sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

COMENTÁRIO DE MT 11,16-19

METIDAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS: Mt 11, 16-19

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 16«Com quem poderei comparar esta geração? É semelhante a crianças sentadas na praça, que se interpelam umas às outras, 17dizendo: 'Tocámos flauta para vós e não dançastes; entoámos lamentações e não batestes no peito!' 18Na verdade, veio João, que não come nem bebe, e dizem dele: 'Está possesso!' 19*Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores!' Mas a sabedoria foi justificada pelas suas próprias obras».
Nesta parábola Jesus sublinha a incapacidade dos seus concidadãos de acolher os mensageiros de Deus e a proposta de amor que eles trazem. Não aceitaram João Batista, o último dos profetas do AT e o precursor do Messias. Inclusive não aceitaram Jesus Cristo, o Salvador que realiza de forma completa o amor de Deus curando, perdoando os pecadores e acolhendo a todos que a ele para experimentar a misericórdia infinita e gratuita de Deus.
Muitas vezes acontece connosco: não reconhecemos a bondade de Deus que se realiza em nós e julgamos que tudo obtivemos por nosso esforço. Sempre que fechamos o nosso coração à Palavra de Deus a nossa fé não acontece e ficamos ofuscados pelas aparências. Jesus convida-nos a caminhar na justiça e numa fé operante e sincera.
A exemplo de Santa Luzia que soube traduzir o Evangelho na sua vida concreta. Apesar da sua riqueza, ela despojou-se, vendeu tudo e distribuiu aos pobres e decidiu permanecer virgem. Tanto é que quando negou dar-se em casamento, como era o desejo de sua mãe, ela foi decapitada em 303. Santa Luzia, portadora de luz, é invocada pelos fiéis como a protetora dos olhos, que são a “janela da alma”, canal de luz.
Traz-nos alegria saber que Jesus não se envergonhou de ser chamado «amigo dos publicanos e dos pecadores» - O perdão que nos anuncia não é uma palavra vazia mas transformadora e operante. Deixemos que a luz desta Palavra transforme o nosso interior, mude as nossas atitudes de julgamento e resistência no acolhimento de Cristo que vem para morar no nosso coração. Hoje não nos envergonhemos de dizer que somos cristãos independentemente do lugar aonde estivermos.
Que atitudes concretas te comprometes levar hoje diante de Deus, de ti e dos outros? Que sinais de transformação interior vais assumir depois de ter escutado esta mensagem? O que é que realmente o Senhor te pede fazer hoje e durante este tempo de advento?

Deus vos abençoe hoje e sempre, sob protecção de Santa Luzia.

terça-feira, 14 de maio de 2013

9º Domingo do Tempo Comum ano C

HOMILIA DO 9º DOMINGO DO TEMPO COMUM –C
“Nem em Israel encontrei tão grande fé”
Caros irmãos e irmãs em Cristo,
Celebramos hoje o 9º Domingo do Tempo Comum. E a liturgia apresenta-nos o tema da fé como núcleo da nossa vida cristã. De facto, as leituras que acabamos de escutar (1Res 8,41-43[1], Gl 1,1-2.6-10[2] e Lc 7,1-10[3]) nos mostram que a salvação universal de Deus é um dom, uma graça que nos é dada mahala pela nossa fé em Cristo Jesus. Assim, a fé do centurião de Cafarnaum, serve de exemplo para todos os que crêem em Jesus e na sua Palavra redentora.
No decurso do Ano da fé, a nossa relação com Cristo deve amadurecer e frutificar como consequência da fé e resposta à Palavra anunciada. Por isso, a compreensão deste mistério é progressiva e se dá por obra do Espírito dentro da comunidade. É a vida concreta da comunidade com seus problemas, seus conflitos, que dá ocasião a uma tomada de consciência cada vez mais clara da identidade de Jesus e da própria comunidade. O ingresso dos pagãos na Igreja primitiva mereceu-nos o conhecimento da Boa Nova que nos reúne e saboreamos hoje. O único mediador da salvação para todos é Cristo e não a lei. Ele é o templo da nova aliança entre Deus e o homem, é o único lugar do encontro com Deus. Paulo vê claramente que a dependência ao legalismo dos judeus significa o esvaziamento do evangelho.
O centurião que é apresentado no Evangelho de hoje, faz uma admirável síntese de fé, de humildade e de confiança. Já era bastante duro para um romano o ter de pedir um favor a um judeu. Mas ele descobre em Jesus um profeta, cuja Palavra é eficaz como a do próprio Deus. E isto lhe basta. O centurião romano está consciente de não pertencer ao povo eleito, e sabe que para um judeu suporia impureza entrar em casa de um pagão. Por isso não se crê digno de hospedar a Jesus.
Caríssimos, assim como ouvimos no Evangelho do domingo passado (Lc 6,39,45), “a boca fala da abundância do coração”. Cada um de nós é convidado a traduzir a sua fé em Cristo através de gestos concretos de caridade, gestos de amor, gestos de perdão, gestos de solidariedade e gestos de justiça. Portanto, quando a Palavra de Deus está no centro da vida e dá forma aos pensamentos, sentimentos e ações, o homem caminha, com segurança, ao encontro da realização plena, da vida definitiva. São Paulo, escrevendo aos Gálatas, apela-nos a permanecer fiéis ao Evangelho que nos foi anunciado e do qual fomos baptizados. Quantas vezes vacilamos pela onda de cultos estéreis e sem sentido? Durante esta semana procuremos viver esta mensagem fazendo com que a nossa fé aconteça na família, no serviço, no lazer, etc. Porque ser cristão implica deixar-se penetrar e transformar por Cristo e esforçar-se por cumprir, a cada instante, a vontade de Deus vivendo de acordo com os valores propostos por Jesus nas bem-aventuranças.
Examinemos a nossa vida: como tenho vivido a minha relação com Cristo? Qual tem sido o alimento da minha fé? Que dificuldades me impedem realizar um sincero e honesto encontro com Cristo? Que aspectos da minha vida pessoal e familiar a melhorar na minha relação com os irmãos?
E para que tudo isto aconteça segundo a vontade de Deus roguemos a intercessão sempre actuante do Espírito Santo para que ilumine a nossa fé e desperte o amor à Palavra de Deus. Ámen.


