terça-feira, 26 de abril de 2011

OS PRECURSORES DO EXISTENCIALISMO
Antes de mais importa realçar que o Existencialismo tem seus predecessores no pensamento de Kierkegaard e de Nietzsche que lhe inspiram significativamente, mas o seu método de investigação é emprestado à fenomenologia de Husserl. Estes filósofos são familiares ao existencialismo.
1. Kierkegaard
Kierkegaard, embora apagado pela grande fama e admiração de Hegel na Europa, faz parte da lista dos grandes e sérios críticos de Hegel que pretendia, segundo Marx, “fazer caminhar o mundo sobre a cabeça e não sobre os pés” (LUMIA, G., Op. Cit.:15). Kierkegaard critica a pretensão hegeliana de reduzir o indivíduo à unidade transcendental da ideia. Para ele, o indivíduo deve ser considerado na singularidade. É na singularidade  que a pessoa decide o seu destino: pode elevar-se à singularidade ou então ficar-se no anonimato ou no impessoal – “aut-aut”, escolha.
O plano estético e o plano ético constituem os dois planos de existência em Kierkegaard. O primeiro, que não pode ser uma existência autêntica, pois não passa de busca de prazeres no imediato e na fugacidade sem querer assumir consequência das próprias acções, enquanto que, o segundo – plano ético – é uma aceitação responsável e justa da própria escolha, como no caso do marido fiel à sua esposa e não se entrega à  busca de prazeres fugazes ou fúteis. Todavia, para Kierkegaard em nenhum dos dois planos se realiza a existência autêntica.  Ao indivíduo que vive na sociedade se-lhe exige que “seja como os outros”, portanto se-lhe exige que não seja diferente dos demais. É exactamente isso que é preciso vencer: sair do anonimato (e do comum) pela sociedade. E porque não basta isso, é ainda preciso reconquistar a nossa singularidade o que confere a existência autêntica, passando então para o “ex-sistere”: da multidão, emergir do mar do ser.
Devido a necessidade da escolha – a liberdade – que gera angústia esta manifesta a existência autêntica. Da angústia nasce a fé.  Abraão angustiado de matar seu próprio filho  é regenerado por Deus. “Se soubermos abandonar-nos a Deus, Deus nos restituirá a nós mesmos regenerados pela sua graça” (Ibidem: 19). Enfim, para Kierkegaard o existencialismo tem motivo divino.
“A própria religião, como possibilidade humana, está ligada à carne, por isso, na sua verdadeira realidade, no seu conteúdo, no objecto a que aspira e a quanto elevar-se, ela constitui a negação e a problematização de todas as possibilidades humanas” (ABBAGNANO, N., 1993: 135).
“Não justifica o homem em nada, não o liberrtra do pecado ou do mistério, da culpa ou do destino, antes o mantém ligado a todas as suas possibilidades negativas e nulificantes, para lhe revelar aquilo que eles são: negativas e nulificantes”(Ibidem).

2. Nietzsche
Diferentemente do existencialismo de Kierkegaard com motivo divino, o de Nietzsche fornece-lhe motivo demoníaco. A verdade objectiva, portanto a que valeria para todos é não aceite por Nietzsche para quem “existe somente aquilo que eu quero que seja verdade” (LUMIA, G., 1964: 19). E para mais, o imperativo kantiano tu deves é substituído em Nietzsche por  eu quero. O indivíduo é livre de fazer o que quer e quando quer e pode mesmo usar os meios que melhor lhe satisfazem para atingir os seus objectivos. O homem, o homem singular, dado que Deus está morto, “este homem” depende apenas de si mesmo para forjar o seu destino e mais nenhuma força o pode ajudar.
Nietzsche, mais severo que Kierkegaard, também condena a sociedade.  Com a sua doutrina faz ver o distanciamento da multidão, o máximo desprezo dos limites do comum, a imposição da própria personalidade que o super-homem deve ter e manter, diz ele, “torna-te tu mesmo”. Deve ser-lhe excepcional no mais elevado grau a ponto de as leis e regras que dizem respeito a toda a sociedade serem desprezados porque apenas servem para “serem acorrentados”  os débeis pelos mais fortes.  As regras e as leis escravizam apenas os que  os cumprem. Por isso então o “super-homem não  pode realizar a sua missão senão colocando-se fora de e contra a sociedade” (Ibidem: 20) que o desprezará.
Em comum, para Kierkegaard e também para Nietzsche, o sujeito singular deve extrapolar os limites do comum, deve negar os valores tradicionais da convivência humana, ou melhor, a negação do homem é imprescindível para a existência autêntica. Enquanto para Kierkegaard o homem deve abandonar-se – anulando-se – em Deus, para Nietzsche anula-se transcendendo-se a si próprio – eis o super-homem.
3. Husserl
Como foi supramencionado o método do trabalho dos existencialistas é emprestado à fenomenologia de Husserl que é um método autónomo de filosofar independente de qualquer sugestão metafísica: “é preciso estudar o fenómeno, estudar o ser tal como se apresenta ao pensamento, tal como se revela à consciência(Ibidem: 20).  Assim sendo, é preciso “descrever” o fenómeno no que apresenta de “essencial” e não de contingente. Deve-se suspender o juizo, estar-se livre dos preconceitos das teorias das ciência, do que se bebeu do senso comum e que, neste aspecto, é preciso submeter à crítica. Importa indagar às próprias coisas (LUMIA, G., Op. Cit.: 22-23).
Para Husserl, o outro embora se assemelhe ao eu é sempre estranho ao meu eu. A experiência do outro, cita Guiessepe Lumia, pelo contrário, é “experiência do estranho”, de qualquer coisa que não só não se identifica com o meu eu, mas que foge igualmente à minha “esfera de pertença”, isto é, não se reduz ao mero fenómeno da minha consciência. Ainda que o tenha presente na minha consciência e se pareça comigo, e também seja necessário ao meu mundo, o outro nunca se identifica comigo, ele é sempre ele mesmo e não eu.
Foi o próprio Husserl que recomendou aos estudiosos a tarefa de usar o método fenomenológico para as várias ontologias certamente pela produtividade do mesmo. Na verdade tal apelo bem chegou aos ouvidos de tantos, inclusive o método consiste de numerosos textos dos escritores existencialistas.

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