quinta-feira, 5 de maio de 2011

O PENSAMENTO DE MARX


1. Visão Prospectiva do Pensamento de Marx

A obra dos Autores da colecção Grandes Pensadores volume 14 nos auxilia com um argumento orientador que reconhece ainda hoje Marx como um pensador que revela uma vontade de compreender, abarcar, gnosiologicamente e conhecer além da simples opinião. Muitos como Platão, santo Agostinho, Nietzsche, Karl Popper, muitos destes formaram o pensamento da civilização actual. Uma Visão da História como dinâmica (não é dinamismo) e evolutiva.
No nosso caso, encontramos (achamos) em Marx os instrumentos e métodos que constituem o motivo e como que argumento preliminar enraizado na análise clara e rigorosa que surge na parte e arte do Pensamento para situar a época, a vida, a obra e as preocupações, anseios, esperanças, dores, e desesperos do pensador e tal guiou o seu edifício filosófico, inseparável do económico.
Um pensamento sereno, sem nenhum obstáculo gnosiológico e epistemológico  - como o idealismo, materialismo, socialismo, democratismo, espiritismo, carismatismo … - está  aberto aos desafios do mundo Actual.
“ Marx pensador inquieto que não dissociou, devido ao seu ideário e caminhada académica, a filosofia da economia”. Qual é  o lugar do  operariado,  - qual é o lugar dos caídos (distinguir bem e com calma sem idealismo nem outros ismos)  enquanto a história avança e a Ecclesia na sua Pastoral Social vai recolhendo, ouvindo, vendo , rezando… com eles e elas - no seu labor  contribui significativamente  para o desenvolvimento da humanidade. O operariado é como que um dos  motores do desenvolvimento da humanidade. Está aqui patente algum materialismo ou mera coisificação impositora à outra realidade?
Marx nos ofereceu a oportunidade e nós hoje   oferecemos também aos demais para estudar  as Teorias e abordagens que se destinam a aprofundar os métodos de produção na nova sociedade de  diversidades  e pedir perdão à Igreja por invocar o santo nome de Deus em vão numa sociedade industrializada. A ideia de trabalho: foi abordada a ideia de trabalho extra com argumentos fortes . a ideia definida por Marx coincide com muitos aspectos vigentes nas constituições. Os seus discípulos, com o salário tranquilizador, no período pós Marx implementaram tal edifício florestal onde tudo pode e tem, a maneira dos ideários revolucionários;  com  ideários revolucionários  contra o equívoco ideológico, como quase  sempre: a utilização da matéria prima, a sua transformação, o papel do operário até então mergulhado numa situação  de limiar da escravatura e da exploração do homem pelo homem.
Conhecedor desta realidade incentivou a unificação operária em sindicatos, atendeu os problemas associativos, investigou o modo de obter  um melhor rendimento nas cadeias de produção de cada sector e promoveu uma nova classe operária  dentro do  que deveria ser melhor e o melhor Estado possível.  “Marx mais do que um ideólogo foi um pensador, um espírito empenhado em tornar possível um mundo mais justo e isento de abusos, um mundo onde se gerem frutos sem opressão”. Vem nesta linha a religião como ópio do povo não porque Deus não exista, mas por causa da ditadura do analfabetismo religioso mesmo na classe clerical ou dos que assim se supõem e propõe – por exemplo a predestinação calvinista, as seitas extra e intra eclesiais de hoje.
Na nossa humilde opinião a Filosofia lida a partir da vida real de um autor / Pensador nunca deve ser vista como um anexo dado que cada pensador é filho do seu tempo e contexto e nenhum ser humano pode pensar fora da História e do tempo (- é impossível desenvolver tal actividade no céu); por isso, ter em conta a sua Biografia é sempre importante antes e ao abordar e pensar sobre o seu pensamento e ele próprio.
A alienação é uma inquietação política, filosófica que não deve deixar indiferente o homem de Deus e o Pastor das ovelhas tresmalhadas  cujo leite é sugado pelos mercenários pastores.
A transformação é uma preocupação justa para quem tem o Homem como centro ou o intérprete no cosmos.
