terça-feira, 26 de abril de 2011

PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO DO HOMEM
S. Agostinho
Na sua obra “As Confissões”, fala do homem como criatura de Deus; criado a partir do nada. Ao homem foi dada a liberdade para escolher (ao Supremo Bem), mas por causa do seu mau uso, afastou-se do seu criador, tornando-se frágil, miserável, arrastado ao pecado, desterrado…
O homem para ele, é um ser inquieto porque não apenas foi feito por Deus mas para Deus.
Para o homem Deus é a fonte da felicidade. O seu ser, a sua essência, está em Deus. Deus é tudo, grande e o homem é nada e pequeno. O homem é estruturalmente incompleto, fraco, inconsistente. O centro está fora dele, isto é, ele procura sua plenitude no outro: Deus. O homem é homem quando está em Deus, e diabo, quando separado de Deus.

Os Existencialistas
Existência é a qualidade de tudo que é real ou existe, e também a base de todas as outras coisas.

Mas como se qualifica o conceito de existência no interior do existencialismo? A primeira coisa que se deve destacar é que a existência é constituída do sujeito que filosofa e o único sujeito que filosofa é o homem: por isso, ela é exclusivamente típica do homem, já que o homem é o único sujeito a filosofar. Além disso, a existência é modo de ser finito e é possibilidade, isto é, um poder-ser. A existência, precisamente, não é essência, coisa dada por natureza, realidade predeterminada e não modificável. As coisas e os animais são o que são e permanecem o que são. Mas o homem será o que ele decidiu ser.

O seu modo de ser, a existência, é um sair para fora em direcção à decisão e à auto-moldagem. Assim, a existência é um poder-ser e, portanto, é incerteza, problematicidade, risco, decisão, impulso adiante. Este impulso pode ser em direcção a Deus, ao mundo, ao próprio homem, a liberdade, ao nada. Aqui começam a se dividir as correntes do existencialismo conforme a direcção tomada.

M. Heidegger
O homem como ser no mundo não se define por uma atitude contemplativa, mas operante e transformante. Na sua obra “Carta sobre o Humanismo”, afirma que a essência do homem é a sua própria existência, ou por outra, a sua essência é sua existência. O homem é que impõe valores nas coisas. O homem é um existente por excelência, que pensa e goza da linguagem. O homem é clareira do ser, é o pastor do ser. Uma mina de possibilidades que está sendo. Quando ele morre tudo acaba, porque a morte é o esgotar de todas as possibilidades. Portanto, o homem é Dasein (ser-aí).  

O pensamento de Martin Heidegger diz que o homem é um ser angustiado, sofredor, desgraçado em frente deste homem, nada vê se não a morte. O homem está privado de todos os recursos e concebe a sua existência no plano da morte. A morte para o homem é o fim de todas as suas possibilidades de ser.

O homem que nasce deve procurar desenvolver as suas capacidades enquanto está vivo e por fim deve esperar receber a morte que é o fim de tudo. O homem só existe, ele é o próprio pastor da sua existência. O homem é e é homem, enquanto é o ex-sistente (HEIDEGGER, Martin, 1998, pág. 76).

Homem e ser se encontram, na verdade, não há ser sem homem. Mas este homem é um ser com os outros no mundo e o mundo está a ser mundo dos outros mundos. O mundo é o núcleo central em que se unem as linhas estruturais da existência humana: o homem, referido ao mundo pela preocupação e ocupação e projectado para o futuro que antecipa perde-se na decadência do presente e vive na angústia de ter sido lançado no passado á existência. Portanto, a existência autêntica é aquela que enfrenta esta suprema possibilidade com coragem e resolução. E a existência inautêntica é contrária daquela da existência autêntica.

O ser é aquilo que se dá, que está presente. O homem se aproxima cada vez mais do sentido do ser, porque o ser também e caracterizado por diversas possibilidades. A natureza do homem é poder-ser; ele, lê o seu modo de ser e o da possibilidade e não o da realidade. O homem é um “sendo”. O homem é “Dasein” — “o estar aí”, ele não é um já dado, mas sim possibilidade. A essência do homem é existência, o “Daisen”. Quem vive autenticamente, as coisas são apenas instrumentos.