[1] Salomão reza para que Deus atenda os estrangeiros – Na grande oração da dedicação do templo, Salomão não reza apenas pela casa de Davi e o povo de Israel, mas também pelos estrangeiros, que ai virão adorar o Deus de Israel e do Universo. E o templo será casa de oração para todas as nações. Deus quer ficar acessível às necessidades de todos os homens.
[2] O Evangelho de Paulo. Depois da pregação de Paulo agora vieram outros missionários confundindo as jovens comunidades, impondo costumes judaicos (a circuncisão) também aos cristãos de origem pagã (estes missionários consideravam o cristianismo como uma variante do judaísmo). Paulo escreveu a presente carta com intensa preocupação. Não se trata de sua pessoa, mas da pureza de seu Evangelho. A garantia desta pureza é que Deus, que ressuscitou o Cristo dos mortos, também chamou a Paulo.
[3] A fé do centurião. Lucas descreve o centurião como um homem que teme a Deus, um pagão que serve de exemplo tanto para os judeus quanto para nós hoje. Lucas revela-se aqui como o evangelista “ecumênico”, descobrindo os valores “pré-cristãos” em todo o mundo. A fé em Deus quebra as fronteiras legais e atinge todas as veias espirituais do crente penetrando-o completamente.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A AVENTURA DE ANTONINHO



Antoninho, um rapaz de 16 anos, inscreveu-se numa carpintaria para aprender a ser carpinteiro. Transcorridos cinco anos de intensa e profícua formação ponderou ter tido todas as táticas de serviço de carpinteiro e que agora devia ser autónomo livrando-se do seu mestre. Ele contou ao seu mestre os seus planos de deixar o serviço de carpintaria e de construção de casas e viver uma vida mais calma e independente com sua família.
O dono da carpintaria sentiu por saber que perderia um dos seus melhores empregados que o serviu durante cinco anos com enormes sucessos e pediu ao Antoninho que construísse uma última casa de madeira como um favor especial. O jovem superdotado consentiu, mas com o tempo será fácil ver que seus pensamentos e seu coração não estavam no trabalho que lhe foi solicitado. Ele não se empenhou no serviço e se afadigou exercendo um trabalho de menor qualidade e com efeitos menos duradoiros.
Quando o Antoninho terminou o seu trabalho, o seu mestre veio inspecionar a casa. Para sua surpresa, o mestre entregou-lhe a chave da porta da casa e disse: “esta é a sua casa. O melhor presente para ti como um dos melhores empregados que já tive na minha carpintaria”. O Antoninho desmaiou por um instante e depois reanimou.

Que choque! Que vergonha! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito completamente diferente, não teria sido tão relaxado. Agora ele teria de viver, toda a sua juventude, numa casa feita de qualquer maneira.

Algumas das perguntas dilemáticas sobre a história: deveria o Antoninho receber a casa como sua? Por quê? O que é pior: deixar a casa ou aceitá-la? O que significaria para ele receber um presente do seu mestre?

NB. Esta história dirige-se a um grupo do segundo ano de Crisma com 14-16 anos de idade.

terça-feira, 30 de abril de 2013

CARTA DE TIAGO


Conteúdo
Como escrito tipicamente didáctico e moral, a Carta não obedece um plano doutrinal previamente elaborado, ou seja, a Carta não tem um plano sistemático. Carece até de um final formal (pode ser que uma parte tenha sido perdida). Ora, como também não tem uma introdução especificamente «epistolar» mas entra sem preâmbulos no assunto, pensamos que se trata de uma colecção pensamentos tirados da pregação do apóstolo (J. KONINGS, Cartas de Tiago, Pedro, João e Judas, ed. Loyola, S. Paulo, 1995, p.9).
Os temas sucedem-se e sempre com a preocupação dominante de apelar a que os fiéis vivam o espírito em todas as circunstâncias de um modo coerente com a fé, em perfeita unidade com a vida: o comportamento dos cristãos tem de ser um reflexo da sua fé. Contudo, sublinhamos os conteúdos das principais exortações:
A atitude cristã perante as provações: 1,2-18;
Pôr em prática a Palavra: 1,19-27;
Caridade para com todos: 2,1-13;
Fé com obras: 2,14-26;
Domínio da língua: 3,1-12;
Verdadeira sabedoria: 3,13-18;
Origem das discórdias: 4,1-12;
Evitar a presunção: 4,13-17;
Advertências aos ricos: 5,1-6;
Exortações finais: 5,7-20.
Esta carta é o único escrito do NT a referir expressamente o sacramento da Unção dos Enfermos (5,13-15), que não aparece como um piedoso costume, mas como um dos sacramentos instituídos por Cristo. De facto, a unção é feita apenas pelos presbíteros da Igreja, em nome do Senhor e obtém efeitos sobrenaturais, como o perdão dos pecados.

4.2 Circunstâncias da composição de Tg
Parece que os destinatários eram provados de diversas maneiras (1,2ss.12); não por causa da fé por parte dos judeus ou de gentios, mas também pelo comportamento dos ricos (não se exclui que esses sejam membros da comunidade), amantes do fausto (2,2ss), arrogantes e opressores (2,5ss; 5,1-6).
Os mais tímidos dos fiéis assumiam uma atitude quase adulatória (2,1-9), enquanto outros se entregavam à cólera (1,19ss), ao ciúme e às contendas (3,14ss; 4,1-3), à maledicência (4,11ss) e à murmuração (5,9). Muitos talvez não dessem à fé um conteúdo prático com o exercício das virtudes evangélicas.
Disso o autor da carta pode te sido informado pelos peregrinos chegados a Jerusalém. Com o seu escrito quis ele amparar na provação os fiéis e reavivar-lhes o fervor primitivo. Para muitos a carta de Tiago seria o primeiro escrito do segundo Testamento, anterior ao Concílio ou Assembleia de Jerusalém (49-50). Explicar-se-ia assim o carácter vetero-testamentário, a doutrina cristológica apenas esboçada (1,1; 2,1; 5,8), a organização rudimentar da comunidade e a controvérsia judaizante ainda fora do horizonte. Nessa perspectiva pré-paulina enquadrar-se-ia a discussão fé e obras.
Para outros, a composição não é muito anterior à morte de Tiago (por volta do ano 62). As particularidades notadas atrás são atribuíveis ao género literário e destituídas, assim, de valor comprovativo em favor de uma antiguidade maior do escrito.
A solução não é fácil. Mas os indícios de redacção pré-conciliar talvez prevaleçam levemente. Aceitando-se a autoria de Tiago, pode se concluir que a epístola foi escrita em Jerusalém.