As dificuldades económicas humanas e as nossas dificuldades existenciais de dignidade e dignificação são efeito de uma causa que radica ou melhor enraizada nas cadeias estruturadas em Instituições embora em transformação em vista ao Bem que é o Ideal, estão numa etapa (quiçá) passageira, entretanto numa passagem necessária até recomendável a que o próprio não se deve imiscuir e recuar adiando-a, com vista a viver in se o que o mal dói e implica. Assim, por exemplo, para matar a morte é imperioso saborear no âmago a maldade deste último inimigo do bem e da vida. (Um convite aqui a revisitar a vida de Cristo e recolocá-la fielmente na História da humanidade). 
Uma sã Teologia deve ser antecedida por uma arguta (agudeza de espírito, finura de observação; raciocínio capcioso; raciocínio requintado; penetração; capacidade de lidar com situações difíceis habilmente e sem ferir susceptibilidades; também Diplomacia na procura da sabedoria - verdade) Filosofia. Por isso, propomos desde já uma releitura do Doutor Angélico para re-situar a vida da Igreja no Hoje dos nossos dias de muitos desafios, esperanças e alegrias (algumas falsas e fáceis e outras sinceras mas que passam pela árvore da vida). Philosophia ancila Theologiae est; o mesmo é dizer  Theologiae ancila Philosophia est. Às vezes nos parece que as línguas clássicas são desordeiras mas é aqui onde radica a sua cientificidade incontornável, inadiável que se impõe também nos dias de hoje em que confundimos o the time is Money com o the Money is in the time. 
Aqui, pois, e em sintonia com o humanismo de Marx, não se deve dispensar o homem e a mulher ou a mulher e o homem deste tempo e nestes tempos de trabalhar para a (s) sua (s) dignidade (s) e dignificação  fundada na sua identidade. Entretanto acção e pensamento são inseparáveis e estão interligados. Imperiosamente, os dois actos ou as duas actividades e missões têm de se reactualizar  continuamente com critérios nunca não mas sempre sim em prol do Desenvolvimento humano e cósmico que  implica e pode implicar correr o risco e riscos ou não, e adiá-los ou recuar no momento da Sexta – feira dia do jejum. Propormos pois que a Teologia seja reconhecida como uma Ciência com Estatuto Epistemológico Específico desde sempre -  é pois, uma Grande Faculdade e Indispensável Modo e procedimento na procura e ao encontro da SumaVerdade/Sabedoria. Isto implica, naturalmente Reformas corajosas que devem começar pela nossa própria conversão e entre nós.
Olhando para o status quo em nós e entre nós das Instituições estruturadas com o sagrado dever  de ir ao encontro da verdade de tudo e  de todos, não deveríamos pôr de parte ou só de lado o Livro dos Livros, a Biblioteca incomparável com todas – a BÍBLIA, não só no seu mês, o Setembro.
Situar e compreender Marx não é tarefa de um ano nem mais, pois, não é fácil compreender quem coloca o centro do seu pensamento no ser que não é apenas  um problema (ou/e ou e/ou de problemas) mas é mesmo e ele próprio ou para si um mistério (cfr. MARCEL, G.).  Colocamos, finalmente, a seguinte: Como coisificar a criatura que o Criador– Salvador – Santificador - fez/consid-e-ra (-ou; rá…) Sua imagem e semelhança – Irmão – o tocado, numa História  que não dispensa a Virgem Mãe?
Outras abordagens/questões (re) abertas: Normalmente e quase sempre, quando uma palavra é/significa Ciência (cujo étimo é latino), tal palavra termina não  com/em  (um) sufixo , mas com outra palavra – quase  sempre - ( podemos propor outro dinamismo linguístico) ou sempre. Esta outra palavra é logia (cujo étimo ou mãe é o grego/grega; é do género feminino – mas não significa que ela seja mulher – apenas para rir, porque a ciência pode se fazer a rir, a chorar, a cantar… e sempre a rezar) -. Esta Palavra “logia” podemos entendê-la como?:
Estudo? Lógica? Ou até mesmo Dinamismo Epistemológico – gnosiológico?