O homem tem um projecto de ser, então, o ser para a morte é a possibilidade das impossibilidades. Com a morte não há outras possibilidades nem existem outros projectos a realizar. A morte é a possibilidade permanente.

A existência autêntica para Heidegger é viver para a morte, e ser para a morte. A angústia e o sentimento de estar diante do nada.

Viver autenticamente significa ter a coragem de olhar para frente e ver a possibilidade de não-ser. A autenticidade significa aceitar a própria finitude e negatividade. O futuro é o tempo autêntico, pois só se projecta para o futuro.

Jean Paul Sartre
Na sua obra “Existencialismo é um Humanismo”, identifica o homem com a sua liberdade. O homem é um projecto, aquilo que projecta ser. Antes do projecto nada existe como natureza. O homem é responsável de si próprio. O homem é abandono, desamparo, angústia, desespero. O homem está condenado à liberdade. O homem é o conjunto das suas acções e escolhas. O homem é causa e solução de todas as coisas. o homem é senhor dos seus actos. Para ele, Deus não existe, razão pela qual, se existisse daríamos a possibilidade de dizer que a essência precedia a existência, mas é ao contrário a existência precede a essência. Assim, o homem é o cumprimento das suas escolhas e acções (REALI, Giovanni, 1991, História da Filosofia, Vº III, pág. 610).

Para Sartre, existência é primeiro que tudo ser nos meus actos e pelos meus actos. Ele retoma a toma de Lequier: “fazer e, ao fazer, fazer-se.” Cada um é segundo o que faz. Tu nada és do que a tua vida. O homem define-se pelos seus actos. Deixou de haver génio desconhecido. Nunca podemos determinar o valor das nossas afeições senão pelos actos que as define. Os nossos sentimentos constroem-se com os nossos actos. Da mesma maneira que não há outro génio, senão o que se exprime pelas suas obras, não há outra possibilidade de amor senão há que se manifesta. O homem é tal qual se projecta, o homem só será depois e será tal qual se fizer. O homem é primeiramente um projecto que se vê subjectivamente, o homem será o que projectou ser. Portanto nós somos essencialmente escolha, uma escolha pela qual, não só nos comprometemos a nós mas também nos comprometemos os outros (Ministério da Educação e investigação cientifica, 1977-78, pág. 49).

Para o existencialismo de Sartre o homem está condenado a ser livre e dentro dessa liberdade não pode existir limites para além da própria liberdade. Se o homem está condenado a ser livre, tem responsabilidade de assumir todas as consequências que virão a acontecer ao longo do seu percurso. Porque o homem escolheu por sua livre vontade sem que fosse exigido por alguém (SARTRE, Jean Paul, O Existencialismo é um Humanismo, pág. 193).

Para Sartre, existir é estar presente ali como dizia Martin Heidegger. Somente ele diverge quando afirma que a existência precede a essência. Dai, ser livre é próprio da existência. O êxtase mais importante é a do presente e o sentimento predominante do presente e da náusea.

Um existente livre é aquele que decide do seu passado em vez de deixar a determinar o seu presente e perspectiva através de algo distinto de si, de um fim que não é, e que ele projecta no outro lado do mundo. O homem é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser. E tudo o que acontece no mundo se reporta à liberdade e á responsabilidade de escolha originária (Idem, pág. 200).

Por isso, nada acontece no homem que se pode chamar inumano pois, “ as mais atrozes situações da guerra, as piores torturas, não criam um estado de coisas inumano. Não existe uma situação inumana: somente pelo medo, fuga ou recurso a comportamentos mágicos, mas o homem decidirá sobre aquilo que é inumano e esta decisão é própria humana e dela tira inteira responsabilidade” (Enciclopédia Luso-brasileira de cultura, Vol. II, pág.639).

A liberdade não está vinculada a nenhuma lei moral a sua única norma é ela mesma. Portanto, o homem é um ser para si através dos outros.

