sábado, 30 de abril de 2011

PAIXÃO PROIBIDA

Me casei com o Jorge apaixonadíssima. Nossa vida era boa, a única coisa que me incomodava era o seu ciúme. Nunca pude vestir uma bermuda ou qualquer roupa mais justa sem que ele dissesse que eu estava a fim de aparecer para outros homens ou de olho em alguém. Ninguém podia pronunciar o nome de qualquer ex-namorado meu que já era motivo para brigas. Quando falava em ter um filho, ele se irritava. Queria que meu corpo continuasse violão e achava que um bebê iria estragá-lo.

Eu ia levando a vida apesar desse ciúme exagerado, mas tudo mudou no terceiro ano de casados. Martin, um irmão do Jorge que morava com a mãe, na Argentina, desde os 8 anos de idade, foi morar conosco. Ele era músico, tocava e cantava na noite e queria fazer fortuna no Brasil. Moreno, alto, de cabelos negros e olhar atraente, Martin falava apenas o necessário no princípio. Era muito calado. Ele e Jorge se davam muito bem. Por várias vezes o Martin assistiu nossas brigas e viu as cenas de ciúme do irmão, mas não se intrometeu.

Numa manhã de sol intenso, desci cedo para comprar pão e jornais. Jorge estava dormindo e Martin ainda roncava no sofá-cama da sala. Quando abri a porta da cozinha, ao voltar, dei de cara com Jorge, de pé, próximo à pia.

Ele me olhou de cima a baixo. Eu estava com uma bermuda branca apertada, mini-blusa azul floral, cabelos soltos e sandálias. Jorge balançou a cabeça em sinal de reprovação:

- "Maria, você não tem jeito, né? Por que desceu com esse projeto de roupa? Tá afim de aparecer, é? Já disse que dentro de casa tudo bem, porque o Martin é meu irmão e nele eu confio, mas na rua?"

Pedi para ele não brigar comigo, mas não houve jeito. Jorge me xingou com palavras impublicáveis. Me irritei muito e acabei falando que ele era um psicótico, um louco. Se soubesse de sua reação, teria ficado calada...
Depois de me xingar, Jorge começou a me bater. Senti um golpe seco esquentando meu rosto e a maior humilhação do mundo. Ao ouvir meus gritos, Martin apareceu na cozinha. Minha boca sangrava quando ele finalmente conseguiu afastar Jorge de mim. Martin tentou amenizar a situação.

- "Jorge, não faça isso mano!", dizia.

Corri para o quarto assim que consegui me desvencilhar. Fiquei lá trancada, chorando.

Horas mais tarde, meu marido, já mais calmo, quis conversar. Bateu na porta e pediu que abrisse. Achei que ele tinha se arrependido, que talvez quisesse pedir perdão. Abri sem olhar para sua cara e sentei na cama, esperando uma explicação para tanta violência.

- "Maria, isso foi só para você sentir que estou zangado. Não quero te machucar de novo, certo? Então, é só andar como uma mulher decente e não como uma vadia. Se te pegar de novo saindo daquele jeito, vou te machucar muito", avisou.

Nem respondi. Estava morrendo de medo. Jorge se aproximou, acariciou meus cabelos, beijou meu pescoço, meu rosto. Senti repulsa, repugnância. "Nojento, nojento", pensava.

Desde que meu cunhado veio morar conosco, Jorge estava violento demais. Tudo era motivo para me maltratar: um bife mal passado, um bife passado demais...

Certo dia, Jorge teve que viajar a trabalho. Como ficaria três dias fora de casa, aproveitei para visitar meus pais. Quando voltei, ele já havia chegado. Martin explicou que eu estava com meus pais, mas Jorge não ficou satisfeito. Ao entrar em casa, fui novamente xingada e espancada. Martin tinha ido fazer umas compras e não tive quem me ajudasse. Jorge, feito louco, me acusava de estar com outro e, por mais que negasse, ele, possesso de ciúme e ódio, continuava me machucando.

Depois disso, perdi toda vontade de sair. Nem queria por o pé na rua. Sempre que precisava algo, pedia ao Martin. Jorge parecia satisfeito, já que desse modo ninguém olharia para mim.

Tentava até evitar Martin, por medo do meu marido, mas essa tarefa ficava cada dia mais difícil. Meu cunhado era um homem bonito, de olhar arisco e jeito de amante latino. Comecei a sentir que mexia comigo. Mas, cada vez que me pegava pensando nele, dizia a mim mesma: "Ele se parece com Jorge, por isso o acho bonito."

