segunda-feira, 18 de abril de 2011

A SEXUALIDADE HUMANA

INTRODUÇÃO
No nosso dia a dia é comum vermos homens que se fazem passar por mulheres e mulheres que se fazem passar homens. Isso tudo graças ao uso desordenado da sabedoria humana através das ciências da vida. Mas no meio destas “transformações” no sietema reprodutor humano, sempre ficam algumas sequelas no agir, tender, manifestar do próprio ser que nos dá a entender que neste ser algo anormal terá acontecido. Referimos a sexualidade como algo que acompanha o homem desde a sua concepção, nascimento e morte por mais que o próprio homem motivado pelas convicções, altere o seu funcionamento.
É sobre estes elementos que neste presente trabalho queremos falar da sexualidade humana sobre suas imensas áreas. Assim começaremos primeiro por definir a sexualidade sob várias vertentes, no segundo plano falaremos das bases antropológicas da sexualidade humana apontando as suas características, no terceiro plano tentaremos dar a visão cristã da sexualidade, no quarto tema falaremos da ética da sexualidade mostrando as três linhas de pensamento com diversas variações sobre o tema, e por fim daremos em chave de ouro a nossa conclusão.

I-O QUE É A SEXUALIDADE
Na teologia moral para além da concepção unilateral da natureza que é a procriação como finalidade biológica determinante, “a sexualidade humana deve considerar-se antes como indicador que assinala as linhas de força dentro das quais ocorre a realização mais plena da sexualidade”[1]. Concebida deste modo, na ética sexual, as normas proibitivas estarão longe de causar regressão e perturbações neuróticas.
Humanamente a dimensão pessoal do sexo humano humanizou-se à medida que consegue integrar, na unidade da opção pessoal, os diversos níveis da sexualidade (genética, erótica, volitivo-racional) e actua na sua dimensão de modo sempre adequado com facilidade e gosto. “Porque a sexualidade afecta globalmente a pessoa e interpela o outro na sua integridade pessoal”[2]. Na dimensão conjugal a sexualidade exige fidelidade monogâmica e indissolúvel: a “pessoa é intransacional e permanente”[3], mas para isso é necessário que o matrimónio seja uma autêntica comunhão de vida e de amor colocando e possibilitando a “perfeita harmonia e complementaridade das características heterossexuais, e mutua compreensão enriquecedora”[4] na base do respeito devido ao modo de ser de cada um.
Concebida na vertente religiosa é imperioso reconhecer na sexualidade uma abertura ao transcendente. “Deus enquanto criador é autor da bissexualidade, tendo outorgado na boca dos profetas, o salto mais apto para nos dar a conhecer o amor que Deus consagra ao seu povo pela aliança”[5]. Assim a revelação iniciada no Antigo Testamento, encontra a sua realização plena no Novo Testamento; quando Cristo eleva o matrimónio à categoria do sacramento.

II-BASE ANTROPOLOGICA DA SEXUALIDADE HUMANA
O comportamento sexual do homem é bastante diferente do animal. Apesar da diferença comportamental (cortejar, ciúme, infidelidade conjugal) existe uma diferença fundamental, responsável pela dimensão social e psicológica da sexualidade humana. Neste caso nota-se que a actividade sexual do animal é quase na sua totalidade programada pelo mecanismo do cio, ao passo que a actividade sexual humana é quase na sua totalidade a ser programada por ele próprio. Esta constatação levou Chaurchard a afirmar que o órgão sexual principal do homem é o seu cérebro. Assim independentemente dos condicionamentos biológicos, o ser humano estrutura a sua sensibilidade e sua actividade sexual com uma margem enorme de criatividade.
Os principais mecanismos deste processo são observados e analisados na antropologia sexual pela diferença ontológica, num «equipamento» diferente. Assim podemos apontar duas características da sexualidade antropológica: a não-programaçao do comportamento sexual do homem, e a possível dissociação de prazer e função biológica.

a) A não-programação do comportamento sexual do homem
Implica por um lado, numa redução dos instintos: “a sexualidade humana depende muito pouco dos estímulos instintivos (hormônios, ovulação, espermatogênese); e por outro lado numa extensão de estímulos não-instintivos (reflexos condicionados)”[6]: aqui não há limite de tempo nem de objecto, pós tudo pode ser associado ao sexo e se transformar em estímulo erótico, graças também a imaginação que não está presa a fronteiras.
Esta situação peculiar do ser humano representa ao mesmo tempo uma grande ameaça e uma grande chance. Ameaça porque “a busca desenfreada do prazer sexual, pode conduzir completamente na actividade sexual afogante, pondo em perigo a própria sobrevivência biológica”[7]. Uma chance enquanto “necessidade biológica de um mínimo de restrições sociais quase que obrigam a criar cultura através de algumas normas ainda que rudimentares, como a proibição do incesto”[8]. Assim nota-se que a passagem do pré-humano para o humano é marcada por algumas normas de comportamento como a estruturação cultural dos impulsos sexuais que deve ser classificado entre as necessidades primordiais do homem e dentre as suas primeiras realizações civilizadoras, como o instrumento e a linguagem.

b) A possível dissociação de prazer e função biológica
O homem pode chegar ao cumulo de dissociar a tal ponto o prazer e a função, que o primeiro se volte contra a segunda. “Assim o homem é capaz de cultivar o prazer sexual, entre os dois extremos, pura racionalidade e puro prazer, existe a vasta área de humanização do eros, fonte inesgotável de inspiração artística e manancial generoso de cultura”[9]. Deste modo a cultura oscila dialecticamente entre as duas tendências de erotizar e desorotizar.

