quinta-feira, 5 de maio de 2011

UM OLHAR SOBRE KARL MARX

O ser humano é reflexivo e inquieto. Desde que começou a reflectir procurando o sentido do mundo na sua origem e fim, o estatuto e o valor do conhecimento humano, o sentido da própria existência e da sua acção, o seu génio inquieto levou-o para o exame de problemas solúveis e de outros  que necessitam de uma abordagem mais cuidada e profunda, tendo em consideração a sua solução que é longínqua nas coordenadas espácio-temporais de ontem, de hoje e de amanhã;  e ainda daqueles problemas e assuntos cuja discussão não lhe podia ser útil em nada a não ser  para o  desenvolvimento do seu pensamento rumo ao conhecimento e à investigação não só do que constitui a  origem mas daquilo e de Aquele que se apresenta na encruzilhada incontornável como o fim último de tudo e de todos.
A origem e o destino do mundo, preocuparam os homens de todos os tempos. Uma preocupação cimentada no motivo fundamental do sentido da existência humana. Por isso foram surgindo formas diferentes e diversificadas no decurso das idades e em lugares inconfundíveis entre si; porém todo este labor constitui um único edifício com vários apartamentos no desenvolvimento dos conhecimentos filosóficos e científicos.
No tempo dos filósofos gregos, e seus predecessores orientais, estes conhecimentos eram rudimentares  e os problemas eram abordados pela metafísica. O segundo período é o das ciências naturais, onde se vira para o concreto e a observação da natureza entra na ordem do dia, seguiu-se um período de  experiência raciocinada, centrada no próprio homem nas suas diversas dimensões e anseios.
As páginas que se seguem falarão da visão daqueles que olhando à sua volta, isto é, aos objectos que os rodeiam, os fenómenos da natureza e os fenómenos sociais, não duvidam que estes existam independentemente deles e da sua consciência. 
Segundo alguma maneira de ver o mundo, a matéria constitui o “substracto” o alicerce do qual tudo pode ter a sua origem e consistência própria. Neste trabalho pretendemos com Marx redescobrir a dimensão do material e por outro lado a sua relatividade com os  princípios da Doutrina Social da Igreja.  Aqui também reside a actualidade deste contributo. Entretanto e sobretudo quando está em jogo o essencial da vida cristã, dado que é necessário distinguir as realidades, na sua bela diversidade, sem cair em exageros que temos ouvido, é impertinente apelar pela procura do fundamental pelo fundamental, dado que a “ignorância é atrevida”. Sendo assim,  repropor, por exemplo, o Doutor Angélico não é viver nas nuvens nem delas, pois é momento segundo  e seguindo o que isto implica, para não confundir os meios com os fins e vice versa.
Assim sendo este Trabalho é, ao mesmo tempo, premissa e petitio (petição)  para, partindo da Filosofia da Libertação, passar pela Teologia da Libertação até à Teologia da Reconciliação.
O Primeiro capítulo serve de ponto de situação, ou seja, apresentaremos alguns autores e pensadores antecedentes e contemporâneos de Marx que são pressupostos a não dispensar para compreender “ o homem mais odiado e caluniado da sua época, o revolucionário amado por milhões de trabalhadores” como é definido hoje no Museu que leva o seu nome na Alemanha, na cidade de Berlim.
No segundo passo que coincide com o segundo e terceiro Capítulos da nossa abordagem, o centro das atenções incidirá sobre o pensamento/visão de Marx e sobre o movimento que impeliu e comoveu uma multidão de pensadores contra o excesso do espiritualismo e do idealismo; tal tendência hoje se manifesta como, quiçá,  regra de existência de muitas pessoas, mesmo daqueles que vivem do que os outros pensaram e pensam; estamos a nos referir ao materialismo. Aqui traremos para a esteira do nosso labor antes de mais   Marx mas também o seu companheiro  Engels. Teremos o cuidado de apresentar o seu  relance histórico como Sistema de pensamento e de existência; pois,  o materialismo não  surgiu só quando se enfatizou nos meados do século XIX, na Europa ocidental, quando o modo de produção capitalista era já dominante na Inglaterra, França e, em grande parte na Alemanha e quando o desenvolvimento das relações de produção revelou o seu carácter antagónico e a existência de contradições insolúveis entre o trabalho e o capital se tornou mais aguda.
