segunda-feira, 2 de maio de 2011

PARÁBOLA E SUA MENSAGEM

I. Introdução

Neste presente trabalho pretende-se demonstrar as linhas gerais, como trabalhar sobre uma parábola. É importante saber que cada parábola tem uma mensagem teológica em relação a missão de Jesus, e sobretudo o reino de Deus. Jesus contava as parábolas aos seus ouvintes para demonstrar um comportamento que era naturalmente diferente do normal, assim conduzia os seus ouvintes a novas maneiras de pensar a Deus e os homens. Claro que, as parábolas tinham um ensinamento ou seja serviam para corrigir certas atitudes dos ouvintes. Neste caso, os fariseus, os anciãos e os sacerdotes.
            Neste sentido, Jesus foi interpelado, varias vezes pelos seus contemporâneos, como está ilustrado nesta parábola. Pois, eles não compreenderam quem era Jesus e de onde lhe vinha autoridade de fazer tantas coisas milagrosas, até mesmo falava em nome de Deus. Como não bastasse, expulsou os vendedores, os compradores e os cambistas do templo de Iahweh. Pois, está parábola foi contada justamente para demonstrar de onde lhe vinha autoridade de proferir as palavras condenarias no templo e descobrir a profanação do templo de Deus pelos lideres espirituais.
            É importante ainda evidenciar a teologia de Mateus, este escreveu o evangelho para as comunidades cristãs que vinham do Judaísmo. Eis a razão pela qual no evangelho de Mateus encontramos muitas referências ao Antigo Testamento que de qualquer modo, dá entender que Jesus não veio para revogar a lei mosaica mas dando-a o significado pleno, por meio da sua vida, obras e acções. Neste sentido, Jesus é Filho de Deus anunciado pelos profetas do Antigo Testamento.


II. Contextualização. (Mt 21,12-17)
É imprescindível saber a ocasião em que Jesus contou esta parábola dos vinhateiros homicidas. Ora, temos algumas indicações nos vv. (10-12). Jesus entra messianicamente na cidade de Jerusalém. Estando lá, Jesus entrou no templo e começou a expulsar os vendedores, os compradores e os cambistas do templo de Iahweh, virando as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam as pombas. Cfr. (Mt 21,12-17). Isto indica que “Jesus não tolerava um sistema religioso que tinha perdido a sua pureza original do culto.”1
Os chefes dos sacerdotes e os escribas ficaram indignados com o que tinha feito no templo, De tal modo que, puseram em questão a sua autoridade. Queria saber a proveniência do seu poder. Então, para demonstrar a sua missão e o reino de que pregava contou lhes as parábolas dos vinhateiros homicidas e a parábola dos dois filhos Cfr. (Mt 21,28-32).

III. Personagens: Sacerdotes, Escribas ou seja Anciãos.

Os sacerdotes dominavam o templo sobretudo as actividades económicas, políticas e religiosas do povo. Ora, esses pertenciam à classe social mais rica, “porque a lei bíblica, Cfr. Ex. 30,11ss, exigiu que todos os varões adultos pagassem meio ciclo ao santuário, que no tempo do Novo Testamento devia ser pago em moeda de prata de Tiro”2 Como consequência disso, eles faziam parte do grupo daqueles que possuíam grande terras e também exerciam grande influência nas actividades comerciais.
Os anciãos exerciam o papel de conselheiro permanente, sobretudo na administração da justiça no supremo tribunal judaico. Eram qualificados para as questões tanto religiosas, políticas e administrativas. Este grupo era composto por 71 membro originavam – se da aristocracia sacerdotal e profana, bem como da classe dos escribas peritos na lei.3