A liberdade não é um ser, ela é o ser do homem, isto é, o seu nada do ser. Para Sartre a liberdade é a essência que constitui o Uno, o Para-si. Quem nega a liberdade, nega também o homem, porque o homem se constrói, ele não é uma realidade. A liberdade coabita com a escolha e para manifestar a liberdade é preciso nadificar o presente.

A angústia é quando descobres que és completamente livre e responsável das escolhas, “tu és fruto da tua escolha”. Sobre Deus, diz Sartre que Ele é simplesmente desejo do homem de fazer-se Deus. O desejo é sempre sinal de falta de qualquer coisa.

A liberdade, segundo Sartre, é a possibilidade permanente daquela ruptura ou nulificação do mundo que é a própria estrutura da existência. Eu estou condenado, a existir para sempre para além da minha essência, para além dos móbiles ou moventes e dos motivos do meu ato: eu estou condenado a ser livre. Isto significa que não se pode encontrar para a minha liberdade outros limites além da própria liberdade: ou, se se preferir, que não somos livres de deixar de ser livres. A liberdade não é o arbítrio ou o capricho momentâneo do indivíduo: radica na mais íntima estrutura da existência, é a própria existência.
A liberdade consiste na escolha do próprio ser. E essa escolha é absurda. Assim o existencialismo sartreano afirmava a realidade dos homens, através da consciência como liberdade.

Karl Jaspers
A existência se realiza na solidão do indivíduo, enquanto a massa é chamada ser – sem - existência. O homem deixa de ser ele próprio quando se identifica a massa. O homem é um ser-em-situação. O homem é aquele que existe no mundo. O homem é definido pelo seu universo. O homem tem em sua frente a situação - limite. A fé é um conhecimento ilimitado.

O pensamento de Jaspers centra-se na existência e na transcendência. Para ele a existência equivale ao ser-ai (Dasein) na linha de Heidegger, que o homem exprime na sua vida pessoal e autêntica. Este Dasein é conhecido e experimenta-se enquanto que a transcendência não se experimenta, nem se conhece e nem se sabe, mas atinge-se por meio das cifras (situações limites). A existência é inobjectiva porque também não se conhece e nem se sabe, mas experimenta-se e esclarece-se por meio da razão.

No desenvolvimento do seu pensamento, Jaspers abandona o método fenomenológico de Husserl e admite as situações limites que são momentos críticos em que o homem se sente “ fracassar” e que são por um lado, “índices” da existência; e por outro lado cifras da transcendência. A transcendência para Jaspers, não é fé teológica, mas sim fé filosófica, porque não está baseada em nenhuma revelação ou crença; não é um conhecimento, porque ultrapassa o que aparece ao entendimento; nem é uma experiência, porque está para além daquilo que a razão pode esclarecer.

Contudo, a fé filosófica apresenta-se como uma exigência natural perante os “fracassos”, que permite-nos o apelo da transcendência do que é, ao mesmo tempo, um risco e uma decisão pessoal.

Para Jaspers, a filosofia da existência tem a função de afirmar o grau de existência entre a racionalidade e a existência. Existência é procurar minha verdade, procurar o significado do meu ser através da razão.
As situações limites são sinais de naufrágio, quer dizer, o fim. Quando as coisas perdem o seu absolutismo é porque as situações-limites e o naufrágio da existência nos ajudam a não absolutizar as coisas.

Jaspers diz que a existência é sempre a minha existência, singular e ímpar; “compreende-se a si mesmo (...) é o caminho para a verdadeira existência”. (Existência consciente)

Para Jaspers o aspecto relevante, característico da existência do homem é “ser sempre uma existência no mundo; um ser-em-situação”. O homem, assim como todas as coisas, é definido pelo seu universo, mas o ser-em-situação do homem não é o seu verdadeiro ser; o homem se encontra sistematicamente fora de si, além de si mesmo, existe.

A existência é busca do ser uma “orientação no mundo” e somente nele; pretender ir além do mundo, corre-se ao risco de cair no vazio.

Ao ser autêntico Jaspers chama de “O todo abrangente”, que é portanto, o que continuamente se anuncia ao homem mas, nunca acabado senão como cifra ou fonte de outro ser. 

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