SEGUNDA CARTA DE PEDRO


O autor desta carta apresenta-se como «Simão Pedro, servo e Apóstolo de Jesus Cristo» (1,1) e testemunha da Transfiguração de Jesus na montanha (1,16). Não obstante, é o escrito do NT com menos garantias de autenticidade, apesar de Orígenes e S. Jerónimo o considerarem autêntico, assim como vários críticos actuais.
No entanto, não há inconveniente em pensar que um discípulo de Pedro, sob a inspiração do Espírito Santo, quisesse transmitir uns ensinamentos em sintonia com os do Apóstolo; ao utilizar o seu nome e a sua autoridade, não fazia mais do que valer-se de um recurso, frequente naquela época, a pseudonímia, com a consciência de que as ideias desenvolvidas não eram pessoais, saídas da própria cabeça, mas as do Apóstolo Pedro. Assim, o hipotético redactor da carta não pretendia substituir Pedro, mas fazer justiça à autenticidade da mensagem.

3.1 Local e data
Pressupondo a pseudonímia, a carta poderia ter sido escrita entre os anos 80-90, mas não já em pleno séc.II, como foi proposto por alguns. O local da redacção é desconhecido, poderia ser Roma.

3.2 Destinatários
Os destinatários não são expressamente referidos, mas são cristãos que conhecem os escritos paulinos (3,13). Pela referência de 3,1 bem poderiam ser os da 1ª Carta; a não ser que esta alusão não passe de um estratagema para reforçar a possível pseudonímia.
Seja como for, a Carta tem um carácter universal. O seu objectivo é denunciar graves erros que ameaçam a fé e os bons costumes, sobretudo a negação da segunda vinda do Senhor (3,3-4).

3.3. Conteúdo
Saudação: 1,1-2;
I.                        Exortação à perseverança na fé: 1,3-21;
II.                     Denúncia dos falsos Mestres: 2,1-22;
III.                  A segunda vinda do Senhor: 3,1-10;
IV A santidade: 3,11ss.
Conclusão: 3,17-18.
Os temas fundamentais desta Carta são: a segunda vinda do Senhor, definida como misericordiosa (3,4.8-10.15), mas que vai trazer uma mudança radical no cosmos; a lembrança da Transfiguração (1,16-19); a inspiração das Escrituras (1,20-21; 3,14-16); a importância do «conhecimento» religioso (1,2-8; 2,20;3,1).
Tudo indica que esta Carta é o desenvolvimento da Carta de Judas, sobretudo em 2,1-18; 3,1-13, onde recolhe a temática de Judas. Por isso mesmo, seria mais tardia que esta. Nas duas Cartas se combatem os falsos mestres.

PRIMEIRA CARTA DE PEDRO


1.                       Circunstâncias da composição de 1Ped
Esta carta foi sempre considerada como escrito inspirado. Tem como seu autor o Apóstolo Pedro (1,1), por meio de um seu secretário, Silvano (5,12). A crítica bíblica moderna tem chamado a atenção para uma série de dificuldades para uma série de dificuldades em admitir a autoria de Pedro, mas sem que elas nos obriguem a procurar outro autor.

2.1 Contexto, local e data
A carta pretende exortar os fiéis a permanecerem firmes na fé, no meio de um ambiente hostil. A sua ocasião é desconhecida; Alguns pensam que teria sido a chegada a Roma de notícias de graves dificuldades para a perseverança dos cristãos daquelas regiões enquanto Paulo andaria pela Espanha.
Aparece como enviada a partir da «Comunidade dos eleitos que está em Babilónia» (5,13), isto é, de Roma, como esta é designada no Apocalipse, de facto, não podia tratar da Babilónia da Mesopotâmia, já destruída, nem do Egipto, simples guarnição militar.
Admitida a autenticidade da carta, deve datar-se antes da morte de Pedro, o mais tardar, no ano 67.

2.2 Destinatários
Os destinatários da carta são nomeados no início (1,1). Uns pensam que se tratava dos cristãos de toda a Ásia Menor (menos a Cilícia), como parecem indicar as províncias designadas; mas outros, que seriam apenas as regiões evangelizadas por Paulo. A designação de «os que peregrinam na diáspora» (1,1) é entendida por uns no sentido literal – os judeu - cristãos da diáspora – e por outros no sentido figurado – os cristãos em geral, dispersos por este mundo.

2.3 Conteúdo
A carta divide-se em quatro secções:
Saudação inicial e acção de graças: 1,1-12;
I.                        Exortação à santidade: 1,13-2,10;
II.      Os cristãos perante o mundo: 2,11-3,12;
III.   Os cristãos perante o sofrimento: 3,13-4,11;
IV.   Últimas exortaçôes: 4,12-5,14.
Importa-nos salientar que estamos perante um escrito da segunda geração cristã que pretende animar a fé dos que já tinham desanimado na sua caminhada na Igreja.

CARTA AOS HEBREUS

1.                       Carta aos Hebreus
a)                       Autor
Por vários anos, esta carta aos hebreus foi atribuída a Paulo: desde o séc. II, na Igreja de Alexandria. Clemente a aceitou como sendo da autoria de Paulo. Porém algumas objecções apresentam-se neste campo da autenticidade paulina:
a)                       O estilo e o vocábulo não são de Paulo.
b)                       Nas citações da Escritura há certas diferenças.
Uma Cristologia diferente. «Hebreus» usa o termo sacerdote ou sacerdócio, ao passo que Paulo nunca se expressa dessa forma, isto é, ele nunca usou esse termo.
Quem seria então o autor?
A este respeito, colocaram-se várias hipóteses. Alguns atribuíram a autoria de Apolo, outros ainda de Clemente de Roma, Barnabé, Judas, mas nenhum destes tem fundamento.
Vários pesquisadores crêem que o autor seja um judeu -cristão, de influência helenista. Isso devido ao uso constante entre a esfera celeste e a terra, esta última vista como sombra de primeira. Além disso o autor demonstra um conhecimento dos recursos de retórica grega.
O enigma porém permanece insolúvel. Nós optamos por aceitar a hipótese de Apolo como autor da carta.