IV.A estrutura da parábola


V 33; encontramos uma espécie de continuação enfática em que Jesus conta uma nova parábola diferente da do primeiro momento. Para fazer entender aos sacerdotes e aos escribas e aos anciãos qual era a sua missão. Aqui se inclui as acções e as responsabilidades do proprietário. Neste sentido, fez uma aliança com os vinhateiros para que tomasse conta da vinha. E, lá partiu para o estrangeiro.
V 34; tendo passado longo tempo, e era já o tempo da colheita, quis ver a fidelidade dos vinhateiros. Daí mandou os seus servos para ir ter com os vinhateiros a fim de receber os frutos da vinha.
V 35; neste versículo encontramos a resposta dos vinhateiros, que de qualquer modo, revela a infidelidade, a incompreensão inaceitação dos servos pelos vinhateiros, e de não os reconhecer como enviados de (Deus) proprietário.
V 36; encontramos o agir diferente do normal em que o proprietário tem ainda paciência e amor para com vinha. Assim, envia novamente outros servos para a vinha, mas mesmo assim não foram reconhecidos, e por fim caíram na mesma sorte.
VV. 37-38; encontramos ainda a acção compreensiva e amorosa do proprietário para com a sua vinha. Então, resolveu em enviar para a vinha o seu Filho, alegando que os vinhateiros iriam o escutarem. Entretanto, o Filho caiu na mesma sorte de ser morto fora da vinha. Aqui, se evidencia o fim da missão de Jesus em Jerusalém.
V 40-44; encontramos o envolvimento dos ouvintes na cena, então eles são convidados a fazer um juízo sobre a situação, e logo se condenam; e dão-se conta que Jesus referia a eles. Pois, no versículo 43, encontramos a conclusão ou seja aponta da parábola, o reino será lhes tirado e confiado aos outros.
V 45; por fim, os sacerdotes, escribas e anciãos perceberam que Jesus censurava o seu comportamento e a sua atitude perante a prática da injustiça ao seu povo, e a profanação do culto a Deus.

V. Análise do Texto


A parábola é dirigida, claramente aos chefes espirituais do povo, e aplica lhes não para ataca-los, mas para conscientizá-los. A vinha representava, desde Isaías, a imagem bíblica de Israel Cfr. (Is 5,17). Portanto, Jesus retomou a imagem da vinha para indicar o novo povo de Deus, herdeiro da vinha de Deus.
Temos um paralelismo nos três evangelhos sinópticos, ora Marcos 12,1 e Mateus 21,33 fizeram uma descrição estreita ligada ao cântico da vinha em Isaías 5,1-7.
V 33; dá perceber a partir dessa expressão imperativa, Escutai outra parábola; que Jesus tinha já contado a primeira parábola dos dois filhos, que aponta para a infidelidade do povo de Israel, de não praticar a justiça, porque, “é pela prática das boas obras que torna o homem justo diante de Deus” Cfr. Mt 21,28-32.
Então, por ter referência à escritura, obviamente, nas primeiras sentenças não se aborda de um proprietário terreno da vinha, mas sim de Deus e de Israel. Daí temos uma alegoria. Enquanto que Lucas omitiu a parte do proprietário não terreno, pois ele inicia dizendo; “um homem bom tinha uma vinha; ele deu-a agricultores para que trabalhassem e ele recebesse deles frutos” (Lc 20,9). Com estes pormenores dá entender que Lucas não teve acesso ao texto original hebraico, mas a tradução grega.”4
