a harmonia das proporções. A ser assim, em muitas vezes, a escultura e a pintura foram, igualmente, buscar inspiração à cultura da Grécia e da Roma antigas. Esta inspiração nos modelos clássicos constitui a característica fundamental da arte renascentista.

V. A FAMA DE LORENZO BHIBRTI
Lorenzo Ghiberti foi um escultor e fundidor em metal italiano que conseguiu impor, sobre as influências góticas, os novos postulados estéticos inspirados no mundo clássico que caracterizariam a arte renascentista do período Quattrocento (1400-1499) e cuja principal obra foi lavrar as monumentais portas de bronze do baptistério de Florença.
Ghiberti é um dos grandes nomes da escultura religiosa italiana do século XV. Pois, «pertence já ao primeiro renascimento (século XV), que a uma aguda expressão do elemento individual e característico no homem e na natureza sabe aliar um alto sentido de beleza»[4] e, «como arquitecto dirigiu a construção da cúpula da catedral de Florença. Seus escritos, conhecidos pelo nome Comentários são importantes para a história da arte»[5]
Ele tornou-se primeiramente famoso quando ganhou a competição 1401 para o primeiro jogo das portas de bronze para Baptistério da catedral em Florença. Brunelleschi estava o corredor acima. A planta original era para que as portas descrevam cenas do Antigo Testamento e a parte experimental era Sacrifício de Isaac. Entretanto, a planta foi mudada para descrever cenas do Novo Testamento.
Ghiberti analisa a obra dos melhores pintores do século XIV por ele conhecidos e a sua própria, comentando as portas do baptistério de Florença. Procura um julgamento crítico baseado em sua consciência de artista, o que torna o primeiro crítico dos tempos modernos. Esta crítica permite-lhe reconhecer lucidamente o mérito de artistas como Giotto.
BIBLIOGRAFIA
DANIS, M. E. et al, História 8, Editorial O Livro, Lisboa, 19976.
Dicionário Enciclopédico das Religiões, Vol. 1, Editora Vozes, Petrópolis, 1995.
Enciclopédia Mirador Internacional, Vol 10, Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda, São Paulo – Rio de Janeiro (Brasil), 1981.
SCHLESINGER, H. et Pe Humberto PORTO, Líderes Religiosos da humanidade, Vol. 1, Edições Paulinas, São Paulo, 1986.


[1] Enciclopédia Mirador Internacional, Vol 10, Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda, São Paulo – Rio de Janeiro (Brasil), 1981, p. 5323.
[2] «Em termos gerais, por definição o Renascimento foi um movimento artístico, científico e literário que floresceu na Europa no período correspondente entre à Baixa Idade Média e o início da Idade Moderna, do século XIII ao XVI, com o berço na Itália e tendo em Florença e Roma como seus dois centros mais importantes. Dentre suas inovações mais importantes está o desenvolvimento da perspectiva com ponto de fuga, usada desde então largamente na arte para criar a ilusão de profundidade e distância, e, cronologicamente, pode ser dividido em quatro períodos: Duocento (1200-1299), Trecento (1300-1399), Quattrocento (1400-1499) e Cinquecento (1500-1599)» (http://www.angelfire.com/art2/roberto/).
[3] Maria E. DANIS et al, História 8, Editorial O Livro, Lisboa, 1997, p. 70.
[4] Hugo SCHLESINGER et Pe Humberto PORTO, Líderes Religiosos da humanidade, Vol. 1, Edições Paulinas, São Paulo, 1986, p. 556.
[5] Dicionário Enciclopédico das Religiões, Vol. 1, Editora Vozes, Petrópolis, 1995, p. 1163.

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