1.1 Contexto 
Este escrito estabelece uma relação entre o Antigo e Novo Testamento numa perspectiva cristológica. O tema central é o sacerdócio de Cristo e o culto cristão.
A novidade é grande: uma pessoa Jesus Cristo, Filho de Deus e irmão dos homens, é sumo-sacerdote superior a Moisés e comparável à figura misteriosa de Melquisedec. Pela sua morte e glorificação, Ele é o mediador entre Deus e os homens; o seu sacrifício substitui todos os sacrifícios antigos, que já não têm capacidade para elevar o homem até Deus. Pela sua morte, Cristo realiza o perdão dos pecados uma vez por todas, estabelece uma aliança nova e eterna com a humanidade e inaugura um novo culto, imagem do culto celeste (Cfr. Sagrada Escritura, Ed. Difusora Bíblica).
O sacerdócio levítico é o termo de comparação para demonstrar a superioridade do sacerdócio de Cristo. O sacerdócio levítico exerciam-no homens necessitados, também eles, de  purificação (7,28), a sua duração limitava-se pela morte de cada um dos representantes (7,23), que se sucediam de geração em geração: sacerdócio, portanto, imperfeito, por ser transitório e não definitivo. Mas o sacerdócio de Cristo, pelo contrário, em virtude da sua divindade, possui uma dignidade infinitamente superior e é eterno (7,24), destinado à purificação dos outros, não de si mesmo; ele não precisa purificar-se, pois nada tem em comum com os pecadores (7,26), excepto a natureza humana com as suas fraquezas; é este o título pelo qual pode exercer legitimamente o sacerdócio em favor da humanidade (2,14-18;4,15).
Pode-se afirmar que o sacerdócio de Cristo dura eternamente porque a natureza humana que assumiu permanece nele também na glória, mas teve início apenas com a encarnação.

1.2 Conteúdo e articulações da Carta aos Hebreus
Não é fácil encontrar uma única estrutura para este livro. No entanto, propomos a seguinte:
Prólogo (1,1-4)
I.                        O Filho de Deus superior aos anjos (1,5-2,18): prova escriturística (1,5-14); exortação (2,1-4); Cristo, irmão dos homens (2,5-18).
II.  Jesus, Sumo-Sacerdote fiel e misericordioso (3,1-5,10): fidelidade de Moisés e fidelidade de Jesus (3,1-6); entrada no repouso de Deus, pela fé (3,7-4,13), Jesus, Sumo-Sacerdote misericordioso (4,14-5,10).
III.                  Sacerdócio de Jesus Cristo (5,11-10,18): normas de vida cristã (5,11-6,12); promessa e juramento de Deus (6,13-20).
1.    Cristo é superior aos sacerdotes levitas (7,1-28): Melquisedec (7,1-10); sacerdote segundo a ordem de Melquisedec (7,11-28).
2.    Sumo-Sacerdote de uma nova aliança (8,1-9,28): o novo santuário e a nova aliança (8,1-13); insuficiência do culto antigo (9,1-10); o sacrifício de Cristo é definitivo (9,11-14);
Cristo, o mediador da nova aliança pelo seu sangue (9,15-22); O perdão dos pecados pelo sacrifício de Cristo (9,23-28).
3.    Recapitulação: sacrifício de Cristo superior ao de Moisés (10,1-18): ineficácia dos sacrifícios antigos (10,1-10); eficácia do sacrifício de Cristo (10,11-18).
IV.   A fé perseverante (10,19-12,29): o apelo a evitar a apostasia (10,19-39); a fé exemplar dos antepassados (11,1-40); o exemplo de Jesus (12,11-13); fidelidade à vocação cristã (12,14-29).
Apêndice (13, 1-25): últimas recomendações  (13,1-19), bênção e saudação final (13,20-25).

1.3 Teologia acerca do sacerdócio de Cristo
a) Sacrifício de Cristo
O acto essencial do sacerdócio do Filho encarnado é o sacrifício de si mesmo na morte aceite de livre vontade. O seu valor expiatório, ao qual já se aludem em 1,3 (feita a purificação dos pecados), acentua-se de novo em 9,12; 9,26; 12,24; 13,12.
Do sacrifício de Cristo acentua-se a absoluta eficácia. O sacrifício de Cristo, tendo diferentemente do antigo, a virtude de expiar, uma vez para sempre, todas as culpas da humanidade, não pode ser oferecido senão uma única vez. Cristo com uma só oblação na «plenitude dos séculos» (9,26), expiou os pecados de todos os tempos, e só deverá manifestar-se de novo para conduzir à salvação final aqueles que o esperam (9,28).
A razão intrínseca da eficácia do sacrifício oferecido por Cristo, é focalizada pela comparação com as vítimas prescritas pela lei: novilhos e cabritos (9,12; 10,4).
O sangue de Cristo, oferecido em virtude de «espírito eterno», purifica interiormente o homem e o capacita de servir a Deus (9,14).

b) Jesus e o Antigo sacerdócio
Jesus não enveredou pelo sacerdócio no sentido antigo, pois não optou pelos rituais. Ele veio opor-se aos rituais de separação. Rejeitou a antiga maneira de santificação (Mt 13; 12,7). Escolheu a oposição contrária, que procura servir a Deus, propagando a misericórdia que dele vem.
Ao invés de uma santificação obtida separando-se de outros, ele propunha uma santificação obtida escolhendo os outros. Em lugar de multiplicar as barreiras, tratava-se, muito mais, de suprimi-las. (cfr. A. VANHOYE, A mensagem da Epístola aos Hebreus, p. 1 ). Foi só mais tarde que os cristãos perceberam o verdadeiro sentido do sacerdócio de Cristo. Assim se compreende a longa omissão do tema, no NT. E o autor desta carta fez uma reflexão e uma abordagem do sacerdócio de Cristo.

c) Cristo Sumo-Sacerdote
Um dos maiores temas, senão dos tratados pela epístola aos Hebreus é, exactamente, o do Sacerdócio de Cristo. Com efeito, a originalidade desse escrito está em dar a Cristo o título de Sumo-Sacerdote, que nunca se encontra no NT. Ao menos referindo-se a Jesus Cristo. Mas Jesus Cristo é realmente sacerdote, pelo facto de ser o Filho de Deus, feito homem (1,1-4). Aliás, já no prólogo, esta exposição doutrinal-síntese, insiste na superioridade de Cristo sobretudo em relação aos anjos, ao mesmo tempo fala do nome, o nome que indica a oposição ou glória alcançada por Cristo.
O título de sacerdote é tirado do salmo 110,4, ao passo que o de sumo-sacerdote é herdado da prática cultual levítica, especialmente da festa da expiação, cuja simbologia permite o autor significar a função sacerdotal de Cristo. Porém, as duas expressões possuem o mesmo valor teológico (Heb 4, 14; 10,21). (Pe. Roberto Albuquerque, Apontamentos de Cartas Católicas e Carta aos Hebreus, 2009).

d) A mediação sacerdotal de Cristo
Logo no prólogo, pode-se notar que a palavra de Deus e a sua acção estão indissoluvelmente ligadas à mediação de Cristo. É em Cristo, que Deus nos fala, é em Cristo que Deus nos salva. Cristo realiza, na ordem das pessoas, a mediação (de benefícios, de perdão e de comunhão) que o sacerdote realizava. A comunidade cristã tem a consciência desse facto de mediação de Cristo. Ele é o modelo de ofertante, pois a sua vida pessoal toda foi entregue a Deus: - Na oração; na obediência; mas também viveu no interesse do próximo; por misericórdia com os pecadores; serviço contínuo: solidariedade, pregação, oração.
Essa mediação e esse sacrifício de Cristo vão ter o seu cume na cruz. Essa mediação perfeita para os homens (Heb 5,3; 5,27; 9,14-15; 10,12 e 12,13). Isto argumenta-se, na medida em que Cristo, como Sumo-Sacerdote, oferece-se pelos pecados do povo. Trata-se, pois, de uma redenção eterna (Heb 9,12 e 10,14). É uma mediação perfeita, com a ressurreição. (Pe. Roberto Albuquerque, Apontamentos de Cartas Católicas e Carta aos Hebreus, 2009).