O quarto capítulo é, podemos salientar, o início do epicentro deste simples contributo que se pretende ser apenas mais uma proposta na busca de modi vivendi das comunidades humanas mais sadios e saudáveis para todos os seus membros. Neste Capítulo temos Marx no Centro da nossa abordagem  como um pensador (filósofo, sociólogo, economista…) na fase da sua maturidade biofísica e racional em que se apresenta e se propõe ser incontornável se desejamos promover uma política a favor do ser humano. Marx visto aquém e além dos marxistas e materialistas pode ser tido como  o promotor e precursor de uma humanidade contra a humanidade desumanizada ou, apenas, em desumanização. Por isso, podemos reflectir com Marx na tarefa de se enquadrar num processo de ré – humanização do ser humano cuja dignidade esteja ou negada ou perdida, por causa do emprego encontrado na procura da existência ou pela busca insaciável do lucro e, certamente, ambas situações (humanas) desembocam numa vida de alienações. Por isso, a Filosofia de Marx é também uma filosofia de libertação humanista, embora tal projecto e empreendimento académico se apresente com riscos de ateísmo para salvaguardar o homem e os seus anseios de liberdade que não deve se deparar com nenhum obstáculo seja de que natureza for.
O que não deve, pois,  nos passar despercebido são estas linhas progressivas que pretendemos manter: 
- O primeiro e o segundo Capítulos consistem numa tentativa de entender Marx no seu pensamento muitas vezes prolixo mas profundo, com base nas influências de pensadores seus antecessores imediatos e o impacto de alguns  seus contemporâneos. É ainda nestes capítulos que nos propomos colocar as bases do pensamento de Marx partindo das suas Obras que julgamos indispensáveis para alicerçar a nossa proposta, tais como: Miséria da Filosofia, Teses sobre Feuerbach, Manifesto do Partido Comunista (em que é co-autor de F. Engels) e o Capital; obras que lemos não  na totalidade, mas naquelas partes fundamentais e que sustentam a nossa abordagem e não no seu original mas nas traduções castelhana e portuguesa ao nosso alcance.
- No terceiro Capítulo propomos seguir, quiçá de perto, a reflexão sobre o materialismo (dialéctico e histórico) resultado do pensamento de Marx refinado (e às vezes diluído por interesses ideológicos e não científicos) por materialistas e marxistas sobretudo do século XX.
-O penúltimo Capítulo, ou seja, o quarto,  constitui a nossa humilde proposta, se bem que não fruto de uma perspectiva ideológica, mas consequência de uma análise de algum modo serena e porventura despida de preconceitos sobre o pensamento de Marx. O que se pretende aqui é ir ao encontro do contexto e dos pressupostos da Visão filosófica de Marx e colher alguns reflexos, modelos e modalidades não só de reflectir mas também de propor uma reflexão filosófica, Sociológica, Política e Teológica. Ou seja, é uma tentativa de reactualizar um pensador que lutando contra o capitalismo materialista caiu no humanismo materialista absoluto – não colocá-lo como modelo, mas olhar para ele e rebuscar outras perspectivas para purifica-lo e rebuscar outras orientações para os problemas que quiçá estão na base dos  exageros do pensamento e visão de Marx e dos exageros dos seus opositores, seguidores e sucessores.
O último capítulo, podemos considerá-lo como o fulcro da segunda intenção  deste trabalho ; ou seja depois do diagnóstico é também tarefa e missão propor alguma terapia. Por isso apresentamos aqui os Direitos Humanos,  se bem que abordados  não pormenorizadamente, mas com alguma profundidade e especificidade e  outros princípios intimamente a eles ligados como a igualdade, a dignidade da pessoa humana e a sua natureza específica,  especial e especializada.
No intuito de propormos uma politica não divorciada com a ética e que salvaguarde os Direitos Humanos no sentido de garantir a exequibilidade do princípio inadiável e incontornável da dignidade humana, os nossos grandes interlocutores são os homens e mulheres de hoje nos quais ainda subsistem os princípios do materialismo mutilador e do capitalismo exclusivista, na sua mais extrema posição, diante dos quais procuraremos ter uma palavra que se demarca e se apresenta como alteridade a seguir e executar; não apenas como alternativa democrática.
Não somos os primeiros a elaborar um corpo teórico de género, O Magistério da Igreja Católica, as Nações Unidas, obras de autores particulares, já apelaram a uma politica que salvaguarde a dignidade da pessoa humana e propuseram  bases para a sua implementação, por isso, nas linhas do renascer das fontes, recorremos muitas vezes a Doutrina Social da Igreja.
Toda  e qualquer intervenção, destinada a acudir a dignidade humana do subjugo da politica distorcida, é bem vinda

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