V 34; “tendo chegado o tempo da colheita” tem um pormenor a observar, é sobretudo envio dos servos. Em Marcos 12,1ss, o senhor envia um só servo aos vinhateiros, mas esses agarraram-no, golpearam-no. Pois, o servo voltou dizer ao seu senhor o que sucedeu com ele. Pois, o envio é feito três vezes e de cada vez um servo. Enquanto Lucas (20,10-20) não retoma nem a morte do terceiro servo nem da conclusão alegórica de Marcos, ele só apresenta tríplice envio e mau trato do servo enviado de cada vez. Com isso, dá perceber que foi levado pela tendência do seu estilo ou possivelmente pela tradição oral.5
Mateus apresenta um envio em pluralidade de servos e já parte deles é maltratada, outra parte é apedrejada. Em seguida, temos ainda apenas um envio; novamente uma pluralidade mais do que os primeiros e tiveram a mesma sorte. Pois Mateus pensa no caso dos dois envios nos profetas anteriores e posteriores e apedrejamento alude de modo especial ao destino dos profetas Cfr. (2cron 24, 21; Hb 11, 37; Mt 23, 37) 6
Tanto em Lucas assim como em Mateus podemos ver que só fala de varias vezes foi enviado um só mensageiro que foi enxotado de cada vez pelo empreiteiro de mão vazias e com injúrias, nada mais restou.
VV.37-38; com o envio do Filho fecha-se a narração propriamente dita, pois ele é assassinado pelos agricultores ou vinhateiros porque não o reconheceram como herdeiro da vinha. Portanto, com este ponto nos faz sair da alegoria e nos leva a Jesus Filho de Deus, herdeiro do reino de Deus. Mesmo assim, “nenhum Judeus quando ouviu sobre o envio e assassinato do Filho poderia, pois ser levado por isso a pensar no envio do messias.”7  Tanto que a ponta cristologica da parábola deveria ter permanecido oculto para os ouvintes.
Ora, em Mateus 21,39 e em Lucas 20,15 estes pelo contrário o Filho é primeiramente lançado fora da vinha e depois é assassinado— é uma alusão à morte de Jesus fora da cidade de Jerusalém. (Cfr. Jo 19,19).
VV. 44-41; Em seguida, convida os seus ouvintes a entrar na cena, fazendo lhes uma pergunta irónica, sobre o procedimento do dono da vinha face a esta atitude dos vinhateiros. No entanto, eles dão uma resposta de caracter auto condenação, “dizendo ele mandará matar os vinhateiros, entregará a vinha a outros e estes farão a vinha produzir os frutos que o dono espera. Neste sentido, a parábola fornece um espelho para as pessoas se verem, reconhecerem e dizer o que elas próprias merecem.”8
V 42; Jesus é a pedra rejeitada pelos construtores, e será o fundamento, o alicerce do surgimento do novo povo. Antigamente, o mestre da construção examinava e testava as pedras que entrariam na construção, logicamente o que não servia era posta de lado. É curioso, ver Jesus e Deus estão sendo deixados de lado na construção de uma sociedade injusta. Será realmente, deste Jesus que sairá o povo justo, aberto para todos aqueles que desejam tornar a justiça o fundamento de um mundo novo, onde todos terão a liberdade e a vida, na fraternidade e na partilha.9
V 43; encontramos a aplicação da parábola, o reino de Deus será tirado do povo de Israel (os sacerdotes, os escribas e os anciãos) por não ter praticado a justiça que se verifica pela prática das boas obras. E este reino será confiado aqueles que forem a observar a justiça, traduzindo esta na fidelidade a Deus e no amor ao próximo.
V 44; Jesus é uma pedra perigosa para os injustos, mas libertadora para os filhos de Deus. Neste sentido, o reino já não é mais dom futuro que virá mostrar-se um dia. O reino é a verdade, a realidade de Deus presente entre os seus.10