CARTAS PASTORAIS


Cartas pastorais (1-2Timóteo e Tito)
São as cartas a Timóteo e Tito dirigidas a dois ou mais fiéis discípulos de Paulo. Dão linhas mestras da organização e conduta das comunidades aos pastores. É por isto que são chamadas “pastorais”. São muito divergentes doutras cartas de Paulo: no vocabulário, estilo e no modo de resolver problemas (aqui Paulo apenas condena o falso ensinamento sem recorrer à argumentação persuasiva). Entre elas há homogeneidade de vocabulário, estilo e perspectiva teológica-espiritual. Por isto formam um bloco bem definido.
A autenticidade é discutida:
- Uns defendem que são do Paulo já velho mas que deve ter dado espaço de acréscimos ao seu secretário-provavelmente Lucas (2Tim 1,4).
- Outros defendem que foram compostas por um discípulo de Paulo nos finais do séc. I, para tratar de problemas de uma Igreja.
- Outros ainda dizem que um leal seguidor de Paulo herdou três cartas de Paulo as conservou até à sua morte. Mais tarde acrescentou o que ele achou que Paulo diria face à então situação da Igreja. Nisto, elas não são do Apóstolo, mas contém seus fragmentos.
Exames minuciosos revelam que 1Timóteo é próxima de Tito que de 2Timóteo. Neste caso não haveria objecção da autoria de Paulo.
Contudo, actualmente quer católicos como não católicos admitem a autenticidade paulina.
Em relação ao destinatário, as cartas são enviadas a indivíduos, mas deve se entender no sentido amplo na medida em que tais instruções dadas aos pastores abarcam todos os sectores da vida eclesial, desde a oração até às relações interpessoais.
Tais orientações fundamentam-se geralmente em textos de catequese, liturgia, profissão de fé baseadas na tradição. Apresentam também uma especial documentação da catequese primitiva. A grande preocupação é transmitir pessoalmente o depósito da fé.
Destas cartas nasceram outros dois problemas:
- Os protestantes alemães dizem que sob ponto de vista teológico tornaram-se exemplos clássicos de um cristianismo burguês pela perda de tensão escatológica e fixação em tendências institucionalizantes. Os católicos procuraram mostrar a continuidade da tradição cristã primitiva nas cartas dizendo:
a) O estilo e vocabulário podem ser da participação activa do secretário (Rom 16,22) que não é simples copista. Aliás, estes dois elementos são determinados pelo espírito do autor e pelos destinatários directos.
b) A doutrina normativa-jurídica depende do objectivo do autor e das circunstâncias históricas em que se escrevem.
c) Os erros combatidos nas cartas não se apresentam como sistemas doutrinais bem definidos como o gnosticismo do séc. II. Talvez se trate do início da gnose ou de tendência agnóstica do judaismo (Tt 1,14 fala de fábulas judaicas). Aliás, as cartas supervalorizam o Antigo Testamento enquanto que o gnosticismo de marcião e Valentino rejeitavam-no.
As cartas pastorais são colocadas no período pós-libertação da primeira prisão de Paulo em Roma entre 65-67 d. C, depois do regresso da Espanha se é que chegou a ir como tensionava.
Teria viajado novamente a Ásia para rever as comunidades, e nessa altura deve ter deixado Timóteo como episcopo de Éfeso e Tito da Ilha de Creta.
Esteve também em Tróade (2Tim 4,13) e ali foi preso e deixou seu manto e seus pergaminhos. Em Macedónia, entre 65 a 66 escreveu a 1Timóteo e Tito, levado prisioneiro a Roma em 66, lá teria escrito a sua última carta, a 2Timóteo quando já pressentia o seu fim (2Tim 4,6-8). Foi decapitado em Roma em 67/68 d.C.
Timóteo (destinatário) – é natural de Listra, filho de pai grego e mãe judia (Act 16,1) de nome Eunice. Foi educado pela mãe e pela avó Lóide na fé judaica e no conhecimento da lei de Moisés (2Tim 3,15). Conheceu Paulo durante a segunda viagem deste.
Ficou conhecido na comunidade e recebeu muita estima dos cristãos. Paulo baptizou-o e tomou-o por colaborador. Por ser filho de um gentio não fora baptizado ao oitavo dia, mas para facilitar o relacionamento com os judeus Paulo fez com que ele fosse circuncidado (Act 16,1).
Esteve com Paulo quando este escreveu 1 e 2Tessalonicences, 2Coríntios, Romanos, Filipenses, Colossenses e Filémon. Acompanhou-o a Macedónia, a Corinto e a Éfeso.
Tinha uma saúde debilitada (1Tim 5,23) e um carácter tímido e indeciso (1Cor 4,17; 16,10-11).
A primeira Carta a ele destinada apresenta o como responsável da Igreja de Éfeso. Paulo escreve para o encorajar e alertá-lo contra doutrinas falsas (1,3-20; 4,1-5; 6,3-10).
Esteve com Paulo, provavelmente até à época do seu martírio e depois retornou a Éfeso onde segundo a tradição morreu mártir em 97 d. C.

1Timóteo
Escrita provavelmente na Macedónia por volta de 65/66. Visa alertar a Timóteo enquanto dirigente da comunidade/Igreja de Éfeso, a respeito dos falsos doutores (1,3-20; 4,1-11; 6,3-10). Admoesta também Timóteo e os que ocupam cargos directivos na comunidade sobre a vida interna da comunidade.

