terça-feira, 26 de abril de 2011

O HOMEM, UM FRAGMENTAZINHO DA CRIAÇÁO

“Sois grande Senhor, e infinitamente digno de ser louvado. É grande o vosso poder e incomensurável a vossa sabedoria. O homem, fragmentazinho da criação, quer louvar-vos; - o homem que publica a sua mortalidade, arrastando o testemunho do seu pecado e a prova de que Vós resistis aos soberbos. Todavia, esse homem, particulazinha da criação, deseja louvar-vos. Vós o incitais a que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para Vós e nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós”. (AGOSTINHO, S. 1981 I, p.27).

Entre tantas coisas, Santo Agostinho se recorda que ele é uma criatura oprimida pelo facto de não ter a liberdade no íntimo do seu coração. Ele é um ser contingente, frágil, um homem pecador, o indivíduo sem destino, arrastando-se às crises pessoais em busca constante e insaciável dos prazeres corpóreos. Embora, estando nesta situação frustrante e incrível da sua existência, Santo Agostinho reconhece, de facto a sua pequenez, a sua fragmentalidade, daí crê e acredita que existe um ser superior do qual foi criado. Portanto, com esta convicção pessoal, ele acredita que a subjectividade e a individualidade é lugar por excelência para conhecer Deus. Isto é, Deus se revela nos seres humanos concretos e particulares. Sendo assim, Santo Agostinho mestre do ocidente por excelência, procurou entender a realidade de Deus na sua vida através das experiências transcendentais com ser supremo, fonte de toda consolação e satisfação. Foi neste contexto em que se despertou a consciência de Santo Agostinho, desejando amar e procurando um ser para amar, porque de vez enquanto, ele tinha dentro de si a fome de alimento interior, isto é, fome de Deus. Por isso que Santo Agostinho procurou Deus na sua convicção, usou seu intelecto para descobrir os sinais vitais da presença de Deus no seu coração. A quem buscava sempre fora de si, nas pessoas, nas criaturas imperifeitas e contingentes.

“Será, talvez, pelo facto de nada do que existe poder existir sem Vós, que todas coisas Vós contêm? Por conseguinte, não existiria, meu Deus, de modo nenhum existiria se não estivésseis em mim. Ou antes, existiria eu se não estivesse em Vós de quem, por quem e em que todas coisas subsistem? Assim é, Senhor, assim é. Para onde vos hei-de chamar, se existo em Vós? Ou de onde podereis vir até mim? Para que lugar, fora do céu e da terra, me retirarei a fim de que venha depois a mim o meu Deus que: Encho o céu e a terra.” (Idem, pp. 28-29).

Neste sentido, Santo Agostinho reconhece profundamente ou seja, no fundo da sua consciência de que a sua existência, em grande parte é proporcionada por um ser supremo do qual tudo se deriva; está presente em todos seres contingentes, no homem pecador e em todos os lugares. Eis a razão pela qual, Santo Agostinho, Doutor da graça confessa primeiro a sua própria ignorância, a sua incapacidade, como qualquer homem que pode rejeitar a existência de Deus, confiando só na razão e nas tecnologias científicas como a razão justificativa da sua existência. Ora bem, Santo Agostinho teve uma ideia muito clara acerca da sua existência porque dizia que, não existiria eu meu Deus, se não estivesse em Vós de quem tudo subsiste. Portanto, Deus não está longe do homem, mas está imanente e contido de modo particular na consciência humana. A consciência é o centro a prior da vida humana porque transcende a experiência, e dá o sentido verdadeiro da existência humana. Para além disso, é a consciência a primeira testemunha dos actos morais, e ela conhece o que é verdadeiro e falso. Mas pela negligência do homem opta por escolher o que é aparentemente falso. Contudo, não existe nem sequer uma parte do céu e da terra onde Deus não esteja. Quando se invoca o nome de Deus, Este se revela a sua presença no tal ser humano, e a leva a superar todas as dificuldades da sua vida. Entretanto, Santo Agostinho reconhece que Deus é um ser transcendente e imanente, perfeito e que não existe outro ser debaixo da terra e nos céus que é comparável às qualidades de Deus. Portanto Santo Agostinho é um homem miserável e agrilhoado mas reconhece de facto que a sua existência constitui um mistério incompreensível porque não foi dada ao ser humano a capacidade de explicar os mistérios da existência humana.