Estamos a colocar esta Questão  clara, séria, interessante e imperiosa hoje. - (por exemplo Informática – mas para nós isto ainda não nos diz respeito embora nos interesse) – A abordagem que propomos é : uma palavra que ou quando termina com o sufixo “ismo” pode até significar Cadeia ou gaveta da tal ciência, da palavra a que se junta este sufixo. Segundo a análise que estamos a fazer e a abordagem e tarefa – missão epistemológica onde os Direitos devem ser salvaguardados, Marx é um pensador sui generis e talvez extra modum e, em alguns casos, extra muros. E o Marxismo?
Na nossa humilde maneira de ver e reflectir nesse diálogo científico em que as línguas jogam um papel  fundamental,  não é justo incluir o Marxismo no Catálogo das Ciências Sociais e Humanas – pode-se abordar, aliás é uma questão para alguns ultrapassada para outros ainda em abordagem. E neste mesmo catálogo não encontrar Marx, por exemplo na parte que diz : Filosofia, mas encontrá-lo na parte que diz: Marxismo. Isto nos leva a reflectir e propor um estudo sério, nesta Instituição,  sobre as Ciências Sociais, Humanas e a Filosofia e ainda propor a Inclusão da Sociologia como Curso Independente,  embora em comunhão com os outros na  mesma mas diversificada missão ao encontro ou á volta da verdade do mundo humano e social. – Estamos a fazer referência  ao Instituto Superior de Ciências de Educação ( ISCED) do Lubango, Angola.    

2.  A Liberdade Humana

A grande polémica de Marx contra Proudhon é, de modo particular, na primeira parte da sua obra Misère de la Philosophie, à volta do valor. Por causa da concentração  e  da sobrevalorização do valor e  do homem visto nesta relação intrínseca com o seu trabalho para a sobrevivência e  existência, a liberdade humana como dom de Deus é, naturalmente e profundamente, posta em questão.
Proudhon para conciliar e salvaguardar a relação entre valor de uso de um produto e seu valor de troca põe  como sustentáculo a doutrina do livre arbítrio. Ou seja, o homem é livre de se decidir em adquirir ou não um determinado produto tendo em conta a disparidade entre o que vale em si mesmo e o que tem de se gastar para o comprar.[1]
Proudhon radica a sua concepção económica na concepção iluminista da sociedade como mero equilíbrio dos arbítrios individuais. O fundamento último não é a pessoa humana em si, mas o individualismo que está na raiz dos movimentos capitalistas e liberais do sec. XIX.
Daí que para Proudhon entre valor de troca ( compra e venda) e o valor de uso há uma oposição que  se reduz na oposição entre a procura e a oferta, ou entre a escassez e a abundância de bens.
Se bem que ele põe no fundo da sua argumentação o livre arbítrio como base para a decisão quer do comprador como do vendedor. Proudhon defende o individualismo e a arbitrariedade, pois, segundo ele cada um é capaz de dizer “ eu sou juiz da minha necessidade, juiz da conveniência do objecto”.
Para Marx também o fundamento é o homem na sua dimensão como mero produtor e não como indivíduo.  Para ele a questão não está no valor das coisas que se produzem mas nos diferentes processos de produção: “ geralmente, as necessidades nascem directamente da produção ou de  um estado de coisas  baseado nela. O comércio do universo gira quase inteiramente sobre as necessidades não do consumo individual mas das necessidades da produção”[2].
O fundamento do comércio, nesta óptica, não são as necessidades dos membros da sociedade (os indivíduos) mas as necessidades de produção para a mais valia e isto condiciona as necessidades individuais. Daí que a produção  no fundo e em grande escala recorre à propaganda e à linguagem de tipo apelativa e injuntiva publicitária para a conquista da clientela.