2Timóteo
Escrita durante a segunda prisão em Roma (“2Tm 1,8; 2,29) entre 66/67. Não se sabe qual é o motivo da prisão. Mas ele esperimentou uma serie de abandonos até traições (1,15; 4,14ss). Esteve apenas com Lucas em Roma. Outros colaboradores estavam longe dele por motivos pastorais ou outros (4,10).
Esta carta é um testamento espiritual de Paulo que vê a morte próxima (4,6). Daqui se entendem as recomendações a Timóteo para que se dedique com todas as forças ao serviço do Evangelho (1,6-2,13; 4,1-8), à defesa da verdadeira doutrina (3,10-17) e à luta contra os falsos doutores. Informa também a Timóteo a sua grave situação e lhe pede que vá imediatamente a Roma (4,9).

Tito (destinatário)
Filho de pais gregos (Gal 2,3) convertido por Paulo ao cristianismo (Tt 1,4; 1Tim 1,2; 2 Tim 1,2) que lho chamava “filho”. Não foi circuncidado. Sua conversão deve ter ocorrido na primeira viagem, pois no final desta foi com Paulo e Barnabé a Jerusalém para a assembleia em 49/50 (Gal 2,1-5; Act 15,2).
Acompanhou Paulo a Éfeso durante a terceira viagem. Daí foi enviado por Paulo a Corinto (2Cor 2, 12ss; 7,6ss; 12,18) e mais tarde outra vez para organizar a colecta em Corinto e nas Igrejas de Acaia (2Cor 8,6.23; Act 20,4; Rom 15,26).
Deve ter sido ele quem levou a carta perdida “Carta em lágrimas” até Corinto.
Quando Paulo foi liberto da primeira prisão em Roma, encarregou-o o governo da Igreja de Creta (Tt 1,5). Depois foi encontrar-se com Paulo em Nicópolis no Éfeso, sendo substituído por Artemas e Tíquico em Creta.
Não se sabe se de Nicópolis ou de Roma Paulo o tenha enviado a Dalmácia (2Tim 4,10), onde o seu culto é muito difundido ainda hoje.
Tito parece ter sido um homem forte, de intuito rápido e óptimo organizador. É possível que depois da morte de Paulo tenha regressado a Creta. Segundo uma antiga tradição, morreu com 93 anos.

CARTA A FILÉMON

Não há dúvida sobre a identidade do destinatário. Filémon é um colaborador de Paulo (1,1) que recebia em sua casa as reuniões da Igreja (1,2), provavelmente convertido por Paulo em Éfeso, e por isso lhe deve a própria vida (1,19).
Está na posse de um escravo-Onésimo (1,10), que lhe fora inútil (11) e lhe devia dinheiro (18).
À luz de Colossenses 4,9 pode se supor que o dono-Filémon e o seu escravo-Onésimo viviam em Colossa. Por outro lado, a maior parte dos nomes que aparecem nesta Carta aparecem também na Carta aos Colossenses.
A Carta a Filémon é juntamente com Colossenses, Efésios e Filipenses do cativeiro, e foi enviada a Colossa por meio de Tíquico que levou também a Carta aos Colossenses.

Data, local e autor:
Alguns autores dizem que a Carta foi enviada de Éfeso em torno de 56-57. Outros ainda que foi durante a prisão de Paulo em Roma, então por volta de 62-63.
A carta foi escrita pelo próprio punho de Paulo para acabar com a escravatura no seio da comunidade cristã, pois em Cristo já não há escravo nem homem livre (Cf. Gal 3,28). A vida comunitária deve superar todas as divisões levando à igualdade enter as pessoas.
Paulo pede a Filémon que receba Onésimo, o escravo, não como tal, mas como um irmão caríssimo (vv. 15-16).

CARTA AOS FILIPENSES


Introdução
A cidade de Filipos ocupava um ponto estratégico, pois dominava todas as rotas caravanas da Grécia e da Trácia. Por ela passava a via que unia a Itália e a Ásia Menor.
Por algum tempo foi uma cidade rica porque possuía jazigos de ouro e de prata. Era administrada por Roma.
Na época de Paulo entrava em declive porque os jazigos estavam esgotados. Havia na cidade uma pequena colónia judaica que não tinha sinagoga. Praticavam-se cultos locais trácios e macedónios, culto ao imperdor romano e outras religiões orientais chamadas religiões mistérios.
A comunidade de filipos foi evangelizada por Paulo na sua segunda viagem missionária (Act 15,36-18,22). Paulo, Silas, Timóteo e Lucas chegaram a filipos em 50/51 vindos de Tróade. Filipos foi a primeira cidade europeia a ser evangelizada. Porque na cidade não havia sinagoga, Paulo e seus companheiros, no Sábado dirigiram-se às margens do rio, onde provavelmente os judeus costumavam rezar (Act 16,13).
As primeiras conversões se deram entre mulheres: Lídia, a comerciante de púrpura, natural de Tiatira, baptizada por Paulo com toda a sua família (Act 16,14-15). Ela ainda hospedou Paulo com seus companheiros. A nova Igreja tinha poucos judeus, era formada sobretudo por gentios e as mulheres ocupavam lugar importante.
Sua permanência nesta cidade foi turbulenta pela libertação de uma jovem escrava que possuía um espírito adivinho (Act 16,16ss). Os donos da escrava sentiram-se lesados porque obtinham lucro pelas suas adivinhações. Denunciaram Paulo e Silas aos magistrados e foram presos e açoitados. Esta foi a primeira prisão de Paulo. Durante a noite um violento terramoto sacudiu a prisão e libertou os presos. O carcereiro quis se suicidar pensando que fugiram, mas Paulo impediu-o.
Converteu-se e foi baptizado com sua família. Por ser cidadão romano, Paulo foi liberto com Silas e obrigaram-nos a deixar a cidade (Act 16,35-40). Ao sair desta cidade, Paulo deixou uma jovem comunidade dinâmica, que continuou a crescer, a prosperar e se manteve fiel ao Evangelho. Ele identificou-se muito com esta comunidade que a chamou “minha alegria e minha coroa” (Filip 4,1). Numa cidade em que se praticava o culto ao imperador que se fazia “deus e senhor”, Paulo anunciou o Evangelho que se torna boa notícia: É em “nome de Jesus” que nos vem a libertação. Nome que está acima de todos os nomes e no qual se dobre todo o joelho (Cf. Filip 2,8-11).
Esta comunidade proveu muitos auxílios para Paulo em Tessalónica (Filip 4,16) em Corinto (2Cor 11,9) e durante a prisão (Filip 4,18) em Éfeso ou Roma.
A Carta é chamada “Carta da alegria”. Paulo está preso e a comunidade também passa por dificuldades mas a carta fala tanto de alegria. É para animar, dar força e esperança aos membros da comunidade. Não há argumentação teológica, mesmo quando fala aos judaizantes, o tom não é polémico, apenas de alerta aos cristãos.
Integridade e autenticidade:A autenticidade não se discute, mas quanto à integridade há três hipóteses:
a)    A tradição e alguns autores modernos afirmam uma única Carta de Paulo aos Filipenses.
b)   Policarpo de Esmirna na sua Carta aos Filipenses alude “às cartas” de Paulo aos mesmos destinatários.
c)    Outros autores também modernos levantam hipóteses de três cartas ou bilhetes:
“Carta A”: 4,10-20 – Nesta, Paulo agradece à comunidade por lhe ter enviado Epafrodito para lhe assistir na prisão.
“Carta B”: 1,1-3,1a+4,2-7.21-23 – Nesta, Paulo fala da sua condição de prisioneiro por causa do Evangelho e manifesta esperança de uma libertação em breve, e exorta aos filipenses à concórdia.
“Carta C”: 3,1b-4,1.8-9 – Nesta, Paulo já não fala da sua prisão, mas alerta à comunidade sobre o perigo de certos adversários, provavelmente judaizantes.

