terça-feira, 26 de abril de 2011

A RESPONSABILIDADE DO HOMEM
Já que o homem se faz continuamente e o seu ser depende exclusivamente de si mesmo, então ninguém deve desculpar-se nem pensar que os ladrões, cobardes, mentirosos, corruptos e outros são assim por conta da sua hereditariedade, da influência do meio ambiente, da sociedade, justamente porque estes ficariam sossegados e diriam: ´´somos assim e contra isso ninguém pode nada´´. Mas o existencialista diz que este cobarde é responsável pela sua cobardia. O cobarde apenas é definido a partir do acto que praticou, portanto, o cobarde é culpado de ser cobarde (op. cit.: 210). Porque ninguém nasce cobarde ou herói, mas faz-se cobarde ou herói. Nesta óptica, o homem é plenamente responsável pelo seu estado de vida ou pela sua condição. As nossas escolhas cabem somente a nós mesmos, não havendo, assim, factor externo que justifique nossas acções. Por conseguinte, no que depende do homem não há razão para a fuga da responsabilidade.

A angústia decorre da consciência da liberdade e do receio de usar essa liberdade de forma errada. O homem está comprometido com a sua escolha e também é legislador a si mesmo, à humanidade inteira. Ela consiste justamente no sentimento da sua total e profunda responsabilidade. Angústia de responsabilidade, responsabilidade directa frente aos outros homens. É uma angústia que conduz a acção e não a inacção.

A má fé é uma defesa contra a angústia e o desalento. É uma atitude de quem escolhe fugir da responsabilidade dos seus actos originados das suas escolhas livres. É uma mentira, porque dissimula a total liberdade do compromisso diferente da atitude restrita de coerência que é a boa fé (op. cit.: 225).

O homem que recusa as consequências dos seus actos abdica igualmente a sua liberdade disfarça, evita e finge a sua angústia. «Quem mente e se desculpa, é alguém que não está a vontade com a sua consciência. Ainda que a disfarcemos, a angústia aparece» (op. cit.: 188). Se definimos a situação do homem como uma escolha livre, sem desculpas e sem auxílio, o homem que se refugia nas desculpas das suas paixões, que inventa um determinismo, tal homem é um de má fé.

De acordo com o autor, a má-fé é uma defesa contra a angústia criada pela consciência da liberdade, mas é uma defesa equivocada, pois através dela nos afastamos da nossa liberdade, e caímos no erro de atribuir nossas escolhas livres a factores externos, como Deus, os astros, o destino, ou outros. Para os existencialistas a má-fé é uma mentira para si próprio, pois não elimina a angústia.

A autenticidade Segundo Sartre, no Plano da autenticidade total, o homem é um ser no qual a essência é precedida pela existência, que é um ser livre, que não pode em qualquer circunstância senão querer a sua liberdade. Sartre ao reconhecer a liberdade da pessoa em si reconhece também a liberdade dos outros.

O homem não pode querer a liberdade senão a dos outros. «Assim, em nome desta vontade de liberdade, implicada pela própria liberdade, posso formar juízos sobre aqueles que procuram ocultar-se a total gratuidade e a sua total liberdade» (op. cit.: 227-228). Portanto, ninguém deve renunciar a sua liberdade e nem vivé-la como libertinagem. Deve sim gozar da liberdade em plenitude e autenticamente.

A existência de outrem e a subjectividade
Sartre considera o cogito como uma verdade absoluta da consciência de cada homem, base essencial para outras verdades. Conclui dizendo: no cogito descobrimo-nos a nós e aos outros. Portanto, vivemos num mundo de inter-subjectividade «e é neste mundo que o homem decide sobre o que ele é e o que são os outros» (op. cit.: 215).

Sartre afirma que a existência do outro, é indispensável à minha existência, tal como aliás ao conhecimento que eu tenho de mim (idem). A minha intimidade se descobre ao mesmo tempo que me relaciono com o outro, este outro como liberdade posta enfrente de mim, que nada pensa e que nada quer senão estar a favor ou contra mim. A existência dos outros é inevitável. Cada um realiza as sua potencialidades sempre relacionando-se com os outros.

 Deste modo surge-nos um mundo de inter-subjectividade onde o homem decide sobre o que ele é, e o que são os outros. O homem por si só não pode se conhecer em sua totalidade. Só através dos olhos de outras pessoas é que alguém consegue se ver como parte do mundo. Sem a convivência, uma pessoa não pode se perceber por inteiro.

Cada pessoa, embora não tenha acesso às consciências das outras pessoas, pode reconhecer neles o que têm de igual. E cada um precisa desse reconhecimento. Só através dos olhos dos outros posso ter acesso à minha própria essência, ainda que temporária. Só a convivência é capaz de me dar a certeza de que estou fazendo as escolhas que desejo. não posso evitar a convivência.

O homem escolhe a sua moral em relação aos outros
Porque o homem não está completo, ele está a ser e existe na medida em que realiza o seu ser homem por meio da escolha e vivência da sua moral, sustenta o nosso autor.
Como já dissemos atrás, que o homem é aquele que paulatinamente vai se fazendo, ele faz-se escolhendo a sua moral segundo as circunstâncias, deste modo não pode deixar de escolher uma moral tal fundada no valor da vida, na verdade e no optimismo.
Mormente, a sua escolha não é, nem deve ser gratuita, porque o homem existe somente para escolher o seu compromisso e seu projecto tal como dita a sua consciência. Este compromisso e projecto não são nem devem ser um outro senão a verdade.

As escolhas devem sempre basear-se na relação com os outros. Escolhemos realizar este ou aquele projecto, assumir esta ou aquela atitude sempre em vista dos outros, pois, é na colectividade, ou humanidade onde se assentam os juízos de valor e não no particular ou no individual. É apenas no indivíduo que encontramos juízos lógicos onde as escolhas baseiam-se no erro e ou na verdade.

A moral abstracta e concreta
Kant defende que a liberdade se quer a si e à liberdade dos outros, porém ele julga que o formal e o universal são suficientes para se constituir uma moral. Para Sartre, contrariamente a Kant, os princípios demasiados abstractos falham se o homem desejar definir a acção concreta. O homem inventa a moral concreta e não abstracta fundamentada na sua vontade e na sua liberdade de acordo com a situação concreta.

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