Marx em contrapartida não só nega a liberdade  falsa de Proudhon que recai no individualismo, como também nega a verdadeira liberdade humana como dom de Deus. Marx põe o fundamento do comércio e da economia a produção material entendida dialecticamente. O fundo de  Marx é o colectivismo. Não há liberdade nem para o produtor nem para o comprador, o que determina é submeter-se a um processo dialéctico rigoroso material, supra individual. Isto menospreza a pessoa humana ou a sua dimensão como indivíduo com todas as suas liberdades fundamentais. Diante dos bens o homem não é  livre em escolher ou se auto – determinar.
O colectivismo materialista é contra o individualismo e o próprio indivíduo.
Marx na sua obra A Miséria da filosofia reprova sistematicamente o comércio individual, a livre concorrência que permite uma pessoa entre e esteja em relação com outra para um intercâmbio de qualquer produto. Passa-se do  liberalismo para um sistema económico e uma nova dinâmica comercial o que implica dissolver a sociedade capitalista e criar uma nova sociedade.
Marx é contra o igualitarismo salarial que se baseia na concepção económica de Proudhon sobre a relação entre trabalho e valor – calculado pelo tempo de produção com um fundo individualista a favor do empregador e capitalista em prejuízo da classe trabalhadora.
Na visão determinista e materialista da história de Marx era inconcebível tal situação da sociedade burguesa não desembocar numa antítese existencial da humanidade que promovesse uma revolução contra o capitalismo, uma luta de classes que promove a mudança ideal.[3]
Como pretendia Marx demolir na totalidade o sistema capitalista nas relações socioeconómicas e, por conseguinte a mudança política, era impossível sustentar uma sociedade onde é promovida a dignidade da pessoa humana  e como já vimos nem as suas liberdades fundamentais, por isso tem de propor e impor o colectivismo ou melhor o socialismo e nesta altura a pessoa humana fica diluída pelo e no processo da produção social dos bens com fins comerciais[4].
Marx sustenta que a livre concorrência ou o intercâmbio livre deve ser regulado pelo bem comum colectivo, promovendo uma socialização que não tem nada a ver com a iniciativa e responsabilidade individuais. Vistas bem as coisas, o colectivismo de Marx é desumano e desumanizante apesar do seu antropocentrismo e ter boas intenções de combater a exploração do homem pelo homem.
De facto é justa a perspectiva de Marx em defender o trabalhador contra o capitalista que o aliena apropriando-se do que devia usufruir como fruto do seu trabalho. Tal situação impede, naturalmente, a realização pessoal do operário. Mas o que Marx propõe e impõe como estratégia para combater tal exploração do homem pelo homem desemboca, consequentemente, na diluição do indivíduo pela sociedade como factor essencial de produtividade.
Por outro lado, para Marx vistas bem as coisas, no processo produtivo, o indivíduo, a pessoa humana a fim ao cabo, como vendedor ou comprador, é uma ideia abstracta e na sua relação vendedor e comprador, empregador e empregado, torna-se numa relação de duas ideias contraditórias.
Nesta proposta socioeconómica o trabalho é também “trabalho abstracto” – não é concreto, ou seja, não é todo o trabalho que dá felicidade a uma pessoa e a sua energia gasta para a sua existência.
O trabalho individual não conta, já que a pessoa humana individual também não é considerada como tal nesta proposta de Marx. Ele despe a pessoa humana, o indivíduo concreto da sua dignidade que se atribui à humanidade na sua totalidade. O indivíduo, na dialéctica histórica é apenas um momento a considerar mas a esquecer a favor do colectivo. Se recorrermos à Antropologia Filosófica enraizada na reflexão ontológica de S. Tomás, por exemplo, encontramos aqui uma séria deterioração e deturpação ética e um reducionismo que desemboca na coisificação da pessoa humana. Apesar de ter o fundo de libertar o ser humano de todas as alienações o resultado do projecto socialista é a coisificação do indivíduo a favor do social.
Com o indivíduo coisificado muitas outras dimensões e funções da pessoa humana, o seu sentido ético e moral fica diluído e profundamente comprometido. Dimensões e funções humanas como a família, a religião, a política, a cultura, a ciência – o conhecimento, etc., tudo fica socializado no colectivismo demolidor da individualidade. Se tivermos em conta, por exemplo, os princípios de S. Tomás que gozam como que de perenidade na história de todos os povos e lugares, princípios como: “A acção é do composto, como o ser, do existente é trabalhar”; “o suposto significa como um todo que tem a natureza como parte formal”[5]. O acto de ser (actus essendi) é sempre próprio do sujeito individual (sopositum)  (ad quod habet esse)[6]. 