Local e data:
A opinião tradicional diz que foi em Roma durante a prisão entre 61-63.
Outros admitem que foi em Cesareia quando Paulo esteve preso por dois anos: 59-60 (Act 23,23-34,27). A terceira hipótese é de que foi em Éfeso, isto por causa da proximidade das duas cidades que possibilitava constantes viagens e correspondências.

CARTA AOS TESSALONICENSES

Introdução
No tempo de Paulo, Tessalónica era uma cidade da segunda grandeza do império depois da Alexandria, Antioquia, Corinto, Éfeso, Cartago e Lião.
A população é maioritariamente romana e grega com fortes contrastes político-sociais. Abundavam também comerciantes vindos de toda a parte do império, pobres em grande número, escravos que eram quase 1/3 da população.
Havia também uma influente colónia judaica com própria organização (Sinagoga, Tribunal e Conselho de Anciãos).
Era uma cidade com grande sincretismo religioso. A deusa principal da cidade era a Nike – deusa da vitória; havia também um templo dedicado a Zeus/Júpter – pai de todos os deuses, Neptuno/Posseidos - deusa do mar; Isis e Osires – deuses de Egipto e outros, culto dedicado a Dionísio-Baco, um culto de mistério com fortes ligações com a vida post-morte. Praticava-se também o culto ao imperador como forma de conservar o privilégio de cidade livre. Os judeus sabiam disso e acusaram Paulo e seus companheiros de propor um outro rei – Jesus (Act 17,7).
Paulo permaneceu apenas três semanas nesta cidade (Act 17,2), mas segundo as cartas supõe-se alguns meses pois teve de se aplicar a actividades manuais para garantir o próprio sustento (1Ts 2,9; 4,11). Neste tempo construiu uma numerosa comunidade formada sobretudo por pagãos (Ts 2,10) com organização. Quanto às classes sociais dos cristãos (Act 17,4) fala de “damas da sociedade”; membros das classes média e alta, escravos, artesãos e mercadores.
Paulo dirigiu-se primeiro aos judeus durante três sábados na Sinagoga (Act 17,2). A pregação resultou (Act 17,4), mas uma insurreição dos judeus obrigou-o a figir da cidade com seus companheiros. Os judeus incitaram pagãos contra Paulo e contra os neo-convertidos, os cristãos eram objecto de calúnia protagonizada pelos judeus.
As Cartas. Segundo Act 18,5 e Ts 3,6 as duas Cartas foram escritas durante a estadia de Paulo em Corinto pelos anos 50/51 ao longo da segunda viagem missionária. A 2Ts vem meses depois da 1Ts para clarificar a expressão “nós que estivermos vivos…” em 1Ts 4,15 que havia gerado mais preocupação sobre a iminente parusia. Na 2Ts procura clarificar este assunto descrevendo sinais que antecederão a vinda de Cristo (2,1-12) e exortando os cristãos ao trabalho (3,10-12).

1Ts: É fruto das informações que chegaram a Paulo por meio de Timóteo sobre a situação da jovem Igreja. É o primeiro escrito do NT. Narra as boas notícias dos cristãos de Tessalónica, pois se mantiveram firmes na fé, esperança e caridade, apesar das dificuldades e provas havidas (Cfr. 1,3; 3,6-8). Porém, a Comunidade não compreendera a doutrina sobre a parusia e se preocupava pela sorte dos seus membros mortos antes da vinda de Cristo (4,13). Isto gerava desvios morais, angústias, tristezas e ociosidade.
A Carta foi redigida e enviada de Corito através de Timóteo (3,2) respondendo às seguintes questões:
- O que sucederá aos mortos? (4,13-18): Resposta de Paulo (14-16)
- Quando será a Parusia? (5,1-11: Resposta de Paulo (5,2; Cfr. Mt24,36)
Paulo não sabe mas teremos que nos apresentar diante do Senhor (5,2; Mt 24,36) ou diante do Pai (1,3; 3,13) com perspectiva de esperança.
Nisto, a Carta visava:
a)                       Encorajar os cristãos na fé e agradecer a sua entrega ao trabalho (1-3);
b)                       Corrigir os desvios e expor devidamente a doutrina da ressurreição dos mortos e da Parusia (4,13-5,10).
2Ts: A metade desta é cópia da primeira e cita duas vezes (2,15 e 3,14). O autor não diferencia esta da primeira, mas o fundo desta segunda é aprofundar e esclarecer o tema escatológico da vinda iminente do senhor. Esta é a ocasião da segunda.

Autor: Como em Rm, 1/2Cor e Gl questiona-se a autenticidade pelos seguintes motivos:
- Paulo com a sua Teologia polémica rompeu as boas relações com toda a Igreja representada por Pedro e Barnabé, mas este facto não se verifica nesta Carta.
- Paulo não seria capaz de estar diante das Igrejas judias/Sinagogas com judeus como se diz em 2,14-16, senão enfrentando as Igrejas judias.

CARTA AOS EFÉSIOS


Introdução
A cidade de Éfeso está situada Ana Ásia Menor. È um importante centro de tráfego terrestre e marítimo entre o Oriente e o Ocidente. É uma cidade essencialmente religiosa. Nela está o templo da grande mãe Diana ou Artêmis, divindade da fertilidade. Há também grande número de bruxas e feiticeiros.
Paulo, no final da sua segunda viagem passou por ali, pregpou na Sinagoga e prometeu voltar. Quando voltou encontrou um pequeno núcleo de cristão, provavelmente obra de Àquila e Priscila, possivelmente também Apolo. A autoria de Paulo a esta Carta é muito discutido, mas se se admite, deve ser colocada durante a prisão romana entre os anos 61-63. Esta Carta é contemporânea de Cl e Fm. È dirigida a Igrejas da Ásia Menor que têm Efeso como cidade mais importante. É espécie de uma circular. A Carta fornece poucas indicações da Igreja, mas se percebe que se trata de Igrejas de confluência de cristão convertidos do paganismo que tendiam a despresar os os judeus-cristãos.