Quem me dera repousar em vós! Que viesses ao meu coração e o inebriasses, com a vossa presença, para me esquecer de meus males e me abraçar convosco, meu único bem! Que sois para mim? Compadeceis vós, para que possa falar? Que sou aos vossos olhos para que me ordeneis que Vos ame, irando-vos comigo e ameaçando me com tremendos castigos, se o não fizer? É a caso pequeno castigo não Vos amar?” (Idem, pp. 30-31). Entretanto, Deus para Santo Agostinho é conhecido à medida que o homem se auto conhece e, neste processo a experiência pessoal com Deus é muito importante para dar o sentido existencial do homem. Assim, Santo Agostinho compreendeu a superioridade e a misericórdia e o seu mistério incomparável a qualquer outra criatura. Sendo assim, Santo Agostinho se encontra num estado pecaminoso, conflituoso mas mesmo assim, acredita que o seu único bem é Deus do qual provem toda a consolação e a satisfação. Neste sentido Deus não está longe do homem, mas antes pelo contrário Deus está imanente no coração de cada indivíduo. Deste modo, a alma humana fica inquieta e arrepia a presença de Deus por estar numa situação pecaminosa. Então, Santo Agostinho esteve consciente de que Deus é o único seu bem, e é ele que dá a satisfação da alma humana. Nesta ordem de ideias, podemos dizer que, a existência do ser humano só tem sentido na medida em que o homem reconhece profundamente os seus pecados e, pede a misericórdia de Deus a fim de que, possa ser guiado pela luz divina nos seus actos quotidianos. É esta convicção de facto que se dá a perceber que a vida humana tem sentido apenas quando o homem consegue estabelecer uma relação íntima e transcendental com Deus. Por fim, podemos dizer que quem não crê em Deus, não crê no céu, e logo odeia a sua própria existência.

“Contudo eu pecava contra Vós Senhor meu Deus, ordenador de todas as coisas da natureza e dos pecados somente o regularizador. Eu pecava, Senhor, desobedecendo às ordens de meus pais e mestres, pois podia no futuro fazer bom uso desses conhecimentos que me obrigava a adquirir, qualquer que fosse a intenção com que mos impunha. Além disso, eu não desobedecia para fazer melhor escolha, mas só pelo amor do jogo”. (Idem, p. 39). Ser fiel a vida de Santo Agostinho, podemos dizer que, é o mesmo problema do drama existencial que encontramos hoje nas sociedades africanas, de modo particular a de Moçambique. Pois é, é nestas sociedades onde reina o espírito do consumismo da droga, da prostituição e das modas. Ora, muitos jovens se envolvem nestas ondas, pensando que o sentido da vida se encontra nos prazeres sensoriais. Santo Agostinho como qualquer homem, não ficou alheio quanto a isso procurou o sentido da vida na bebedeira, nos saberes humanos e nos mestres mas nada lhe deu o sentido existencial da sua vida. Para ele a felicidade da vida, consistia em desobedecer as doutrinas morais e cristãs. Neste sentido, Santo Agostinho entendia a existência como se fosse uma anarquia onde se segue os impulsos dos instintos da concupiscência e, se satisfaz os prazeres mundanos. Santo Agostinho, Doutor da graça percorreu e envolveu-se em muitas actividades humanas para perceber o valor de vida, mas mesmo assim, em nada lhe serviu. Continuou sempre insatisfeito, ansioso e triste. Eis o problema da existência humana em que tanto esforço empenhado mas nada vai às expectativas e às inspirações da vida das pessoas. Como consequência, isso de qualquer modo leva à uma crise existencial do homem. Este problema é evidente nas nossas sociedades de hoje em que se valoriza as verdades da ciência, isto é, a tecnologia, os telemóveis e outros bens materiais. Portanto, leva à uma certa frustração e angústia e dificulta o relacionamento social porque as expectativas não foram atingidas. Uma vez que isso não é possível de alcançar a pessoa entra em conflito consigo mesma, e é este o drama existencial do homem. Por isso que, Santo Agostinho chegou a dizer que “tudo é vaidade socorrei-nos que já vos invocamos e socorrei também os que ainda Vos não invocam a fim de que eles também Vos invoquem, e sejam libertados”

Sendo assim, Santo Agostinho, acreditava que era possível alcançar a vida feliz pela misericórdia de Deus. Na medida em que se acredita no mistério e na ressurreição de Jesus Cristo que veio ao mundo para dar o sentido verdadeiro ao mesmo. Neste sentido, o pecado impede a realização plena do homem e, também inibe a manifestação da luz divina de Deus, a fim de que possa distinguir o mal do bem. Então, o homem pode fazer isso só quando tem uma relação transcendental com Deus. É por este facto que homem pode-se sentir realizado e feliz. Santo Agostinho, cada vez mais que se afastava de Deus nada se entendia e a sua vida se tornava ridícula. Não tendo nenhuma saída, ele entrou em crise de conformismo que é uma espécie de auto-consolação, dizendo que a vida é assim. Eis o problema fundamental da existência humana em que o homem não reconhece e não assume a responsabilidade de ser uma criatura de Deus e, nega propositadamente a sua existência. Chegando a este ponto, Santo Agostinho recorda-se da doutrina moral e cristã que recebeu desde pequeno, e viu que era de facto superior a qualquer outra ciência do saber. Daí que, Santo Agostinho reconhece os passos mal andados e acredita que o amor de Deus não tem limite e discriminação, e, é infinito. “Eu pecava, porque em vez de procurar em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas suas criaturas: em mim e nos outros. Por isso precipitava-me na dor, na confusão e no erro. (Idem, p. 51).     
            