Não podemos, pois, menosprezar a pessoa humana na sua integridade “ essencial” e “ existencial”. O sujeito, o ente individual, é o que subsiste e, por conseguinte, o sujeito de acção – causa da acção. O agente com responsabilidade individual que em Marx é diluída no social[7].
Marx no processo dialéctico da história dá toda a importância de acção à sociedade – causa do seu monismo materialista – por causa da consciência universalista, que vem a ser concebida já desde o Espírito Absoluto de Hegel.           

 3. A Luta de Classes e a Revolução

Para Proudhon, Marx, e outros naturalmente, o bem comum para o qual tende e deve tender a sociedade é o material e o que tal implica e supõe. Proudhon era pelo igualitarismo sócio - económico, para tal propunha uma reforma administrativa da sociedade que devia consistir sobretudo na eliminação da oposição entre burgueses e o proletariado e impor uma igualdade universal na participação dos bens materiais.
Marx, embora também apontasse a igualdade como o ideal, propunha outra modalidade e outros critérios para chegar a uma sociedade homogénea. Marx critica e refuta o método da simples reforma administrativa do seus contemporâneos socialistas (Francês e outros) em vez de tal, propunha o caminho da revolução total -  uma revolução entendida como  ápice  da evolução dialéctica da historia radicada e que subjaz na luta de classes que constitui como que o motor da historia. Com a revolução que consistiria na mudança total  da sociedade actual (a do seu tempo do capitalismo e liberalismo exacerbado) para se chegar a uma nova sociedade, livre de classes, antagonismos e alienações. «a igualdade de Proudhon constitui a intenção primitiva, a tendência mística, o fim providencial que o génio social tem constantemente diante dos seus olhos, dando sempre voltas no circulo das contradições  económicas».[8]
Marx na sua visão dialéctica da história    a classe sofredora quando consciente da sua condição como força e por isso assumindo-se  coloca-se na condição e na exigência histórica e inadiável de empreender uma luta para a sua própria salvação ( histórica e na história).
É exigente sobretudo se tivermos que rebuscar bases éticas da também revolução cristã do amor ao próximo («…amai –vos uns aos outros como eu vos amei» Jo.13,34) – dizer que pretender demolir a tendência e a proposta utópica dos socialistas que Marx critica propondo um método determinista e materialista, embora com um fundo messiânico liberacionista contra a alienação política, económica e religiosa não é humanismo, acaba por ser, não tanto e apenas utópico mas  acima de tudo destruição  do próprio homem,  este ser por natureza  politico, segundo a concepção de Platão pelo carácter ateísta de tal redenção, com  fundo materialista.
Ou seja: Não é mal nem é ilógico, nem talvez anti – politico insistir na consciência de classe politica por parte da humanidade sofredora  e alienada em muitos sentidos e aspectos, sobretudo se for para empreender uma empresa tão desafiante como é a construção e constituir uma sociedade onde não haja explorados e, consequentemente, exploradores;  É pois, um ideal justo e ainda exigente retomarmos o mandamento novo   do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti próprio. 
Todavia propor a luta de classes, pura e simplesmente e com base numa lógica materialista é promover o ódio e a guerra desumana, mesmo se for justa ou ao menos com um ideal justo. Neste sentido é imperioso aliar a esta vontade de restaurar uma nova sociedade  como Proudhon, Marx e outros pretendiam, efectivamente, um humanismo são que não separa o homem de Deus ou Deus do homem, nem os homens entre si, dado que um humanismo sem Deus e contra os homens entre si redunda numa politica que desumaniza, com ódios e injustiças inimagináveis, sobretudo também quando se concebe a pessoa humana não com e na sua personalidade, dignidade e sacralidade, mas como um  elemento da classe  social  a que se deve totalmente submeter  para encontrar a sua realização nesta terra.

