terça-feira, 26 de abril de 2011

O PENSAMENTO DE MARTIN HEIDEGGER
Para quem pretende estudar a filosofia da existência  do filósofo germânico Martin Heidegger, na sua originalidade de filósofo escritor, não pode descuidar de ler, Ser e Tempo (Sein und Zeit) que é mais do que uma simples obra de Filosofia[1].  Dedicada a Edmund Husserl Sein und Zeit usa o método fenomenológico, aliás que foi o próprio Husserl a propor aos estudiosos.  Os motivos existencialistas de Kierkegaard  se podem encontrar na obra magistral de Heidegger (Cfr.  LUMIA, G., Op. Cit.: 39).
“A obra Ser e Tempo pode tomar um sentido diferente conforme a interpretação que se pode fazer a partir de obras ulteriores” (Cfr. HUISMAN, D., 2001: 46). No ensaio escrito por Heidegger para Jean Beaufret Carta sobre o Humanismo Heidegger rejeita que seja tratado como “existencialista” (Cfr. HEIDEGGER, M., 1945: 49-50) no mais carregado e verdadeiro sentido do termo,  a verdade  é que são por demais evidentes as marcas do existencialismo em algumas das obras suas e, principalmente, em Ser e Tempo. Esta, considerada isoladamente – o que nos convém fazer – deixa transparecer o pensamento de Heidegger.
Para que não se caia no perigo de falsas interpretações é positivo considerar que Heidegger na sua filosofia “existencial” trata da existência no geral no que difere de Karl Jaspers, outro expoente máximo da filosofia da existência alemã. Este último trata do existencialismo singular o que como em Heidegger, não prescinde das influências kierkegaardianas e do método fenomenológico de Edmund Husserl.
Como deve acontecer com vários escritores, as obras de Heidegger têm de ser sempre contextualizadas, se pertencem ao primeiro ou ao último Heidegger que muito se distancia no pensar daquele, especificamente na sua produção literária inicial.
O EXISTENCIALISMO DE MARTIN HEIDEGGER
Heidegger, em consideração de Sein und Zeit,  sua principal obra, é tão famoso de ser o teórico  filósofo da existência percebida como “um viver para a morte” (REALE,G.; ANTISERI, D., 2001: 580), como acima fizemos alusão. “Ser” e “Homem” na sua relação são pensados na filosofia de Heidegger.
Dada a existência da pluralidade de entes e que nem todos gozam do mesmo privilégio há que escolher o que é mais acertado para questioná-lo a respeito do ser: o homem. Mas, porquê o homem? Por que dentre os vários entes não se escolhe outro para indagá-lo a respeito do Ser?  Será mesmo o homem o ser dotado de mais privilégio em relação aos demais entes? Por quê mesmo...?
Uma resposta lógica a estas breves mas pertinentes questões se pode deduzir da seguinte argumentação. Sabendo-se pois que o Ser não pode ser estudado isoladamente, ou seja, que não pode ser estudado em si, porque o ser está sempre associado a um determinado ente neste caso apenas pode ser estudado no homem, o único acertado que “se reporta ao ser”, que entra em relação de compreensão com o ser (Cfr. LUMIA, G., Op. Cit., 39) que mais nenhum outro pode fazê-lo.
Dasein é a expressão com que o grande filósofo designa o homem, este ser determinado e também finito,  que está aí, que vive em tempo e em lugar algum, do qual – esse Dasein – se deve partir para a investigação do ser. Daí então “o problema do ser põe-se deste modo como o problema da essência do Homem, ou seja, o significado do seu estar-aí” (Ibidem: 40). Das anteriores proposições se pode concluir que a ek-sistência constitui a essência do Dasein.
No pensar de Heidegger apenas uma pequena minoria se pode considerar que vive verdadeiramente, isto é, existe, ao passo que a grande maioria simplesmente “é”, ou melhor, ao invés de existirem (existência autêntica) apenas dispersam-se entre as coisas (Cfr. Ibidem: 39) (existência inautêntica). O homem não deve permitir que a sua singularidade seja apagada pela onda da massa, esse Dasein não deve fazer as coisas simplesmente porque a sociedade assim as faz, nem pensar como pensa a massa, nem dizer as coisas como as diz a gente; assim o homem se circunscreve no que faz a multidão porque lhe é a maneira correcta de proceder (Ibidem: 41). Esta é a existência banal. E não deveria ser assim.  O homem deve transcender do ser simplesmente questionando-se a si mesmo o ser para o existir autenticamente (estar-aí). Domina então a angústia. O Dasein  ganha consciência da sua finitude, da sua temporalidade e para mais, projecta-se para um possível futuro e, final e felizmente, aceita a morte, admite a verdade que não deveria temê-la segundo a qual ele é “ser-para-a-morte” (Sein-zum-Tode), conquistando a liberdade, pois é “livre para a morte” (Freiheit-zum-Tode) (Cfr. HEIDEGER, M., Op. Cit., 1927: 50).
Sendo verdade e natural que o homem é um “estar-no-mundo” (in-der-Welt-sein) o Dasein deve libertar-se do comum da mundanidade que equivale à existência inautêntica para conquistar o modo autêntico de existir saindo e mantendo-se diferente da multidão. O que existe autenticamente deve não se identificar com a multidão, isto é, deve ser radicalmente exclusivo não obstante o modo normal do estar-aí  é “estar-em-conjunto” (LUMIA, G., Op. Cit.: 43) do qual se assemelha.
Quanto ao “cuidado pelos outros” importa referir que para Martin Heidegger existem duas formas positivas da vida social. A primeira, consiste em subtrair os outros dos seus cuidados, fazendo nós pelos outros de modo que os outros encontrem “coisas prontas” sendo assim dominados por nós que fazemos por eles em vez de serem eles mesmos a fazerem por si os seus deveres. A segunda, é exactamente o inverso da primeira, ou seja, ter cuidado pelos outros é fazer com que estes assumam os seus cuidados sendo eles mesmos a escolherem os fins por pretendidos (Ibidem: 44). Parece-nos, contudo, que Martin Heidegger não observa o sentido de colaboração indispensável para uma sociedade que pretende progredir como deve pois,  não nos parece negativo o referido sentido de cooperação embora seja verdade que cada indivíduo, o que para Heidegger goza de existir autenticamente, amiúde pode trazer o desprezo dos outros e a arrogância e se manter “fora dos outros” – a indiferença (Ibidem: 44).



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