terça-feira, 26 de abril de 2011

METANARRATIVA
Metanarrativa é um termo literário e filosófico que significa simplificadamente a narrativa contida dentro ou além da própria narrativa. É um termo que tomou o centro dos debates ao final do século XX pelo filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998), pois este considerava que se estabeleceria o fim da grandes narrativas. Um exemplo das grandes narrativas presentes nos discursos, segundo Lyotard seriam o iluminismo, o idealismo e o marxismo. O prefixo met(a)- tem sentido de "além de; no meio de, entre; atrás, em seguida, depois".


A visão literária
Na prática textual, uma metanarrativa é todo o discurso que se vira para si mesmo, questionando a forma da produção da narrativa. A técnica de construção de uma metanarrativa obriga o autor a uma preocupação particular com os mecanismos da linguagem e da gramática do texto No texto de Almeida Garrett abaixo, um exemplo de metanarrativa em Viagens na Minha Terra: Essas minhas interessantes viagens hão-de ser uma obra prima, erudita, brilhante, de pensamentos novos, uma coisa digna do século. Preciso de dizer ao leitor, para que ele esteja prevenido; não cuide que são quaisquer dessas rabiscaduras da moda que, com o título de Impressões de Viagem, ou outro que tal, fatigam as imprensas da Europa sem nenhum proveito da ciência e do adiantamento da espécie.(cap. II).
A visão filosófica
Na filosofia e na teoria da cultura, uma metanarrativa assume o sentido de uma grande narrativa, uma narrativa de nível superior capaz de explicar todo o conhecimento existente ou capaz de representar uma verdade absoluta sobre o universo. A Bíblia e o Alcorão são exemplos de metanarrativas universalmente conhecidas. Toda a obra cultural e política vitoriana pode ser considerada uma metanarrativa, tal como Ulysses de James Joyce ou as teorias feministas. É esta crença nas totalidades e na capacidade de uma metanarrativa para congregar todo o conhecimento possível que levou Jean-François a proposição da condição pós-moderna como uma reacção à confiança nesta utopia: “considera-se que o ‘pós-moderno’ é a incredulidade em relação às metanarrativas.
Lyotard
No entender de Lyotard, o declínio das ideologias iluministas e marxistas na sociedade pós-industrial advém, assinala o autor, menos do desenvolvimento do capitalismo do que da ineficácia das mesmas no cenário contemporâneo. Considera o autor que a aspiração de um saber globalizante atrelado a um modelo único de discurso perde sua força frente a conjuntos de fragmentos de histórias variadas e muitas vezes contraditórias sobre um mesmo assunto. Estabelece-se assim a pluralidade de possibilidades de se entender os fenômenos históricos.
Um exemplo de metanarrativa é a filosofia iluminista, que acreditava que a razão e seus produtos - o progresso científico e a tecnologia - levariam o homem à felicidade, emancipando a humanidade dos dogmas, mitos e superstições dos povos primitivos. O marxismo é outro exemplo de metanarrativa. Para os marxistas, a história era impulsionada pelo confronto entre duas classes contraditórias, a burguesia e o proletariado, que resultaria, ao fim da revolução do proletariado, numa sociedade sem classes, de plena liberdade e igualdade: o comunismo.
Bibliografia
  • David Harvey: Condição Pós-Moderna (6ª ed., São Paulo, 1996)
  • Linda Hutcheon: Narcissistic Narrative (1985)
  • P. Waugh: Metafiction: The Theory and Practice of Self-Conscious Fiction (1984)
  • Lyotard. A Condição Pós-Moderna, 2ª ed., trad. de Bragança de Miranda, Gradiva, Lisboa, * 1989.
  • Referências

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·         O fim das metanarrativas

·         José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
·         O filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998) definiu o pós-moderno como "a incredulidade em relação às metanarrativas" (em sua obra A condição pós-moderna). Com isso, ele queria dizer que a experiência da pós-modernidade decorreria da perda de nossas crenças em visões totalizantes da história, que prescreviam regras de conduta política e ética para toda a humanidade.

·         Falsos consensos universais

·         Um exemplo de metanarrativa é a filosofia iluminista, que acreditava que a razão e seus produtos - o progresso científico e a tecnologia - levariam o homem à felicidade, emancipando a humanidade dos dogmas, mitos e superstições dos povos primitivos.