4. A visão/ Pensamento de Marx a Partir da sua obra “Das  Kapital”

Marx é um “pensador” da idade moderna crítico do capitalismo. É necessário, pois, não retirar Marx deste Siete im leben, ou seja, deste contexto “ideológico” e deste momento da Historia da humanidade.  É ainda aceitável e imperioso sobretudo como critério epistemológico entender o termo “critica” segundo a própria Filosofia da idade moderna, em grande ênfase Descartes, não só com a sua máxima de “je pense donc je suis”  mas, de modo particular com a sua prioridade da busca  do valor do conhecimento humano,  apoiando-se na própria razão - a razão pura, ou seja,  desde já saibamos  que o “Das Kapital” de  Marx é como que a critica da economia como ciência e como modus vivendi  na Alemanha, na Inglaterra, na Franca, terras e cidades por onde Marx foi peregrinando, numas como cidadão, noutras como exilado e muito menos como deslocado.
Neste contexto, no ano de 1859, com 41 anos da idade e 24 anos antes de morrer, (hoje já é possível fazer  estas contas e estes cálculos, ele naturalmente  não  os fez), tinha  terminado a reconhecida como sua primeira obra económica de relevo considerável com o titulo, em português “Contribuição para a Crítica da Economia Politica”.
O pensamento e a Filosofia de Marx segundo esta obra se resume nos seguintes linhas, em síntese «A vida social está enraizada na vida económica  na forma como as coisas são produzidas na sociedade. As relações sociais assentam nas relações económicas” (o grifo é nosso).[9]
Se o modo de produção é capitalista a vida na sociedade (a vida social) é feita com base no princípio e na medida do capital (do dinheiro, por exemplo). A pessoa, o indivíduo, é segundo o seu capital.
Ainda nesta  obra colhemos o  seguinte pensamento na sequencia do contexto:
Acima destes dois planos surge a correspondente super - estrutura, composta pelas leis e a consciência social que espelha a estrutura económica.  Outro exemplo: Se o modo de produção é socialista vamos supor que exista, acima dele estão as respectivas leis que regem e gerem os órgãos (políticos) e a consciência dos membros numa sociedade socialista é de igual modo assim, desta maneira e nestes moldes - como estrutura acima da vida económica e das relações sociais, das pessoas entre si.
A maneira de pensar e as ciências,  a vida politica, o Fenómeno Religioso, a mentalidade  de uma sociedade, por exemplo, são determinados inteiramente pela forma como os bens são produzidos na tal e respectiva sociedade: «o modo de produção na vida material determina o carácter geral dos modos social, político e intelectual existentes. Não é a consciência dos homens que determina a sua existência, é pelo contrário, a sua existência social que determina a sua consciência».[10]
Das Kapital de Marx não é uma obra qualquer, nela Marx se revela, em todos os sentidos, como analista económico incontornável e indispensável como os ingleses Adam Smith e Keynes.
Entretanto o primeiro volume foi Publicado 1867 em Berlim (1867). Tem em conta o seguinte na vida de Marx: Em 1845 é expulso da França e instala-se em Bruxelas – Bélgica. Em 1848 termina com Engels a obra O “Manifesto do Partido Comunista” e regressa à Alemanha. Neste mesmo ano é dissolvida a Assembleia na Prussiana e são suspensos  os direitos democráticos pelo Kaises Fraderico-Guilherme IV.
No ano seguinte Marx protesta contra tal decisão e é encarcerado e julgado. Tendo sido absolvido por complacência  do seu júri é extraditado do  seu País (Alemanha) para a Inglaterra – Londres, com a sua família. Nesta altura Inglaterra era a sociedade industrial mais avançada do mundo na sua dimensão e eficiência.
É neste mundo industrializado onde Marx viveu exilado, pobre e despojado algumas vezes até do direito a uma habitação porque não pagava as rendas de casa, não porque não queria mas porque não tinha tais capacidades.