A verdade é que estava ferida por dentro e por fora e já não sentia mais amor por Jorge. Ele me maltratava demais. Martin era muito divertido, carinhoso e eu estava me apaixonando. Mas aquilo era um perigo, além de ser imoral. Não podia aceitar tal situação!
Certa manhã, Martin voltou da noite carregando uma guitarra e um violão. 
Pedi que ele tocasse uma música brasileira pra mim. Ele escolheu a canção de João Paulo e Daniel, Estou Apaixonado. Entendi o recado e senti uma mistura estranha dentro de mim. Por um lado, era toda alegria, emoção. Por outro, me senti leviana, suja, pensei que talvez merecesse as surras que Jorge me dava. Fiquei o tempo todo de cabeça baixa, sem conseguir encarar aqueles olhos negros, apaixonantes.

Martin tocou aquela música várias vezes. Em algumas ocasiões, pensava que ele tinha lido a paixão nos meus olhos e estava me acusando. Outras vezes, sentia que estava me provocando, me tentando. Não sabia o que pensar. Jorge confiava plenamente em Martin. Ele até lhe pedia que me vigiasse, que não me deixasse sair. Jorge estava certo de que eu estava resguardada, que não saía de casa para nada.

Em meio a toda essa confusão, minha única alegria era ver e ouvir Martin tocar, cantar. Sua simples existência me encantava. Estava totalmente apaixonada por ele e percebi que minha única saída era pedir a separação. Ia dizer ao Jorge que não agüentava mais viver presa. Tentei conversar, mas não consegui terminar a frase "Quero pedir o divórcio". Ele me empurrou contra a parede e me esbofeteou.

Naquele momento, Martin o repreendeu. Jorge foi para a rua e trancou a porta. Enquanto eu chorava, Martin, sem se preocupar com o que pudesse acontecer, me abraçou e protegeu. Ele me acariciou de mansinho, me beijou a testa e as mãos. Expliquei o porquê da briga e Martin não concordou com o divórcio, disse que Jorge me amava muito.

Depois desse episódio, tudo voltou ao normal.

Era como se nada tivesse acontecido para Jorge.

Ele usava, abusava de mim e dizia que me amava. Numa noite chuvosa, ele saiu para trabalhar. Jorge só voltaria no dia seguinte, no fim da tarde. Depois que Jorge saiu, Martin, que estava gripado, ficou com febre. Cuidei dele com remédios e chá. Fiquei bem perto, lhe dando carinho e atenção. Aquilo foi uma tentação. Acabei perdendo a cabeça e me declarei a ele! O tesão que Martin sentia por mim era evidente, eu já o havia notado, pela forma que me olhava quando Jorge não estava em casa.

Martin me possuiu sem a menor resistência ou pudor.
Quando Jorge voltou para casa, Martin não conseguia ser natural, estava tenso e logo passou a dormir no local onde trabalhava. Eles quase não se viam, porque Martin trabalhava à noite e dormia durante o dia. Os dois irmãos combinaram de se encontrar pelo menos uma vez por semana. Nesses dias de visita, meu cunhado chegava mais cedo para ficar comigo. Meu marido nem desconfiava.

Uma amiga me repreendeu e disse que eu precisava ser honesta e me decidir por um dos dois. Mas não dava para eu largar o Jorge. Ele me mataria se pedisse a separação.

Dias e dias se passaram até que Martin arranjou uma namorada firme e foi morar na casa dele. A notícia caiu feito bomba para mim. Fiquei louca de ciúme e briguei a valer com ele. Não conseguia pensar em mais nada, só na traição. Resolvi contar tudo para o meu marido. Afinal, se ele me matasse, pelo menos não sofreria mais por saber que Martin tinha abusado do meu amor e agora estava com outra. Tomei toda a coragem do mundo e chamei Jorge para uma conversa séria.

Com muita calma, disse ao meu marido que o traía com Martin e que gostava de transar com ele. Jorge riu com ar cínico. Ele falou que sabia de tudo desde o princípio! Disse também que deixou o caso continuar porque, pelo menos, não era com um homem estranho. Nesse momento, ele se aproximou, segurou meu braço e confessou que sentia ainda mas atração por mim por saber que eu era capaz de traí-lo.

Por mais estranho que pareça, naquela hora nos entregamos a uma ardente paixão e começamos uma verdadeira segunda lua-de-mel. Meu marido passou a confiar em mim e sempre repetia que se eu fosse mesmo vadia não teria contado a verdade. Na verdade, ser traído era uma tara inconfessável que agora ele não tinha mais por que esconder.

Ainda hoje dou minhas escapadinhas com meu cunhado, que não sabe que Jorge descobriu tudo. Martin pensa diferente do irmão e não aceitaria o triângulo. Ele diz me amar, mas mora com Fátima, uma garota que também canta na noite.

No fundo, nos três somos felizes desse jeito louco. Alguém entende a humanidade?

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