III-SEXUALIDADE CRISTÃ
Poucas são as palavras de Jesus sobre o sexo e o matrimônio, prova de que no conjunto da sua mensagem este assunto era periférico. Ao passo que Paulo na sua carta aos Gl 3,28 em outras palavras diz tanto o casamento como o celibato, tocar em mulher ou ser asceta, dependem de um dom de Deus (carisma), de vocação (1Cor 7,7). No fundo não há prioridade de um sobre o outro. Assim Paulo recomenda aos ascetas cautela e a continência aos casados (Gl 2-6).
́‛Deste modo aproveita para lembrar o ensinamento de Jesus sobre a indissolubilidade, já bem consolidada na tradição apostólica (Gl 10-11). Nos conselhos às várias categorias de não-casados, revela uma nítida preferência pessoal pelo celibato, alegando dois motivos: o tempo é curto (Gl 29-31) e o casamento tolhe a disponibilidade apostólica (Gl 32-35). Portanto esta reserva de Paulo se enquadra bem na fé bíblica, que vê no homem uma criatura de Deus, mas uma criatura diferente das outras, chamado a dar-lhes nome, domina-las e a dominar a si mesmo. A esta reserva ascética se juntou a reserva escatológica. Entretanto, esta dupla reserva não chegou a abafar a veia bíblica de optimismo (Deus viu que era bom), nem o bom senso.’[10]

IV-ÉTICA DA SEXUALIDADE
Podemos aqui distinguir três linhas de pensamentos, cada qual naturalmente com diversas variações sobre o tema: a ética sexual tradicional, a ética sexual hedonista-utilitarista e a ética sexual personalista.

a) A ética sexual tradicional
Esta ética, elaborada no âmbito das Igrejas, se encontra padronizada na longa série de manuais de Teologia Moral e das monografias «de castitate et luxuria». Tem as seguintes características:
* Seu fundamento é a lei natural, concebida de um modo estático e fisicista;
* Suas normas, por serem deduzidas da lei natural são tidas como inflexíveis e imutáveis;
* O valor essencial, ao qual outros eventuais valores devem estar sempre subordinados, é a procriação, chamada de «fim primeiro»;
* A norma básica é: relações sexuais só se justificam no casamento e quando «funcionais», isto é, quando são «por si aptas para a procriação»;
* É uma ética que vê, por toda parte, o perigo de pecado. Além de uma excessiva preocupação na classificação dos pecados contra a castidade, demonstra um rigor todo especial quanto a gravidade dos pecados sexuais. Assim “toda a procura intencional de prazer sexual, ainda que incompleto, é sempre considerada pecado grave”[11], isto é, não se admite um mais e menos, como acontece em outras áreas. Portanto este modo de pensar ficou vivo na Declaração sobre alguns pontos de ética sexual, publicada pela Congregação para a Doutrina da fé em 29.12.1975.



b) A ética sexual hedonista-utilitarista
Aberta ou velada, esta ética é veiculada por todos meios de comunicação. É artigo de consumo e divertimento fácil. “Caracteriza-se por um «monismo» e pelo «instantaneismo»”[12]
Monismo porque o que conta é o prazer, o divertimento; uma moral instantâneo porque rejeita toda «economia», todo adiamento do prazer. É a teoria da vontade aqui e agora. Esta ética é mais movimento, reivindica a abolição do casamento, plena liberdade sexual para jovens e crianças. Reivindica também direitos iguais para as chamadas «minorias sexuais». Só admite a restrição de respeitar a liberdade do parceiro e nunca forçá-lo a determinado comportamento sexual.

c) A ética sexual personalista
É um processo bem mais complexo, que inclui o antropocentrismo, a secularização e toda a infra-estrutura socio-económica da civilização técnica. “É uma nova cosmovisão que esta levando a um repensar de toda ética, particularmente da ética sexual”[13]. O personalismo é um destacado e é um pouco comum a todos esses moralistas (Catholic Theological Society of América) mas, além do personalismo, naturalmente tomado em sentido intersubjectivo, há outras características, como por exemplo, a ênfase dada a fenomenologia existencial.

CONCLUSÃO
A primeira nota de maior relevo é de que a sexualidade humana afecta globalmente a pessoa no seu comportamento, interpela o outro na sua dimensão conjugal exigindo a fidelidade e respeito ao modo de ser de cada um. Outro sim reconhecendo na sexualidade uma abertura ao tanscendente dá-nos a entender o amor que Deus consagra ao seu povo pela aliança. No aspecto comportamental do homem ela exige uma diferença responsável pela dimensão social e psicológica programada, associando o prazer da função biológica. Portanto tendo em conta o pensamento tradicional, utilitarista e personalista, a ética da sexualidade chama atenção ao aspecto procriação que é o fim primário.


BIBLIOGRAFIA
SNOEK, Jaime Ensaio da Ética Sexual, sexualidade humana, Ed. Paulinas, S. Paulo, 19814.
J. Cohen, J. Kahn, Sexualidade, Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura, Ed. Verbo, Lisboa, 1976.


[1], J. Cohen, J. Kahn, Sexualidade, Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura, Ed. Verbo, Lisboa, 1976, pág. 1908.
[2] ivi  pág. 1908.
[3] ibidem pág.1909.
[4] ivi pág.1909.
[5] ivi pág.1909.
[6] SNOEK, Jaime Ensaio da Ética Sexual, sexualidade humana, Ed. Paulinas, S. Paulo, 19814,pág. 54.
[7] ivi pág. 54.
[8] ivi pág. 54.
[9] ivi pág. 54.
[10] cfr. SNOEK, Jaime Ensaio da Ética Sexual, sexualidade humana, Ed. Paulinas, S. Paulo, 19814, pág.21.
[11] ibidem pág. 138
[12] ibidem pág. 139.
[13] ibidem pág. 140.

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