Entretanto nunca parou nem de pensar, reflectir e, naturalmente,  de escrever. E assim foi gerando o Das Kapital que pode ser vista, analisada e definida como a obra que investiga os mecanismos económicos no contexto, na realidade concreta da Europa e da Inglaterra de modo particular no século XIX.
O Das  Kapital é uma obra escrita no ambiente Britânico  em Alemão, publicada na Alemanha mas foi traduzida em  Inglês só depois da morte do autor.
É considerada a sua melhor obra,  mas também a menos fácil para entender o seu conteúdo – é a menos inteligível. Diz-se que um dos conhecidos pela maioria dos pensadores e estudiosos das Ciências sociais de modo particular da Economia, como o melhor aluno de todos os tempos do curso de Economia na Universit of  Oxford, Harold WILSON, é proprietário de um famoso comentário, simples mas profundo, objectivo e desafiante para nós todos diante do primeiro volume do Das Kapital com mais de mil paginas,  não só pela sua extensão quantitativa mas também pela sua ininteligibilidade, Harold WILSOn comentou simplesmente: «nunca li Marx».[11]

 5. O pensamento de Marx a partir do Manifesto do Partido Comunista

As questões abordadas na obra  “Miséria da Filosofia” e na colossal obra o Capital são como que omnipresentes no pensamento filosófico social e económico de Marx, do Marxismo e do materialismo; só as perspectivas de abordagem é que vão se diversificando; não apenas com a mudança de nomes  das mesmas realidades  mas também com a mudança dos modos gnoseológico e epistemológico e consequentemente dos modi vivendi.
Uma Filosofia fechada em si sem se abrir à sociologia ou vice-versa abordam os seus objectos que muitas vezes são os mesmos, cada uma na sua especificidade com a profundidade que caracteriza cada uma delas ou com objectividade, a verdade que se supõe, implica e se impõe é que: quer uma quer outra podem ser e em alguns casos são apenas uma parte da mesma «questão».
Não está aqui só uma obrigatoriedade da releitura da historia da Filosofia por exemplo ou até da Historia universal mas também o imperativo do diálogo das ciências, das visões e das abordagens.
O Teólogo não é inimigo do filósofo; o filósofo hoje não é dispensável por causa do sociólogo ou da evolução da economia, politica, da demografia, etc.
Ou seja: se o pensamento filosófico na idade moderna nos abre e encaminha para o da idade contemporânea; o idealismo de Hegel e o materialismo de Marx podem encontrar a sua relatividade com o existencialismo de Heidegger e outros e ainda com o personalismo de Gabriel Marcel e a  filosofia da linguagem  de Wittigenestein que não se supõe livre também da filosofia da Historia espalhada por todas as etapas da caminhada da história da filosofia.
Também aqui está enraizada a obrigatoriedade não meramente epistemológica mas também orgânica da interdisciplinaridade e da multidisciplinaridade. Por exemplo a pastoral não se pode engavetar nas analises e talvez na ditadura fixista dos cristãos sabidos contra a matéria, que se esquecem que Deus é omnipresente, ou seja, ate está presente na historia e na vida de todos os povos e indivíduos …
Tal como a pastoral não se deve fechar apenas no que se supõe ser a pureza eclesial assim também a politica não se deve autonomizar nem da ética, da religião, da teologia nem da historia dos povos, etc.
O manifesto do partido comunista constitui um programa particularizado, teórico e prático, que Marx e Engels edificaram a favor da liga dos comunistas a que tais pensadores pertenciam: «chegou a hora e a ocasião de expor aos olhos do mundo suas opiniões, seus fins, suas tendências e de opor à pueril lenda do espectro comunista um manifesto autêntico do partido».[12]
Esta obra é considerada como da maturidade porque oferece uma visão global da sociedade burguesa e aperfeiçoa a teoria do valor – trabalho que Marx criticou e negou explicitamente na sua juventude, mormente na sua obra a Miséria da Filosofia contra a Filosofia da Miséria de Proudhon.
A aceitação da teoria do valor - trabalho coincide com a formulação do materialismo histórico como determinismo sócio - económico.
Marx e Engels sustentam a relação inseparável entre a história e a política.