VI. A ponta da parábola

A ponta da parábola encontra-se na conclusão no v 43. Deus dará este reino aos outros que eventualmente observarão a justiça e a porão em prática. Porque o reino de Deus implica a justiça e a pratica de boas obras. Neste sentido os sacerdotes, os escribas e os anciãos conhecedores da lei da justiça, correm o risco de ficar fora do reino de Deus, por não terem praticado a justiça e as boas obras para o bem do próximo. Por isso “Jesus é o verdadeiro vinhateiro, e está acima de todos os profetas e ele veio para tomar parte na colheita da vinha, para distribuir ampla e universalmente dos seus frutos a todos.”11
Bem racionaram os vinhateiros, matando o Filho enviado a vinha tornar-se á o bem sem dono, de que poderiam tomar posse imediatamente.13 p79. Ora, a vinha ou seja o reino de Deus não tem dono, porque os sacerdotes, os escribas e os anciãos se consideravam como donos do reino e da justiça. Neste sentido, os donos serão todos aqueles que praticam a justiça e fazem boas obras da justiça, estas manifestam a presença do reino de Deus no meio do povo.

VII. Mensagem teológica


 Para descobrir as ideias chaves e a intenção pela qual esta parábola foi contada, nos é dado a conhecer que se refere a Jesus Cristo. Com envio do Filho, Deus nos faz conhecer o seu plano da salvação e a sua acção salvadora, revelando-se. Pois é, acção salvadora de amor e misericordiosa têm um começo histórico com povo de Israel. Fez dele a sua herança, e o constituiu num povo escolhido.12
Portanto, Cristo anuncia misteriosamente, nesta parábola da vinha a realização da salvação operada por sua morte e ressurreição gloriosa. O herdeiro é morto, a vinha se abre para todos. Sendo assim, a pedra angular de grande edifício da salvação é a Igreja de Jesus no mundo, nova vinha do pai, embora rejeitada por seus construtores ou seja pelos judeus e ainda por muitos hoje, torna-se para sempre a pedra de equilíbrio na salvação pessoal e de todos nós.13


VIII. Actualização da mensagem

Nesta parábola notamos de facto a temática da fidelidade a Deus, então esta fidelidade implica a justiça e como consequência, a justiça implica a pratica de boas obras e em consonância com amor de Deus. Portanto, os ofícios que somos confiados devemo-los exercer com justiça divina, que se manifesta pela pratica das boas obras e estas tem a ver com bem do próximo. Ainda mais o reino de Deus torna-se presente por meio das boas coisas que acontecem na nossa vida que são frutos da justiça, amor e de caridade. “A misericórdia do senhor se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem.” Portanto, nós pertencemos a nova vinha de Deus quando tememos a Deus e praticamos a justiça para o bem do próximo.

Proposta do tema; A rejeição de Jesus pelos Judeus.

IV. Conclusão


A parábola demonstra a determinação de Jesus face a sua missão de anunciar o reino de Deus, que se faz presente por meio dele. Viu-se que Jesus se dirigia aos sacerdotes, aos escribas e aos anciãos para lembrar lhes da importância da fidelidade a Deus, e esta fidelidade se verifica por meio da pratica da justiça que se resume nas obras de caridade. Felizes seremos quando veremos e reconheceremos os sinais da presença do reino de Deus na nossa vida, porque Deus nos consolará pela sua graça e misericórdia. Portanto, todo aquele que acreditar em Jesus Cristo e fazer a sua vontade fará parte do reino de Deus. Assim veremos a Deus face a face, não mais precisaremos a luz da lâmpada nem do sol, porque ele brilhará para sempre.Cfr.Ap, 22,4-5

X. Bibliografia

Bíblia de Jerusalém, Ed. Paulus, São Paulo 2002.
Bíblia Sagrada Africana, Ed. Paulinas, Maputo 2005.
BARRETTO Agnelo Dantas, O anúncio do Reino de Deus, reflexões sobre as parábolas, Ed. Vozes, Petrópolis 1968.
JEREMIAS Joaquim, As parábolas de Jesus, Ed. Paulinas, 6ª ed. São Paulo 1976.
STORNIOLO Ivo, Como ler o Evangelho de Mateus, o caminho da Justiça, Ed. Paulinas, São Paulo 1990.
PIKAZA Javier, A teologia de Mateus, Ed. Paulinas, São Paulo 1984.


1 Tirada da nota de explicação da Bíblia Sagrada Africana em Mateus 21,12-17.
2 JEREMIAS Joaquim, As parábolas de Jesus, 6ª ed., Ed. Paulinas, São Paulo 1976  p.233.
3 Ibid. p 233
4JEREMIAS Joaquim, As parábolas de Jesus, 6ª ed. Ed. Paulinas, São Paulo 1976, p. 73.
5 Ibidem, p.75.
6 Ibid. p. 75.
7 Ibidem. p.76.
8 STORNIOLO Ivo, Como ler o Evangelho de Mateus, o Caminho da Justiça, Ed. Paulinas, São Paulo pp.153-154.
9 PIKAZA Javier, A teologia de Mateus, Ed. Paulinas, 2ª ed. São Paulo 1984, p.104.
10 Ibidem. p.105.
11 JEREMIAS Joaquim, op. cit. p. 78
12 BARRETTO Angelo Dantas, O anúncio do Reino de Deus, reflexões sobre as parábolas, Ed. Voz, Petropolis 1968, p. 77.
13 Ibidem. p.78

Sem comentários:

Enviar um comentário

Ensinamento bíblico sobre a santidade

Ensinamento bíblico sobre a santidade A ideia da santidade não é exclusiva da Bíblia judeu-cristã mas, também se encontra em diversas c...