1.                       Conteúdo
O grande tema desta Carta é sobre o plano de deus de unir todos os homens de todas as culturas (1,10), pois os cristãos são todos iguais. Trata, portanto da universalidade da Igreja.

1.                       Articulação
Iª Parte
1-3 – O grande plano de Deus
1,1-2 – Saudação aos santos
1,3-14 – O desígnio eterno de Deus
1,15-23 – Prece de Paulo
2,1-10 – Da morte à vida (actividade salvadora, unificadora e reveladora de Deus)
2,11-22 – Necessidade de derrubar as barreiras
3,1-13 – Missão de Paulo entre os pagãos.
3,14-21 – Oração de Paulo. Doxologia

IIª Parte
4-6 – Os cristãos em acção (Exortações)
4,1-16 – Exortação à unidade dos cristãos e carrismas.
4,17-5,20 – Nova vida em Cristo
5,21-6,9 – Relação entre os cristãos: relações familiares
6,10-20 – Armadura de Deus na luta contra os poderes do mal; a oração de modo especial
6,21-24 – Conclusão
6,21-22 – Missão de Tíquico
6,23-24 – Benção

2.        Teologia
Trata-se de uma teologia Eclesiológica e Soteriológica.
Eclesiológica enquanto se concebe uma Igreja universal cuja é Corpo de Cristo do qual fazem parte todos os cristãos. Cristo é a Cabeça e chefe deste Corpo. Esta Igreja de que se trata aqui não é a local, mas universal. Todos os cristãos formam um só corpo e um só espírito, uma só esperança, um único Senhor, uma só fé, um só baptismo e um só Deus (4,4-6), tanto judeus como pagãos.
Soteriológica enquanto a Igreja é o espaço da realização da soteriologia pelo ressuscitado, como Salvador do Seus Corpo. (5,23)

CARTA AOS COLOSSENSES (DO CATIVEIRO)


Introdução
Colossa é uma pequena cidade a mais ou menos 200 Km a leste de Éfeso, actual Turquia.
A carta aos colossenses é muito próxima à aos Efésios pelo estilo, linguagem e teologia, o que leva a supor terem sido escritas no mesmo lugar. Em Fm e Cl são lembradas as mesmas pessoas, o que supõe mesma data de redação – cerca de 61 durante a prisão de Paulo em Roma.
Provavelmente tenha sido escrita em resposta a informações que Paulo recebeu de Épafras, fundador da Igreja de Colossa, sobre a mesma. Provavelmente tenha sido levada ao destino por Tíquico acompanhado por Onésimo, o escravo fugitivo.
Esta Igreja iniciou provavelmente durante os três anos que Paulo permaneceu em Éfeso (Act 19), pela evangelização de épafras e Filêmon – colaboradores de Paulo (Col 1,6-7; 4,12-13; Fm 1,2.5). Esta Igreja, à semelhança da cidade, era também um misto de culturas: gregos, judeus, nativos da Frigia, porém havia progredido muito na fé e na caridade (1,4.8; 2,5) – motivo para dar graças a deus, mas também havia razões de preocupação causadas por uma falsa doutrina que ameaçava o bem estar da Igreja. Havia um sincretismo que consistia em colocar no mesmo plano a verdade cristã ideias provenientes doutras filosofias e religiões. Os judeus, frígios e gregos pretendiam incorporar suas ideias no cristianismo. Os judeus-cristão querem manter a circuncisão, leis alimentares e suas festas (2,11.16) o que punha em perigo a base de justificação do homem diante de Deus. Davam importância a seres intermediários celestes ou angélicos (2,18), o que desafiava a supermacia de Cristo como único mediador. Havia também introdução do ascetismo (filosofia gnóstica) que dava importância ao conhecimento ou sabedoria humana (1,18-23).

1. Conteúdo
O conteúdo desta carta resume-se em Col 2,9-15.
- “Cristo é o único mediador absoluto entre Deus e os homens”. Por este motivo os cristãos devem retornar a Cristo, à sua supremacia completa e à sua suficiência absoluta.

2. Articulação
Iº Parte
1,1-2 – Fórmula Introdutória
1,3-8 – Acção de raças
1,9-14 – Intercessão
1,15-20 – Expansão cristológica
1,21-23 – Anúncio dos temas a por serem desenvolvidos:
a) 21-22 – A obra de Cristo para a santificação dos fiéis
b) 23a  - Fidelidade ao Evangelho recebido
c) 23 b – e anunciado por Paulo
1,24-2,6 – O combate de Paulo pelo anúncio do Evangelho

IIº Parte
2,6-23 – Fidelidade ao Evangelho recebido:
a) 2,6-7 – Exortações iniciais gerais
b) 2,8 – Advertências à práticas de culto
c) 2,9-15 – Motivos cristológicos: Cristo e os fiéis com Ele
c) 2,16-19 – Retorno às advertências: resistir às doutrinas erradas
2,20-23 – Exortações conclusivas

IIIº Parte
3,1-4,1 – Santidade dos fiéis
3,1-4 Exortações gerais
a) 3,5-9  - Mortificar o homem terreno
b) 3,9b-11 – Motivações: despidos do homem velho e revestidos do homem novo
c) 3,12-17 – Viver a novidade em Cristo

3,18-4,1 – Exortações sobre a vida familiar e doméstica
4,2-6 – Exortação final
4,7-18 – Post-escrito. Benção

3. Teologia
É Cristológica, Eclesiológica e Escatológica.
a) Cristológica enquanto Cristo é o mediador da salvação de Deus a toda a criação (1,15). Mediante o seu sangue derramado reconciliou toda a criação com Deus. Cristo é a Cabeça do Corpo que é a Igreja (1,18.24), é também chefe das potências celestes (2,10). Ele comunica a todos os fiéis a plenitude da divindade.
b) Eclesiologica enquanto a Igreja é Corpo de Cristo sua Cabeça.
c) Escatológica enquanto os cristãos estão desde já no Reino do Filho amado (Cl 1,13). No baptismo são ressuscitados com Cristo (Cl 2,12; 3,1).

Ensinamento bíblico sobre a santidade

Ensinamento bíblico sobre a santidade A ideia da santidade não é exclusiva da Bíblia judeu-cristã mas, também se encontra em diversas c...