No manifesto do partido comunista encontramos esta tendência e perspectiva de analise e interpretação da realidade social. É, pois, uma obra que busca a compreensão teórica do movimento histórico na sua conjuntura. Esta obra não é meramente uma concepção política inventada por certos reformadores.[13]
Radica nesta obra a interligação da política com a história e vice-versa. A politica é vista como o fundamento filosófico da historia e particularmente da história contemporânea a tal politica e tais políticos. O mesmo é dizer que a história, a politica, a filosofia da historia e a filosofia politica se movimentam numa coexistência epistemológica e orgânica exigente para a sua sobrevivência, desenvolvimento e  aperfeiçoamento. O mesmo é dizer por exemplo uma democracia não pode nem deve estar alem, aquém ou alheia à realidade de um povo, de um pais, de um continente e do universo todo.
Como afirmam nesta mesma obra Marx e Engels ate ao presente toda a historia da sociedade humana é a história de luta de classes, é nisto que eles concebem ou entendem a historia como a sucessão de factos humanos individuais e sociais e se reduz à sucessão dos actos livres do homens.
A historia consiste na luta de classes, por exemplo da classe dos homens livres contra os escravos; a plebe contra os patrícios; a nobreza contra os servos; os empregados contra os empregadores e vice-versa: Em síntese é a luta dos opressores contra os oprimidos e vice-versa que caracteriza a história da humanidade.
Assim, se caracterizam todas as etapas da historia do mundo. A luta é a essência da historia da humanidade; A luta é acicate e condição da transformação revolucionaria da sociedade e, efectivamente, do fim ou destruição das duas classes em luta.[14]
Sendo assim a politica deve interessar-se com o contexto real e contemporâneo da historia do povo, ou de um povo.
Marx e Engels qualificaram a historia do seu tempo como sociedade burguesa; esta é sucessora e é tida como consequência da sociedade feudal; entretanto quer antes como depois, as condições de opressão existiram e existirão sempre embora tenham evoluído tendo surgido novas condições de opressão: «a nossa época, da burguesa, tem um carácter particular que é o de ter simplificado  os antagonismos de classes. Sem interrupção e cada vez em maior medida a sociedade inteira se divide em dois grandes campos inimigos e em duas classes directamente opostas: A burguesia e o proletariado».[15]
Todavia, propor a luta de classes que desemboca numa guerra entre grupos não é nem ético nem político. De facto, esta interpretação social da existência de classes antagónicas como promotoras do desenvolvimento económico e social não está aquém da verdade; porém é humanitário propor uma estratégia na gerência dessas classes para a convivência pacífica e  sua coexistência apesar das diferenças. 
A unidade com o semelhante não deve ser o princípio da anulação do diferente no modo de pensar e de encarar a coisa pública e a sua gestão.
A unidade não é inimiga da diferença, aliás é o seu pressuposto, daí  a necessidade e a urgência de estratégias políticas e sociais da boa convivência e coexistência apesar da diversidade e da variedade de tendências  políticas


[1] cfr. Maxr. Miseria de la Filosofia. Pp 64 – 65.
[2] K. MARX . Miséria da Filosofia. P. 74
[3] cfr. Marx. Miséria da filosofia. Pp. 109 – 110
[4] Cfr. Op. Cit. 122
[5] S. Tomás. S.TH. III q.2.77 a z c; a.1 ad 2
[6] cf. S. Tomás S.TH. I, q.77, a 1 ad 2.
[7] cf. S. Tomás. S.TH. III, q.2,a.2c.
[8] Marx – A miséria da filosofia.P.174 apud ALVURA – A. RODRIGUEZ – (1976) K. Marx – F. Engels: Miseria de la Filosofia… p. 74
[9] Pane STRATHER. Karl Marx em 90 minutos p. 44.
[10] K.MARX apud Paul STRATHERN op. cit. P.45.
[11] Cf. Ibidem P.50.
[12] K. Marx e f. Engels. Manifesto do partido comunista P.32.
[13] Ibidem p. 60.
[14] Cfr. Marx e Engels op.cit. p.33.
[15]Ibidem p.34 e 55.

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