 Desordens da juventude
Quero recordar as minhas passadas e depravações carnais da minha alma não porque as ame, mas para vos amar, ó meu Deus. É por amor do vosso amor que, amargamente chamo à memória os caminhos viciosos para que me dulcifiqueis, ó doçura que não engana, doçura feliz e firme. Concentro-me, livre da dispersão em que me dissipei e me reduzi ao nada, afastando-me da vossa unidade para inúmeras bagatelas” (Idem, II, p. 53). Agostinho faz menção dos acontecimentos do passado, Ele reconhece os seus erros do passado que tanto se deliciou das coisas mundanas esquecer a Deus, na sua juventude. Ele se entregou nas coisas carnais que são os prazeres, os amores tenebrosos e esqueceu de amar a Deus e o homem que vive sem Deus não vai para mais além, nas confissões Agostinho mostra que é alguém que infringiu os mandamentos de Deus, é alguém que enveredou pelos caminhos pecaminosos e ele próprio reconhece o erro, ainda mais ele se humilha diante do Senhor dizendo: “miserável de mim! fervia em cachões, seguindo o ímpeto da minha torrente, abandonando-vos, e transgredia todos os mandamentos sem escapar aos vossos açoites” (Idem, p. 55). Nesta miséria, o autor viu-se pequeno perante a Deus porque como se entregava na acção da carne nem via a manifestação de Deus. Chegou a afirmar que sem Deus o homem não pode viver. Ele é um homem miserável porque experimentou tudo o que a carne lhe mandava mas viu que era mais pequeno perante a presença de Deus, um fragmentazinho da criação.

Abandonava a Deus na vida dele, por isso quando descobriu viu que tudo o que ele fazia era mera ilusão, tais coisas como “o oiro, a prata, os corpos e todas as coisas dotadas dum certo atractivo. O prazer de conveniência que se sente no contacto da carne influi vivamente” (Idem, p. 59); vemos nesta citação que o nosso Bispo, Agostinho, pela experiência que passou, reconhece as causas do pecado. O pecado é causado pelos bens materiais. Ele conseguiu tê-los, razão pela qual andava longe de Deus; a carne se aumentava em todos os vícios que lhe apetecia fazer mas viu que tudo sem Deus não tinha sentido. Os bens materiais são bons mas quando o homem não os usa racionalmente chegam a ser causa de pecado para ele próprio.

Que amei eu, miserável, em ti, ó meu furto, crime notório dos meus 16 anos­? tinhas beleza alguma, pois era um roubo!” (Idem, p. 60). Agostinho lembra-se do roubo que fez com os seus amigos e viu que era miserável diante do Senhor porque ele reconhece que aquilo que fez não foi de acordo com os desígnios de Deus. Ele se sente pequeno diante de Deus devido as suas más obras na juventude. “ Era para mim mais doce amar e ser amado, se podia gozar do corpo da pessoa amada. Deste modo, manchava com torpe concupiscência, aquela fonte de amizade” (Idem, III, p. 68).

A perda de um amigo
Agostinho confessa profundamente o momento mais dramático da sua vida durante os nove anos de erro, período em que leccionava a Retórica no Município da sua terra natal, onde enalteceu uma amizade séria e condigna com um amigo, com o qual tinham trilhado juntos nos sofrimentos diários da juventude, imbuídos cegamente na satisfação do arbítrio sensual. De tanto por se amar ninguém sonhava de um perder o outro. “ Com efeito só há verdadeira amizade, quando sois Vós quem enlaça os que vos estão unidos «pela caridade difundida em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» contudo era-me sumamente doce esta amizade aquecida ao calor de idênticos estudos. Na adolescência já não conservava íntima nem profundamente, tinha-o arrastado para as minhas quimeras supersticiosas e funestas que faziam derramar lágrimas da minha mãe e minha alma já não podia passar sem ele” (Idem, IV, p.91). Esta citação marca como é grande a força divina, com o baptismo feito ao corpo inanimado, reavive. Agostinho, fervoroso no que tinha acontecido e com esperança de voltar ao convívio amicíssimo, eis poucos dias depois estando ele ausente recai na febre e expira eternamente. Ele encerra e defronta o ponto crucial e dramático da sua existência, examina os anseios e as tendências dum abismo a pedir plenitude

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