O marxismo é outro exemplo de metanarrativa. Para os marxistas, a história era impulsionada pelo confronto entre duas classes contraditórias, a burguesia e o proletariado, que resultaria, ao fim da revolução do proletariado, numa sociedade sem classes, de plena liberdade e igualdade: o comunismo.

A história, porém, mostrou que, na prática, tais teorias não funcionaram conforme o previsto. Ao mesmo tempo em que a razão e a ciência melhoraram as condições de vida das pessoas, promovendo a cura para as doenças e a alfabetização em larga escala, também deram ao homem o poder de produzir armas de destruição em massa, como a bomba atômica lançada em Hiroshima em 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial, além de provocar mudanças climáticas causadas pela poluição nas grandes cidades, e que hoje ameaçam a sobrevivência da espécie humana.

O marxismo, por sua vez, quando confrontado com a realidade, ao invés do prometido "paraíso na terra", trouxe regimes totalitários para países como Rússia, China e Cuba, cujo povo sofreu - em alguns casos, sofre até hoje - com restrições às liberdades civis e violações dos direitos humanos (que não são exclusivas de países comunistas, como demonstra a história recente dos EUA e mesmo do Brasil).

O saber pós-moderno
·         Se as grandes narrativas que mobilizaram a humanidade foram abandonadas, surge, entre outros problemas, o de como justificar o saber na sociedade contemporânea. Por "saber", Lyotard entende um conjunto de conhecimentos que autoriza a determinada pessoa (cientista, juiz, filósofo, artista, etc.) emitir juízos de verdade, moral e estética, isto é, dizer que isto é certo ou errado, bom ou mal, feio ou bonito.

A questão é que não há mais um acordo em comum sobre esses valores. Ou, nas palavras do filósofo francês, não há mais uma metanarrativa que torne os discursos aceitos por todas as culturas. Para a civilização ocidental, fundada em ideais como a democracia, a liberdade e os direitos individuais, esse relativismo representa um sério risco.

Mas Lyotard também não aceita uma continuidade do projeto de modernidade que se assente sobre o diálogo livre de coerções, como quer Habermas, pois vê nisso um retorno à metanarrativa iluminista (ver o texto "Habermas, Apel e a ética da linguagem"). O que fazer?

·         Performance

·         Lyotard baseia-se no conceito de jogos de linguagem, de Wittgenstein (ver o artigo "Filosofia pós-moderna - Heidegger e Wittgenstein") para afirmar que a legitimação dos saberes só pode ser local e contextual. Assim como a linguagem só adquire sentido quando usada, isto é, quando se torna um "lance" em um jogo específico, os saberes também, para Lyotard, são justificados por consensos provisórios e parciais.

Este problema de legitimação apareceu, por exemplo, no recente debate ético a respeito do uso de células-tronco embrionárias pela ciência. Para o Iluminismo, bastava seguir a razão, não a fé religiosa, que estaríamos agindo da maneira correta. Como fica quando a ciência não tem mais um meta-discurso por meio do qual justifique seus experimentos? E mais: como saber se uma teoria é válida ou não?

O que nos resta como parâmetro, segundo Lyotard, é sua performance, isto é, a eficácia que tem a teoria. Bom é o saber que produz os melhores resultados.

Neste ponto de vista, espera-se menos que as experiências realizadas no LHC - Grande Colisor de Hádrons (na sigla em inglês), localizado na fronteira entre a Suíça e a França, revelem uma suposta essência do universo do que produzam resultados concretos que justifiquem o investimento bilionário no projeto.

·         Paralogia

·         Mas a pura performance reduz a ciência ao seu aspecto industrial, comercial e lucrativo. Lyotard busca então uma alternativa em um dos aspectos mais positivos da pós-modernidade: o reconhecimento e o convívio harmonioso com as diferenças.

No campo dos saberes, o reconhecimento das diferenças passa pelo que ele chama de paralogia, que significa que um bom saber é aquele que percebe "anomalias" e constrói novos conceitos. O que legitima o saber seria seu aspecto mais criativo, digamos assim. Descobrir, em uma infinidade de informações que bombardeiam a todo instante nossos sentidos, aquelas que são relevantes e se tornarão conhecimento. Alguém aí pensou na internet?

·         Sugestão de leitura

·         LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. São Paulo: José Olympio, 2002.

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